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Os tecidos sintéticos

A partir do estudo das grandes moléculas nasceu nylon, primeira das fibras sintéticas. Mais resistente do que os tecidos naturais, hoje elas vestem até os astronautas

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 22 nov 2018, 16h06 - Publicado em 29 fev 1988, 22h00

Um xarope e espesso, formado por longos fios lustrosos e elásticos, como os da seda e celulose, que se solidifica com algo esfriar. Essa era a aparência da primeira fibra sintética, produzida no início da década de 30 nos laboratórios da Du Pont de Nemours, um dos gigantes da indústria química dos Estados Unidos, com sede em Dalaware. A fibra não era grande coisa do ponto de vista comercial, pois logo quebrava e se solidificado as temperaturas mais baixas. Mais foi o ponto de partida para milhares de combinações químicas que produziram outras tantas amostras de fios até se chegar àquela de maior aplicação prática: o nylon.

Em 1937, a Du pont selecionou o nylon para a fabricação em larga escala. A partir de então, o fio invisível, resistente e durável e desencadeou uma revolução. Das meias à lingerie, passando pelas capas, blusas e pijamas, o nylon passou a ser sinônimo de moda feminina. E não só de moda. Tornou-se presença obrigatória nas escovas de dente, linha de pesca, pára-quedas, tapetes e suturas cirúrgicas.

Os tecidos sintéticos são descendentes diretos do plástico, substância descoberta em 1875 pelo químico alemão Adolf Von Bayer (1835-1917), que podia ser moldada quando aquecida, mais ao esfriar tornava-se dura. Este primeiro plástico era quebradiço e difícil de ser trabalhado. Mas no início do século XX, quando os químicos determinaram a estrutura molecular de cada plástico, estes passarão a ser sintetizados segundo as especificações das indústrias.”

Descobriu-se que eram constituídos por moléculas gigantes ou polímeros (do grego polys – muitos, e meros – partículas), que no estágio final de sua formação em se pareciam a longas cadeias de pequenas moléculas, como se fossem colares de clipes. Dois líderes da indústria química – na Europa e nos Estados Unidos – apostaram na pesquisa dos polímeros. Em 1927,a I.G. Farben, na Alemanha, contratou um grupo de 27 cientistas que aprenderam tanto sobre a estrutura das moléculas que se deram ao luxo de planejar cada passo do processo de descoberta de novos plásticos, como o poliestireno. Um ano depois, a Du Pont de Nemours contratou como chefe de seu laboratório Wallace Hume Carothers, um jovem professor de Química Orgânica da universidade Harvard.

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Carothers, na época com 32 anos, era conhecido nos meios científicos americanos por suas investigações sobre as ligações químicas das moléculas orgânicas. E foi com base em seus conhecimentos que ele percebeu que aqueles fios de xarope produzidos em 1933 no laboratório por um de seus colaboradores, Julian Hill, eram, na verdade, as moléculas esticadas de polímeros, que formavam longo fios paralelos semelhantes a fibras naturais, como a da seda e a celulose. Embora a fibra não tivesse tido sucesso comercial, Carothers diria numa conferência científica que “pela primeira vez que existe a possibilidade de obter fibras úteis e partir de materiais sintéticos”.

Nos quatro anos seguintes, o laboratório de Carothers ensaiou milhares de combinações químicas e no meio do caminho para a produção do nylon ainda conseguiu criar o neopreno – uma das mais úteis borrachas sintéticas. Mas foi só em 1934 que a reação de duas substâncias de nomes complicados – hexametilenodamina e ácido adípico – produziu o nylon. Até então, a Du Pont havia investido a quantia de 20 milhões de dólares (uma bolada respeitável para a época) nas pesquisas. Três anos e mais alguns milhões de dólares depois, a fibra estava pronta para entrar no mercado. Resiste ao calor, secava rapidamente, não amarrotava ou mofava e podia ser submetida a constantes lavagens sem se alterar. É o substituto ideal – e popular – para o requinte da seda.

A troca da universidade pela indústria resultou num bom negócio para Carothers. Mas ele não pôde aproveitá-lo. Vítima de depressão nervosa, suicidou-se em 1937, dois dias depois de completar 41 anos de idade. Sua descoberta, porém, prosperou mais do que ele imaginou. A Du Pont se encarregou de torná-la popular até no nome. Foi instituído um concurso e, a partir das sugestões do público, inventou se a palavra nylon, considerada simples, fácil de lembrar e de som agradável. Em 1939, nylon estourou – nas pernas das mulheres.

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Tudo começou em Wilmington, sede da Du Pont no Estado de Delaware. Cautelosamente, apenas para testar o mercado, a fábrica passou a vender as primeiras meias exclusivamente nas lojas locais. Depois de certo tempo, Wilmington parecia um centro turístico. A cidade se encheu de visitantes, os hotéis lotaram – todo mundo queria comprar as novas meias. Não foi preciso mais cautela: sete meses depois, as meias de nylon eram mercadoria comum em todos os erros magazines dos Estados Unidos. O apetite das mulheres americanas pela novidade pôde ser satisfeito até 1941, quando o ataque japonês a Pearl Harbor empurrou os Estados Unidos para a segunda guerra mundial. O nylon foi usado então para a produção de pára-quedas, suturas cirúrgicas e mortalhas.

Mas o intervalo da guerra não diminuiu o entusiasmo das consumidoras. Quando em 1946 uma loja da Filadélfia voltou a vender as meias, foi preciso ao filho de cinqüenta robustos guardas para conter os arroubos das freguesas. Na Europa do fim da guerra, as meias desembarcaram junto com os chicletes e chocolates dos soldados americanos. Imediatamente tornaram-se mercadoria valorizada no mercado negro para depois fazer parte obrigatória da moda – especialmente na década de 60, quando a minissaia de Mary Quant valorizou ainda mais as pernas bem torneadas.

O pós-guerra foi o início da era do nylon. A Du Pont não deu mais conta do mercado. À medida que mais aplicações das fibras sintéticas se tornaram conhecidas, as fábricas foram se espalhando pelo mundo. Misturou- se o fio a outras fibras até se conseguirem novos tecidos. O jersey de nylon tornou-se obrigatório nas lingeries. A fibra de vidro passou a ser usada em buclês e tecidos transparentes e a fibra acrílica substituiu a lã . Na década de 50, a indústria inglesa Imperial Chemicals produziu o poliéster, chamado de terilene e também tergal – nome que lhe deu a indústria francesa Rhodia, que o popularizou como tecido que não amassa. O poliéster tornou-se uma das fibras sintéticas mais utilizadas em vestuário. A mais não reinou sozinho durante muito tempo. No início da década de 60, a Du Pont criou o elastano, batizado de lycra, para substituir a o lastex, feito de borracha, nos trajes de banho, cintas femininas e elásticos. A lycra também se misturou aos outros tecidos, para que as peças de roupa se moldassem melhor ao corpo.

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Cinqüenta e um anos após a sua entrada no mercado, o nylon continua popular. Atualmente, 4 bilhões de quilos de fios são produzidos em todo o mundo. Esta produção dificilmente será ameaçada. Afinal, apenas 2 por cento de petróleo extraído no mundo veste toda a população da Terra. E nesse caso está valendo o velho ditado que diz que o céu é o limite – literalmente. No final da década de 60, as fibras sintéticas invadiram o espaço. A Du Pont criou o nomex, tecido mais resistente ao calor e, por isso mesmo, utilizado nos uniformes da Força Aérea de todo o mundo, inclusive do Brasil. Por último, surgiu o kevlar tornou-se o tecido dos astronautas.

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