Meninas de 7 anos já se sentem pressionadas para serem bonitas
Pesquisa britânica mostra que apenas 61% das meninas entre 7 e 21 anos se sentem atualmente felizes com a própria aparência
Meninas com apenas 7 anos estão sendo levadas a sentir vergonha de sua aparência, sendo que 25% daquelas entre 7 e 10 anos dizem sentir pressão para terem um corpo “perfeito”.
Os dados fazem parte de uma pesquisa “devastadora” da organização britânica Girlguiding, que revelou que apenas 61% das meninas entre 7 e 21 anos se sentem atualmente felizes com a própria aparência, em comparação com uma parcela de 73% em 2011.
Mesmo na escola primária, as meninas já estão preocupadas com a imagem do corpo, com um terço das que têm entre 7 e 10 anos dizendo que as pessoas as levam a pensar que a coisa mais importante sobre elas é a aparência.
Ainda mais preocupante: cerca de 38% das meninas nessa faixa etária sentem que “não são bonitas o suficiente”.
O relatório sugere que a implacável exposição à mídia e imagens digitais que objetificam as mulheres, além do assédio nas ruas e abuso sexual on-line contribuem para o baixo nível de confiança das meninas.
A pesquisa, com mais de 1.600 garotas entre 7 e 21 anos, também revelou que quase 15% das que têm entre 7 e 10 anos se sentem envergonhadas em relação à própria aparência.
Cerca de 29% das meninas no grupo entre 7 e 8 anos e 41% das que têm entre 9 e 10 concordam que as mulheres são julgadas mais pela aparência do que por suas habilidades; infelizmente, não surpreende que mais da metade das que têm entre 7 e 10 anos (52%) sintam que “não são boas o suficiente”.
Mas garotas de todo o Reino Unido disseram à Girlguiding que a coisa mais importante que precisa mudar para melhorar suas vidas é o não julgamento das mulheres pela aparência.
Lyra, de 10 anos, do Sul de Londres, disse: “Acho que as meninas são mais julgadas pela aparência do que os meninos. Não acho que é justo que os homens sejam tratados de forma diferente das mulheres. Você tem de tratar todo mundo igual”.
Já Lienna, de 7 anos, acrescentou: “Um garoto na escola disse que eu tinha um bigode”.
E Francesca, de 9 anos, disse: “Passei com minha bicicleta perto de alguns adolescentes e eles disseram que eu era feia”.
Liddy Buswell, de 18 anos, ativista da Girlguiding e líder do grupo Brownie [de garotas de 7 a 10 anos], disse que está “chocada, mas não surpresa” pelos resultados da pesquisa.
“Como líder do ‘Brownie’, vivi essas experiências bem de perto. Vi meninas sem vontade de falar diante de grupos por causa da aparência; ouvi garotas dizendo que foram xingadas na escola e por isso não se sentiam confiantes em tentar novas atividades”, disse.
“Nenhuma menina deveria se preocupar com a aparência — ela deveria estar se divertindo e se curtindo. A pesquisa deste ano é uma condenável indicação de que algo precisa ser feito para atacar esse crescente problema.”
Nadia Mendoza, cofundadora da associação britânica Self Esteem Team, concordou que os resultados são “devastadores”, mas não inteiramente inesperados.
“Não é um problema novo. A saúde mental e a autoestima de nossos jovens têm escalado rumo a um estado crítico há muitos anos, como refletido no fato de que especialistas estimam que os quatro problemas mentais mais comuns enfrentados pelos adolescentes — ansiedade, depressão, distúrbios alimentares eautoflagelação — aumentaram em 600% na última década no Reino Unido”, Mendoza disse ao The Huffington Post UK.
“É importante reconhecer que este não é um problema só das meninas, e precisamos tentar melhorar a autoestima de todos os jovens”, acrescentou.
“Infelizmente, não há uma solução única para a construção da autoestima; é algo que requer um esforço cumulativo. Da mesma forma que a saúde física, não iríamos para a academia apenas uma vez esperando nos manter saudáveis pelo resto da vida; é algo que precisamos trabalhar diariamente ou semanalmente. Isso também é verdade para a saúde mental. É uma obra em andamento.”
O Self Esteem Team, que visita as escolas para promover workshops sobre saúde mental, acredita que que existam três áreas essenciais para melhorar a autoestima: pensamento crítico, hábitos saudáveis e conversa construtiva.
“Também valorizamos o ‘tempo para mim’, com um canal criativo para se expressar positivamente e, assim, reconhecer que sua autoestima não é determinada pelo número de curtidas em sua última selfie”, Mendoza explicou.
“Destacamos para nossos alunos a importância de elogios em coisas que eles valorizam; por exemplo, porque um amigo ofereceu um ombro amigo ou porque foram uma companhia divertida, em vez de porque têm tênis bacanas ou um cabelo bonito.”
Mendoza também dá um recado aos pais, para “estarem atentos à linguagem que usam em casa, por exemplo, se a mamãe não quer comer pão porque ‘me deixa gorda’; a criança pode e realmente absorve essas mensagens sobre a imagem do corpo”.
“Como pais, acho que precisamos estar cientes das potenciais questões e problemas pela frente e introduzir formas de reformulá-los, bem como encorajar a resiliência”, Ragoonanan disse ao HuffPost UK.
“Minha filha tem 4 anos. Ela me perguntou se era bonita. Eu disse que sim, mas que não era importante ser bonita. O importante é o tipo de pessoa que você é e como você trata os outros.”
Ragoonanan disse que se certifica de “elogiá-la por ser gentil, criativa, inteligente e responsável. Se eu a elogio pela aparência, são pelas escolhas criativas do que ela escolheu para se vestir (que eu muitas vezes compartilho no meu Instagram), e não por parecer bonita”.
Ragoonanan acredita que o relatório “destaca a importância de não deixar que estereótipos prejudiciais de gênero — que depositam um valor exagerado na aparência de uma garota — dominem suas vidas”.
Seus comentários vão de encontro à opinião de Sam Smethers, presidente da Fawcett Society, para quem o relatório da Girlguiding detalha o machismo enfrentado pelas mulheres ao longo de suas vidas.
“Mulheres e meninas são persistentemente julgadas por sua aparência. Esta pesquisa mostra que isso começa quando são jovens”, disse.
“Sabemos que 85% das mulheres jovens sofreram assédio na rua, 59% foram assediadas na escola e uma em cada quatro jovens se autoflagela. Elas apresentam taxas significativamente mais altas de depressão e problemas mentais do que os rapazes”, disse a especialista.
“Isso é sério. Como sociedade, precisamos enfrentar o fato de que a objetificação e o assédio estão arruinando as vidas das garotas e estamos deixando isso acontecer.”
Felizmente, a Girlguiding está dando passos positivos em direção à melhora da confiança corporal entre os jovens.
“As meninas nos disseram para que parássemos de julgá-las pela aparência. Todos os dias, durante a orientação, as garotas nos inspiram com sua bravura, senso de aventura e gentileza”, disse Becky Hewitt, diretora da Girlguiding.
“Estamos convocando a todos para que mostrem às garotas que são valorizadas por quem são — e não por sua aparência.”
Durante todo o mês de outubro, a Girlguiding está desafiando o público a pensar duas vezes sobre a maneira pela qual elogiam as meninas em suas vidas.
Estão pedindo para que todos nós digamos às mulheres o quanto elas são incríveis, sem fazer referência à sua aparência.
Se você conhece jovens que têm sido gentis ou que conquistaram algo pelo qual se esforçaram muito, compartilhe um post no Twitter, Facebook ou Instagram com as hashtags: @Girlguiding #YouAreAmazing #GirlsAttitudes.
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Esse conteúdo foi publicado originalmente no Huffington Post UK