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Monstros no Laboratório – Por que somos maus?

PARA O FILÓFO INGLÊS THOMAS HOBBES, NÃO EXISTIA ESSA DE BOM SELVAGEM - O HOMEM EM SEU ESTADO NATURAL VALIA POUCA COISA E SÓ SEGUIA AS REGRAS DA VIDA EM CIEDADE PARA NÃO DESAPARECER COMO ESPÉCIE. QUASE 5 SÉCULOS SE PASSARAM, E A CIÊNCIA AINDA NÃO CONCLUIU DE ONDE VEM TODA ESSA MALDADE.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h49 - Publicado em 31 Maio 2012, 22h00

Em 1971, a equipe do psicólogo social Philip Zimbardo tentou reproduzir nos porões da Universidade de Stanford uma prisão americana. Ao fim do experimento – que era para durar duas semanas, mas foi abortado em 6 dias -, o psicólogo concluiu: um sistema perverso mina a empatia, o altruísmo e a moral das pessoas, por mais que elas possam ser boas.

01. CIDADÃOS DE BEM
A equipe de Zimbardo divulgou um anúncio de jornal recrutando voluntários do sexo masculino para o estudo em troca de US$ 15 por diária (atuais US$ 80). De 70 candidatos, Zimbardo selecionou 24 rapazes de classe média que não apresentaram distúrbios psicológicos, antecedentes criminais nem problemas com drogas. Desses, 18 foram convocados.

02. VESTINDO O PERNAGEM
Um sorteio dividiu papéis entre guardas e presos. Policiais reais abordaram os 9 presos em suas casas. Com o corpo desinfetado e o cabelo raspado, receberam um uniforme e um número – ninguém mais tinha nome. Os 9 guardas ganharam cacetetes, óculos de sol espelhados (para esconder suas expressões) e a liberdade de fazer o que fosse necessário para manter a ordem.

03. MICROFÍSICA DO PODER
Os guardas foram instruídos a acordar os presos na primeira madrugada para realizar uma contagem. No começo, não sabiam como agir, mas logo tomaram gosto pelo poder. Bastou um dia para os presos se amotinarem e os guardas abusarem de castigos físicos e psicológicos. Privaram os encarcerados do banho, puniram os mais exaltados confinando-os em um armário e alimentaram um clima de desconfiança. Em menos de 36 horas de experimento, um dos presos teve crises de choro seguidas de acessos de raiva. Não houve alternativa senão libertá-lo.

04. O MÉDICO E O MONSTRO
Quando, no 5º dia, soube que os presos tramavam uma fuga, Zimbardo foi ao delegado de Palo Alto pedir a transferência de seus detentos para a cadeia de verdade. “Apenas muito mais tarde tomei consciência de que estava efetivamente pensando como um superintendente prisional e não como um investigador de psicologia”, diz o psicólogo.

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05. O FIM
Os pesquisadores viram em suas gravações que os guardas cometiam abusos mais sérios quando pensavam que não estavam sendo vigiados. Uma colega de Zimbardo que não participava da pesquisa viu a situação dos presos – com pés acorrentados e levados ao banho com sacos na cabeça – e ficou indignada. Philip Zimbardo então encerrou o estudo precocemente. Em reuniões de avaliação, os presos relataram traumas, enquanto os guardas disseram sentir falta do poder que exerciam.

Moral da história

ZIMBARDO COMPARA O EXPERIMENTO AOS ABUS COMETIDOS POR LDADOS AMERICANOS NA PRISÃO DE ABU GHRAIB, QUE VIERAM A PÚBLICO EM 2004. NA ÉPOCA, AS AUTORIDADES DOS EUA DEFENDERAM QUE O PROBLEMA NÃO ERA ESTRUTURAL, MAS APENAS ALGUMAS “MAÇÃS PODRES” QUE ESTRAGAVAM AS DEMAIS. JÁ ZIMBARDO AFIRMA QUE OS ABUSADORES PODIAM SER BOAS PESAS, MAS FORAM INFLUENCIADOS POR UM SISTEMA PERVER. O MESMO ACONTECE COM A COLABORAÇÃO SILENCIOSA DA POPULAÇÃO EM REGIMES POLÍTICOS AUTORITÁRIOS.

O divã da CIA
PSICÓLOGOS DA INTELIGÊNCIA AMERICANA FAZEM RELATÓRIOS À DISTÂNCIA BRE A PERNALIDADE DE LÍDERES ESTRANGEIROS.

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HITLER, O FRACO
A tradição da inteligência americana de pôr inimigos no divã vem de antes de ela se chamar CIA. O primeiro paciente do então Gabinete de Serviços Estratégicos foi Adolf Hitler, em 1942. O Führer teria sido um menino afeminado, com aversão a trabalhos manuais. Nos tempos de soldado, obedecia de forma “irritantemente submissa” às ordens de superiores e tinha pesadelos “muito sugestivos contra homossexuais”. Por fim, o genocídio que promoveu teria raízes no “ódio desesperado por sua própria submissão” na infância e na “humilhação de ter sido espancado pelo sádico pai”.

SADDAM, O REJEITADO
“Tudo remonta ao ventre de sua mãe. Quando estava grávida de Saddam Hussein, o marido morreu. Ela tentou cometer suicídio e também abortar o bebê. Depois casouse novamente, e o padrasto maltratava Hussein física e psicologicamente.” Quem explica as origens da maldade do ditador morto pelos EUA em 2006 é Jerrold Post, em entrevista ao jornal inglês The Guardian. Post é diretor do Programa de Psicologia Política da Universidade George Washington e atualmente é contratado da CIA para traçar perfis de tiranos e outros líderes mundiais.

KADAFI, O IMPREVISÍVEL
O líbio Muamar Kadafié a bola, ou melhor, o paciente da vez. Num texto escrito para a revista Foreign Policy, Jerrold Post revelou uma pequena parte de seu diagnóstico. Kadafié um homem geralmente racional e seguro, mas pode delirar em situações de pressão. O quanto isso orienta os próximos passos do presidente Barack Obama? Não se sabe exatamente, já que os especialistas afirmam que não podem prever ações isoladas, apenas traçar padrões de comportamento.

ASSIM QUIS A EVOLUÇÃO
NOS ANOS 70, A ANTROPÓLOGA JANE GOODALL ESTUDOU UM GRUPO DE CHIMPANZÉS QUE INVADIU TERRITÓRIOS ALHEIOS PARA MATAR OS MACHOS E COPULAR COM AS FÊMEAS. GOODALL CONCLUIU QUE O ATAQUE SERVIU PARA AUMENTAR SEU NÚMERO DE DESCENDENTES. O MESMO VALERIA PARA NÓS. EM O MACHO DEMONÍACO, O PRIMATOLOGISTA RICHARD WRANGHAM DEFENDE QUE A SELEÇÃO NATURAL FAVORECE QUEM ASSUME AVENTURAS DE ALTO RISCO – O QUE, EM ÚLTIMA INSTÂNCIA, INCLUI GUERRAS E GENOCÍDIOS. ORA, SE OS MAUS SAEM QUASE SEMPRE VENCEDORES, SEUS GENES (COMO O DE GÊNGIS KHAN, QUE TEVE 100 FILHOS) SÃO TRANSMITIDOS COM MAIS SUCES QUE OS DOS BONZINHOS.

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A CULPA É DA GENÉTICA
Nem todo vilão é um psicopata, mas todo psicopata é um vilão. E a ciência já sabe por quê. Desde o canalha manipulador do trabalho até o serial killer, os psicopatas compartilham duas características biológicas: um dano no córtex órbito-frontal, região cerebral associada a tomada de decisão e conduta ética, e o “gene guerreiro”, que deixa o cérebro insensível ao efeito calmante da serotonina. Ainda assim, o ambiente é importante. Só com um 3º ingrediente esse gene vai se manifestar: abuso grave na infância. Se ele tiver sido uma criança amada, será um adulto estourado, mas não um monstro.

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