O Brasil indiano
Fort Cochin, Kerala, Índia: 514 anos de uma ligação criada pelos navegadores portugueses e alimentada até hoje pela cultura brasileira
Pés de jaca sombreiam as ruas. O cheiro de caju se espalha no ar. As plantações de borracha se esticam rumo ao interior, com um ou outro elefante andando entre as seringueiras. Não fosse o paquiderme, poderíamos estar no Brasil. Mas isso é Kerala, Estado do sul da Índia que tem uma conexão com o País criada faz tempo, graças aos navegadores portugueses. A ligação é ainda mais evidente na localidade litorânea de Fort Cochin, onde Pedro Álvares Cabral foi recebido com honras pelos líderes locais em dezembro de 1500. Durante a estada, membros de sua esquadra plantaram sementes colhidas na Bahia. Por conta disso, hoje Kerala produz 90% da borracha indiana.
A influência fincou raízes na cultura. Estabelecimentos comerciais têm nomes portugueses, como as pousadas Linda e Casa Maria. O idioma local, malayalam, tem palavras como janela, cadeira e capela. Aliás, existem capelas e igrejas por todo lado. Na de São Francisco de Assis, onde Vasco da Gama foi enterrado, há um brasão do clube carioca homônimo.
O futebol goza de um carinho especial nesse canto do país do críquete. Campinhos de várzea são ocupados nos fins de semana. Quem joga muito bem é chamado de Pelé. Motoristas de autorriquixá, aquele característico meio de transporte de três rodas asiático, acompanham a carreira de Neymar. A torcida por ele é tanta que a população local se solidarizou com sua contusão na Copa. Em julho, o ministro da Saúde da Índia chegou a ser contatado por médicos de Kerala, que estudaram o caso para oferecer um tratamento de medicina ayurvédica ao jogador. Uma vértebra fraturada que deixa esses indianos ainda mais brasileiros.
QUANDO – De dezembro a fevereiro, com menos chuvas e menos calor. Ou de junho a agosto, quando as monções deixam a região mais verde.