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O fim das torcidas

A venda de grandes clubes de futebol está mudando o esporte - e acabando com as torcidas. Esse é o diagnóstico do jornalista francês Franck Berteau, autor de Le Dictionnaire des Supporters ("O dicionário das torcidas")

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 2 fev 2017, 17h06 - Publicado em 7 out 2014, 22h00

Vários clubes europeus foram vendidos nos últimos anos. Como isso está mudando o futebol?

Trata-se de uma evolução lógica. Na Europa, o futebol gera cada vez mais dinheiro em cima de transferências, patrocínios, merchandising, direitos de transmissão etc. Como resultado, atrai grandes corporações, para quem o futebol vira uma vitrine. Dessa forma, os clubes se tornaram empresas, dedicando-se mais à busca de novos clientes do que ao esporte e suas histórias humanas. O futebol está perdendo a autenticidade.

É uma tendência sem volta?

É mais do que uma tendência. É a evolução inevitável de um esporte que faz todos os dias novos adeptos, que apaixona milhões de pessoas no mundo. O sucesso nesse nível requer altos investimentos, ou seja, é difícil voltar atrás. A menos que se favoreça outros modelos, como os clubes cujos donos são os fãs, como o FC United, de Manchester, ou o AFC Wimbledon, ambos da Grã-Bretanha. Essas equipes, financeiramente, não podem jogar na primeira divisão, mas mantêm seu espírito original.

E como a mercantilização do futebol afeta os torcedores?

Os fãs estão virando clientes. E o jogo de futebol está se tornando um show muito mais do que um esporte, um espetáculo controlado pelos clubes e não mais por fãs apaixonados. O preço do ingresso aumenta e expulsa o público mais popular, que está na origem das torcidas. Os clubes estão controlando até o apoio ao time, como já ocorre na NBA. O espetáculo não ficará mais a cargo de uma torcida apaixonada, será orientado pelos próprios clubes.

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A violência nos estádios tem a ver com essa mudança?

São fenômenos distintos. A violência sempre existiu em torno do jogo de futebol porque ele envolve rivalidade, delimitação de território e é um evento catártico para jovens mais truculentos. Mas essas empresas que querem desfrutar de uma imagem positiva do esporte fazem de tudo para que esses excessos desapareçam e pressionam pela expulsão dos estádios daqueles que promovem brigas, como fez o Paris Saint-Germain depois da morte de um torcedor, em 2010, no Parc des Princes. A principal ação foi acabar com o bilhete que dá direito a ir a todos os jogos da temporada nas arquibancadas populares (atrás dos gols) e fazer um ingresso que concede lugares aleatórios em cada partida para evitar que os torcedores se reúnam. As medidas eram necessárias e atingiram o seu objetivo: pacificar o estádio. Mas, tendo como alvo todos os fãs, violentos ou não, também tiveram um efeito perverso: fizeram a atmosfera do estádio perder intensidade.

A alma do futebol está a perigo?

As torcidas organizadas e mais expansivas têm dificuldades em encontrar o seu lugar no futebol moderno. Mesmo que existam várias maneiras de amar um clube de futebol, são esses fãs que garantem uma identidade, uma alma, que é ameaçada por políticas repressivas, por vezes, mal implementadas. Há uma hipocrisia, na França, em relação a isso. Os clubes querem o fervor das torcidas, mas não param de reprimir, sem distinção, seus fãs. O bom exemplo é a Alemanha, que pune severamente quem fomenta a violência, mas as autoridades não perseguem os fãs em geral.

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