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Os artistas da 1a. Guerra Mundial

Eles foram pintores, poetas, escultores - e participaram do maior conflito armado da Europa até então. Conheça suas histórias.

Por Maria Fernanda Vomero
6 fev 2018, 17h32

Fevereiro de 1916. Enquanto o mundo assistia à escalada de um conflito bélico cada vez mais violento, um grupo de jovens artistas e escritores se juntava em Zurique para inaugurar um cabaré. Voltaire, esse era o nome do estabelecimento, um lugar em permanente ebulição criativa nos fundos de uma popular taverna da cidade. Digamos que tenha sido uma resposta, uma reação à insanidade que os cercava. Surgia assim o Dadaísmo, um movimento radical de expressões intencionalmente anárquicas e contestadoras.

O poeta e escritor alemão Hugo Ball foi um dos mentores do Zurique Dadá, como ficou conhecido o grupo. Ele e seus companheiros – os poetas Richard Huelsenbeck e Tristan Tzara, a performer Emmy Hennings, o escultor Hans Arp e o artista visual Marcel Janco – repudiavam toda e qualquer justificativa para a guerra. Não por acaso, decidiram se estabelecer em um país declaradamente neutro: a Suíça.

Acontece que nem todos os colegas de profissão dos sujeitos conseguiram escapar do front. Ao contrário. Um número expressivo de artistas e escritores daquele período acabou tomando parte no conflito. Se não foram convocados, alistaram-se voluntariamente. Muitos sobreviveram às trincheiras, a exemplo do compositor Joseph-Maurice Ravel, do violinista Fritz Kreisler e do pianista Paul Wittgenstein (que teve o braço direito amputado). Entre os que morreram na guerra, estão dois talentosos pintores do grupo O Cavaleiro Azul, de inspiração expressionista: August Macke e Franz Marc; também o escultor Umberto Boccioni (pisoteado por seu cavalo durante um treinamento militar); e os poetas Edward Thomas e Isaac Rosenberg.

Estiveram na Primeira Guerra, ainda, o pintor Georges Braque, que ajudou a fundar o Cubismo, e o crítico de arte Guillaume Apollinaire – acusado injustamente, alguns anos antes, de ter roubado a Mona Lisa do Museu do Louvre. Amigos do pintor espanhol Pablo Picasso, os dois participavam do famoso grupo de artistas boêmios da Paris do início do século 20. Ambos saíram gravemente feridos do conflito. Braque chegou a ficar temporariamente cego, tendo mais tarde recuperado a visão e voltado a pintar. Apollinaire, fragilizado pelos ferimentos, acabou morrendo em decorrência da gripe espanhola, cuja pandemia se espalhou pela Europa em 1918 (leia mais na pág. 19).

Camuflagem

Vários artistas também foram comissionados por governos e autoridades para retratar, por meio de pinturas, desenhos e cartuns, o que acontecia nas frentes de batalha. O aquarelista e gravurista Muirhead Bone foi o primeiro contratado pelo Escritório de Publicidade de Guerra da Grã-Bretanha, criado em 1914, como resposta à agência de propaganda alemã, e logo enviado à França. Em seis semanas, ele produziu mais de 150 desenhos ultrarrealistas, grande parte deles registrando a gradual destruição que se espalhava pelo território francês. Assim como Bone, outros desenhistas e pintores de diversas nacionalidades acompanharam de perto os confrontos – vários até de forma espontânea, como voluntários – e de lá trouxeram obras que se tornaram verdadeiros testemunhos da experiência nas frentes de batalha.

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Houve também aqueles que colocaram suas habilidades artísticas a serviço das táticas de guerra, participando do serviço de camuflagem e produzindo materiais militares com padrões e cores que enganavam o adversário. O primeiro grupo dedicado a esse serviço foi formado na França em fevereiro de 1915. O pintor André Mare se destacou na atividade, ao disfarçar peças de artilharia usando técnicas cubistas (sobreposição de cores e formas), a fim de que parecessem integradas à paisagem, como comprova um dos trabalhos de seu caderno de esboços, chamado O Canhão de 280 mm Camuflado.

Outro célebre “camuflador” foi o pintor e ilustrador Norman Wilkinson. Voluntário das forças de reserva da Marinha Real britânica, ele contribuiu para o desenvolvimento de um padrão diferenciado de camuflagem naval, baseado em blocos de cores contrastantes, formas geométricas e linhas angulares. Sua proposta era distorcer o contorno das embarcações de modo que elas se confundissem com o próprio entorno marítimo. Wilkinson partiu do pressuposto de que seria impossível obter invisibilidade total no mar. Por isso, para ludibriar o agressor, a melhor tática seria enganá-lo quanto ao tamanho, simetria, volume e curso do navio. Se a “camuflagem deslumbrante” inventada pelo artista era realmente eficaz, isso jamais ficou provado. Até o fim do guerra, porém, foi usada em mais de 2 mil navios aliados – e o número de embarcações abatidas pelos alemães até diminuiu.

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