Qual é a origem da superstição da sexta-feira treze?
Não começou no Jason: tanto as sextas quanto o número treze têm um longo histórico de mau agouro no cristianismo e em outras crenças.
Bruxas, espíritos do mal, assassinos em série, pragas bíblicas e forças do além parecem ter todos uma coisa em comum: uma reunião garantida todas as vezes em que as doze badaladas anunciam uma sexta-feira 13. De onde, afinal, veio essa crendice?
A associação entre a sexta-feira 13 e o ocultismo é relativamente recente: emergiu no século 19. O pesquisador Steve Roud conta no livro The Penguin Guide to the Superstitions of Britain and Ireland que a combinação do dia mais feliz da semana com esse número cabalístico é uma invenção da Inglaterra vitoriana.
Antes disso, a aversão ao treze já existia, bem como a ideia de que a má sorte está associada às sextas-feiras (algo que arrefeceu, naturalmente, quando ela ganhou o significado atual de boas-vindas ao final de semana).
Essas superstições, porém, possuiam cada uma suas próprias narrativas mitológicas e históricas, e elas não costumavam andar de mãos dadas.
O treze carrega um peso considerável em várias culturas, religiosidades e mitos. Por exemplo, a mitologia nórdica conta a história de um banquete com doze deuses quando um décimo terceiro convidado indesejado apareceu — Loki, o deus da trapaça.
Loki causou a morte de Balder, o deus da alegria, o que trouxe escuridão e tristeza ao mundo, sugerindo que a presença de treze convidados poderia ter um tom de má sorte. Te lembra alguma coisa? Pois é: na Santa Ceia, Jesus e seus apóstolos eram doze, até que Judas, seu traidor, chegou por último, fechando o grupo no temido treze.
São doze apóstolos, doze deuses do Olimpo, doze animais no horóscopo chinês e doze meses no calendário gregoriano. Já o treze é primo (divisível apenas por um e por si mesmo) e ímpar. Na numerologia, ele é visto como um sinal de desordem e infortúnio.
Suas propriedades matemáticas ogras contrastam brutalmente com a divisibilidade do doze por seis, quatro, três e dois – uma propriedade que o torna útil a ponto de várias civilizações antigas, como os Babilônios, terem adotado sistemas de contagem de base doze. Até hoje contamos ovos, horas e ângulos à moda mesopotâmica.
Já o protagonismo do sextou macabro se deve grandemente à Bíblia. Foi em uma sexta que Jesus foi morto, que Adão e Eva comeram o fruto proibido, que Caim assassinou Abel, que o Templo de Salomão caiu e que a Arca de Noé flutuou nas águas do Grande Dilúvio.
Legal: sabemos qual é o problema com trezes e com sextas. Mas quem teve a ideia de juntá-los?
Há quem diga que a origem é francesa e medieval. Ao que parece, no início do século 14, o rei Filipe IV da França, afundado em dívidas e temendo o crescente poder dos cavaleiros templários, decidiu agir de forma drástica.
Filipe IV teria ordenado a prisão dos templários e o confiscado de seus bens em 13 de outubro de 1307, acusando-os de heresia, idolatria e uma série de outros crimes, marcando o início de um episódio sombrio na história medieval. E adivinha só: a data teria caído em uma sexta.
Na prática, um dos principais responsáveis por consolidar a superstição nos calendários modernos foi Thomas W. Lawson, autor do romance Sexta-Feira Treze.
O livro, que narra a história de um corretor de Wall Street que manipula o mercado para se vingar de seus inimigos, ajudou a popularizar a ideia de que essa data é especialmente azarada.
A fama de Lawson em relação às sextas não se limitou à ficção. A lenda diz que, meses após o lançamento do romance, um grande veleiro que ele mesmo havia mandado construir afundou em um acidente.
Embora o naufrágio tenha ocorrido nas primeiras horas do sábado, dia 14, em Boston – onde Lawson morava – ainda era sexta-feira 13 quando o acidente aconteceu. O veleiro, o maior de sua época sem propulsão mecânica, transportava cerca de 60 mil barris de óleo leve, e o vazamento resultante foi considerado um dos primeiros grandes desastres ecológicos.
O professor Thiago Saltarelli, de Linguística Histórica e Literatura Medieval, explicou à Rádio Itatiaia que esse pavor tem até nome: parascavedecatriafobia. Esse palavrão tem origem grega, formado por três palavras, parascave (sexta-feira); deca (dez) e tria (três).
Nem sempre foi assim
O nome Friday (sexta-feira em inglês) significa “dia de Frigg”. Frigg era rainha de Asgard e uma poderosa deusa da mitologia nórdica. Ela estava vinculada ao amor, ao casamento e à maternidade, aspectos altamente valorizados nas sociedades pagãs germânicas.
O número 13 também possuía conotações positivas em outras culturas pré-cristãs politeístas, devido à sua relação com os ciclos lunares e menstruais que ocorrem ao longo de um ano. Era visto como um símbolo de abundância e renovação, refletindo a importância que a fertilidade tinha para esses povos.
Foi só com a ascensão do cristianismo e o começo da Idade Média que os aspectos originalmente positivos associados à sexta-feira e ao número treze entraram em conflito com a nova fé patriarcal. Os cristãos que tomaram o poder no Império Romano já decadente se opuseram ao culto de múltiplos deuses e deusas.
Junte tudo isso a um filme sobre um serial killer que usa máscara de hockey e mata adolescentes com um facão e fica fácil entender a má fama da data. Jason e sua franquia foram a cereja do bolo do quadradinho de calendário mais temido no Ocidente.
Porém, acredite se quiser, esse folclore não é o mesmo para todo mundo. No calendário chinês, existem dias que são considerados azarentos, mas nenhum deles é uma sexta-feira treze. Em alguns países que falam grego e espanhol, a data do “coisa ruim” é terça-feira 13. E na Itália, por fim, é melhor não sextar quando a data cai em um dia 17.