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Por dentro dos furacões da PF

De bicheiros a juízes corruptos, nenhum criminoso está a salvo das operações da polícia federal

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h54 - Publicado em 12 mar 2011, 22h00

Texto Elida Oliveira

Desde 2003, quando a Polícia Federal foi reestruturada para fazer investigações mais intensas, seus agentes participaram de 785 operações. Prenderam empresários e juízes ligados a máfias, derrubaram esquemas de tráfico de drogas, furto, roubo, corrupção, contrabando e deixaram famosos nomes curiosos, como Biqueira, Cinquentinha, Galáticos, Hurricane e Satiagraha, com os quais nomeiam suas operações. Até mesmo o serviço secreto ligado à Presidência, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), não faz nada sem a ajuda dos federais. O sucesso de tantas operações e a confiança que elas conquistaram no Brasil são resultado de um método que pode ser resumido assim: no início, silêncio total. Depois, muito barulho.

Análise
Em quase todos os casos, a investigação começa por um destes 3 caminhos:

Denúncia ou delação
Uma pessoa sabe de um crime e conta para a polícia ou Ministério Público. Pode ser uma testemunha ou alguém envolvido no esquema, que decide revelar tudo em troca de imunidade. Exemplo: um funcionário de uma construtora foi demitido. Sabia que havia uma operação de cartel. Procura o Ministério Público e faz a denúncia. Embasa a acusação apresentando relatórios, agendas e até gravações de conversas entre ele e o presidente ou diretor da empresa. (Gravar conversas sem autorização é crime, mas, se quem gravou estava envolvido na conversa, não.)

Padrões suspeitos
Investigadores percebem que algo está errado. Quando um grupo de empresas cobra preços altos e parecidos, eis um indício de formação de cartel. Um juiz torna-se suspeito de suborno se emite em série a reabertura de bingos. Compras do governo com preços muito acima do mercado dão a mensagem: olha o superfaturamento aí, gente!

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Informações cruzadas
É comum um suspeito, ao ter a casa ocupada pela PF, entregar provas de um outro crime, não exatamente aquele que motivou a operação em curso. Uma investigação acaba assim dando origem a outras. É o caso, por exemplo, da empresa suspeita de remessa ilegal de dólares que monta seu esquema com um doleiro. Nas agendas desse doleiro, os policiais descobrem contatos de outras empresas e até políticos.

Batismo
Se os agentes decidirem que vale a pena destacar um grupo para investigar um possível crime, a operação ganha um nome, o que ajuda a dar publicidade ao caso na imprensa. Criado geralmente pelos próprios delegados envolvidos, o nome tem uma ligação lateral com o caso, como na tabela a seguir:

Nome – Castelo de Areia (2009)
Operação – Crimes financeiros e lavagem de dinheiro na empreiteira Camargo Correa.

Nome – Lactose (2008)
Operação – Grupos que adulteravam leite em pó integral, falsificavam notas fiscais e subornavam funcionários públicos.

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Nome – Vampiro (2004)
Operação – Fraude em licitações de hemoderivados.

Nome – Hurricane (2007)
Operação – Para conseguir prender bicheiros riquíssimos e até mesmo juízes, a operação tinha de ser desvastadora como um furacão – “hurricane” em inglês.

Nome – Sanguessuga (2006)
Operação – Superfaturamento na compra de ambulâncias com dinheiro público.

Busca na rede

Dá um Google
O bom e velho Google é ferramenta de busca até mesmo para os policiais federais, durante o começo da investigação. Fuçando notícias e mensagens no Facebook, no Orkut, em jornais e revistas, eles conseguem descobrir laços de amizade e até mesmo provas. Por exemplo: se o presidente de uma empresa diz aos jornais que firmou um acordo de mercado com suas concorrentes e se comprometeu a vender somente em uma região, acaba de admitir que participa de um cartel.

Internet para poucos
O próximo passo é a busca mais fina pela internet. Polícias de outros países chegam a contratar hackers para pescar informações na rede. No Brasil isso é ilegal, mas, em alguns sites de lojas virtuais, é possível descobrir o número de RG e CPF dos alvos. Com autorização da Justiça, a PF solicita às companhias a quebra do sigilo telefônico, o histórico de ligações feitas e recebidas e o local de origem das chamadas.

Siga o dinheiro
Caso os policiais precisem de dados bancários, o Banco Central, com ordem judicial, informa compras e os hábitos de quem está sob investigação. Se o objetivo for levantar endereços, quem ajuda são as empresas de água e luz, além do Detran: com a placa do carro, é possível obter, em minutos, o endereço e nome do proprietário.

Investigação de campo

Infiltrados
Chega a hora do trabalho de campo. Os agentes infiltram-se em lugares que o investigado costuma frequentar, como restaurantes, bares e cinemas. Com uma técnica especial de observação, memorização e descrição, observam fatos em detalhes, memorizam cenas, rostos, endereços, números para descrevê-los em relatórios.

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Vigilância

Como detetives particulares, os policiais vigiam e seguem os suspeitos. O carro ideal para isso é um popular, com vidros escuros e placa e lataria sujas para dificultar a identificação. Carros com casais também dão menos bandeira. Alguns policiais carregam um acessório emergencial: um penico.

Olho no lixo
Se há oportunidade, alguns investigadores usam a velha técnica de roubar o lixo do investigado: pode haver ali bilhetes, anotações, tabelas e números de telefones muito úteis.

Hora do show
A parte decisiva da investigação é a coleta de provas. É com base nelas que o juiz, geralmente da Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça, vai decidir se deve emitir ordens de prisão ou de apreensão de documentos do investigado.

Todo ouvidos
Um modo comum de obter provas é com escutas. As telefônicas são realizadas pelas operadoras, por ordem da Justiça. A PF também usa microfones para montar escutas ambientais, além de modernos aparelhos de escuta à distância para gravar conversas que ocorrem em salas ou apartamentos vizinhos.

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Ocupação
Se a Justiça autorizar, técnicos da PF e do Ministério Público entram no escritório dos investigados e confiscam documentos, relatórios, atas de reuniões. Se for preciso entrar em mais de um local, tudo é feito ao mesmo tempo. A operação Hurricane, de 2007, recolheu em dezenas de casas 2 toneladas de documentos, 19 armas e mais de 50 carros de luxo.

Backup
No dia das buscas e apreensões, especialistas em informática copiam dados dos computadores dos suspeitos para um laptop da Polícia e, depois, lacram as máquinas investigadas para não haver suspeita de que as provas tenham sido plantadas.

Mutirão
Nesta fase, centenas de outros policiais entram em cena. Na Operação Hurricane, que investigou a máfia dos caça-níqueis, foram 400 agentes; na Têmis, que cercou advogados e juízes que beneficiavam donos de caça-níqueis, 300 policiais cumpriram 70 mandatos. Nem os policiais sabem qual operação estão executando: só descobrem minutos antes de agir – e, horas depois, pela televisão e jornais de todo o País.

FONTES: profissionais da Agência Brasileira de Inteligência, da Polícia Rodoviária Federal e da Polícia Federal que não quiseram se identificar; Priscila Brandão, coordenadora do Centro de Estudos de Inteligência Governamental (UFMG); Alexandre Freire, analista em Segurança da Informação; agente particular Eugenio Neto, da Federação Brasileira de Investigação.

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