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O buraco nosso de cada dia

O Brasil é um dos países mais férteis para a impune proliferação de buracos de rua. No ano passado, 479 mil deles foram tapados, e mesmo assim o problema continua.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h48 - Publicado em 31 jul 2003, 22h00

Leandro Narloch

O Brasil não tem terremotos, vulcões nem devastadoras pragas de gafanhotos, mas abriga uma peste que já deve ter tirado você do sério: buracos de rua. No ano passado, 479 mil seres dessa espécie foram tapados só em São Paulo. Mas não pense que isso significa que você está se livrando deles. O país é dos lugares mais férteis para a impune proliferação de buracos. E há vários motivos para isso.

O principal deles, segundo a pesquisadora Liedi Bernucci, coordenadora do Laboratório de Pavimentação da Universidade de São Paulo, é a escassa manutenção preventiva.“Quando começam a aparecer trincas no asfalto, ele precisa de um revestimento delgado para impermeabilizá-las”, afirma. Sem cuidados, as trincas servem de caminho para infiltrações da água da chuva, atingindo a base do revestimento. Quando a base se desloca, lá vem ele, o buraco de rua.

Tapar buracos não resolve. “O ideal é recapear as vias, mas poucos municípios têm dinheiro para sair da manutenção provisória”, diz o engenheiro Janos Bodi, da Prefeitura de São Paulo. A situação é parecida onde há muita demanda por asfalto e pouco dinheiro para mantê-lo, como no resto da América Latina, África e Leste Europeu.

Ou seja, o maior problema não é a qualidade do asfalto. Asfaltos piores podem ser usados numa boa em vias de pouco tráfego. Assim funciona no mundo todo, até nos Estados Unidos. O país é o que mais usa em suas estradas o concreto puro – disparado o melhor pavimento, que dura de 20 a 40 anos –, mas 85% dos seus 3 milhões de quilômetros pavimentados ainda são de asfalto igual ao brasileiro. O que faz a diferença é um conceito americano de manutenção preventiva ainda mais avançado, a gerência de pavimentos. “Desde 1992, o governo americano só financia a pavimentação em municípios que fazem manutenção e diagnósticos constantes do desempenho das vias”, afirma Bodi.

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Sem check up nem remédios, os caminhos asfaltados do Brasil também sofrem porque são raros. “As estradas acabam usadas por uma demanda para a qual não foram projetadas”, diz Liedi. A França, 15 vezes menor que o Brasil, tem quase seis vezes mais estradas pavimentadas.

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