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Quase 20% dos alunos do ensino público não querem ter um colega homossexual

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Atualizado em 31 out 2016, 19h06 - Publicado em 16 fev 2016, 16h20

Um em cada cinco estudantes do ensino público brasileiro declara abertamente não querer ter um colega homossexual em sua classe escolar. Essa é uma das conclusões da pesquisa Juventudes na Escola, Sentidos e Buscas: Por que frequentam?, divulgada em novembro do ano passado e que procurou, entre outros temas, traçar os preconceitos mais comuns entre alunos.

O estudo foi feito pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso-Brasil), Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação a Ciência e a Cultura (OEI), e do Ministério da Educação. Nele, 19,3% dos estudantes disseram que não queriam ter um colega na escola que fosse homossexual, travesti, transexual ou transgênero.

“A homofobia é um dos principais tipos de preconceitos nas escolas. Homossexuais, transexuais, transgêneros e travestis são indicados como pessoas que não se queria ter como colega de classe por 19,3% dos alunos, sendo os jovens do EM (Ensino Médio) os que mais se rejeitam essas pessoas”, diz trecho do levantamento.

Ainda de acordo com a pesquisa, a rejeição é maior entre os meninos, com 31,3% deles afirmando não quererem ter um colega homossexual – entre as meninas o índice ficou em 8%. Elas, por outro lado, possuem maior rejeição contra “os bagunceiros, os puxa-saco dos professores e os egressos de unidades prisionais”.

Em entrevista ao UOL, a coordenadora da pesquisa, Miriam Abramovay, disse ter ficado impressionada com a contundência no que tange a homofobia no ambiente escolar do País. “O que percebemos é que esse número é tão alto quanto na primeira pesquisa, Juventude e Sexualidade (de 2004)”, avaliou ela.

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O preconceito contra colegas homossexuais e também contra egressos de unidades prisionais mostra, de acordo com Miriam Abramovay, que a escola não está conseguindo tratar de certos temas. “Muitas vezes a escola nem fica sabendo, eles nem se queixam, não têm onde se queixar. E todas essas questões prejudicam aprendizagem, prejudicam os alunos”.

No que diz respeito a temas como drogas, pena de morte e maioridade penal, a socióloga afirma que os dados apresentam um cenário em que os meninos são muito mais conservadores do que as meninas.

Depoimentos

Ao longo da pesquisa, exemplos são apresentados para dar embasamento dos números. Um deles envolve o relato de um estudante homossexual, que estuda em Cuiabá (MT), o qual descreve “o sofrimento com a existência de preconceito por parte dos colegas”.

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“Vejo muita gente que às vezes me exclui por eu ser homossexual. Meus amigos mesmo. Tem locais que eu entro, locais públicos, você está lá com seus amigos. Tem uma amiga minha que se veste como um homem. Então a partir do momento que a gente coloca um pé lá, todo mundo olha diferente. Todo mundo mostra, dão um gesto que não estão se agradando. Eu sei lá. É coisa que dói bastante. Quem é homossexual sente tudo isso. A gente sente, a gente vê. A gente tenta disfarçar mas não consegue”.

Outro ponto destacado pela pesquisa é que “alinhamento religioso e moralismo” influem no comportamento e discussões entre os estudantes no ambiente escolar. Para os pesquisadores, as escolas poderiam capitalizar em cima dessas discussões, as quais muitas vezes expõem preconceitos até mesmo entre aqueles alunos que declaram respeitar os colegas homossexuais.

“Fui com minha irmã na faculdade dela resolver uns assuntos. Aí chegando lá a maioria dos amigos da classe eram homossexuais e mesmo, mas eles tinham comportamentos normais de homens, se vestiam como homens, mas tinha as relações deles a parte. Quando ele levanta uma bandeira gay acho que isso é o cúmulo do mundo em dizer ‘ah eu sou gay’, tá com uma bandeira na praia ‘porque eu sou gay’. É não levanto uma bandeira pra dizer eu sou hétero. O que é não tem dúvida”.

A falta de discussão também atinge temas como o racismo e as cotas, de acordo com o estudo.

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