O elevador do Brasil funciona
Pesquisa recente revela que cerca de 87% da população vem conquistando uma condição de vida melhor ou igual à de seus pais.
Antonio Neto
Uma pesquisa recente derrubou um velho mito: o de que o Brasil é um país onde não há espaço para a ascensão social. O trabalho, um dos mais completos sobre mobilidade e desigualdade no Brasil, de autoria dos sociólogos José Pastore e Nelson do Valle Silva, mostrou que a mobilidade social no país foi, durante o século 20, maior até mesmo que em alguns países da Europa. Enquanto na Alemanha e na Itália a mobilidade alcançou, em média, 53% das pessoas, no Brasil esse índice atingiu 58% até a década de 70, e passou para 63% nos últimos 30 anos. É bom lembrar que essa mobilidade de classe pode ser para cima ou para baixo. No caso do Brasil, a boa notícia é que, desde os anos 70, quase 87% da população conquistou uma condição de vida melhor ou igual à de seus pais, enquanto pouco mais de 13% perdeu posições nos estratos sociais.
Os sociólogos mostraram com sua pesquisa que é errônea a idéia de que a elite do país multiplica-se numa redoma impermeável. Na verdade, a mobilidade social é ainda maior nas classes mais altas. Segundo a pesquisa de José e Nelson, pelo menos 82% de quem está no topo da pirâmide social brasileira encontrava-se em níveis mais baixos da hierarquia e apenas 18% herda essa situação dos pais. Todos esses números parecem contraditórios quando se imagina o tamanho das desigualdades sociais no país. Pastore explica que esse problema está ligado às distâncias percorridas no deslocamento entre classes. “O volume de pessoas que se move é muito grande, mas a maioria sobe pouco e uma minoria sobe muito”, afirma.
Numa sociedade representada por uma pirâmide alta, de base larga e cume estreito, a relação entre a mobilidade intensa e a desigualdade persistente é explicada pelo crescimento demográfico elevado entre as famílias de classes baixas. Mesmo que a ascensão aos extratos imediatamente superiores seja intensa, o grande número de nascimentos torna lento o encolhimento das camadas mais pobres da população. Ou seja, o elevador social brasileiro funciona. O problema é que não cabe todo mundo nele.