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“Quero hackear a política”

Não faz sentido escolher um desconhecido a cada dois anos e delegar a ele o poder de decidir sobre a sua vida. Chegou a hora de participar da política o tempo todo.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h51 - Publicado em 8 fev 2015, 22h00

Karin Hueck

Por que você resolveu fundar um partido?

Sinto que o sistema político está completamente dessintonizado com os nossos tempos. Nós estamos acostumados a nos organizar de forma colaborativa, peer-to-peer, sem intermediários, e com a possibilidade de nos expressar sobre qualquer assunto a qualquer hora. A política é o contrário disso. O sistema político se modifica em um ritmo glacial – não mudou nem um pouco nos últimos 200 anos. Isso obviamente traz problemas: faz com que as pessoas se sintam apáticas e sem vontade de participar. Queria mudar isso.

Qual é a ideia do seu partido?

O Partido de la Red nasceu há dois anos em Buenos Aires. Somos um partido local, algo que é permitido na Argentina e é bem mais fácil de ser fundado do que aqui no Brasil. Entendemos que, se quiséssemos conversar sobre a política que queremos ter, teríamos que fazer parte do sistema para entender como ele funciona. É um pouco parecido com a maneira como hackers trabalham. Temos um software chamado DemocracyOS [no qual as pessoas podem votar pelos seus telefones nos projetos de leis que estão sendo discutidos no Congresso], e decidimos que os candidatos do nosso partido vão sempre votar de acordo com o que os cidadãos decidirem. É uma maneira de aumentar a participação política, e não restringi-la a uma vez a cada dois anos.

Não é complicado deixar todo mundo palpitar em todas as questões? Minorias não podem ser atropeladas?

Nossa proposta não é a democracia direta. Nossa proposta é um complemento ao que já existe, e funciona apenas no Poder Legislativo, onde é necessária uma maioria para que as propostas sejam aprovadas. É no Congresso que as discussões são feitas, e é aí que queremos abrir um espaço novo. Não estamos dizendo que queremos uma democracia direta – definitivamente não – e não dizemos que decisões executivas deveriam sempre ser referendadas com os eleitores, assim como não queremos passar por cima do Judiciário. Queremos apenas abrir um espaço no Congresso.

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Isso quer dizer que vocês não têm uma agenda própria?

Não, temos uma agenda positiva que quer envolver os cidadãos na política. Defendemos um acesso maior às informações, queremos diminuir o gap digital e discutir a transparência do governo. Temos também uma proposta para fazer um reboot no sistema educacional. Acreditamos que, do jeito que as coisas estão, ensinamos as nossas crianças a serem agentes passivos do Estado e temos de ensiná-los a ser agentes, designers de decisão, membros ativos da sociedade.

Como foi a sua campanha?

Tivemos um bom desempenho: ganhamos 1,2% e cerca de 22 mil votos. Nossa campanha não se limitou apenas ao mundo digital. Construímos um enorme cavalo de Troia de madeira, de 4 metros de altura, e o levamos para a frente do Congresso. Dissemos que dentro de sua barriga estavam as ideias de milhares de pessoas que queriam palpitar no processo político. Dirigimos o cavalo pela cidade toda, o que teve uma grande cobertura da mídia. Também tivemos grande participação nas redes sociais, mas acreditamos em misturar estratégias online e offline. Política é feita olhando nos olhos das pessoas e garantindo a elas de que estamos ouvindo. Isso é insubstituível.

Pia Mancini, argentina de 32 anos, criou um aplicativo que traduz para a linguagem comum as propostas de lei votadas no Congresso e permite que todo mundo vote junto. Agora, ela fundou um partido para eleger candidatos que votem como a população quer.

Ilustração: Lott

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