Sobreviver ao fim do universo
Com conhecimento preciso das leis da física e quantidades descomunais de energia, talvez seja viável escapar do Juízo Final
Texto Reinaldo José Lopes
O Universo está se expandindo em ritmo muito acelerado neste exato momento. Ainda não se pode dizer com certeza onde isso vai parar, mas o destino mais provável do Cosmos não é nada agradável. Trata-se do chamado big freeze, o “grande congelamento” no qual a matéria e a energia das galáxias ficarão tão diluídas que o Universo, por assim dizer, começará a morrer de velho. Em alguns trilhões de anos, diz o físico Michio Kaku, da Universidade da Cidade de Nova York, “o Universo estará cada vez mais escuro, frio e solitário. As temperaturas vão despencar, as estrelas esgotarão seu combustível nuclear, as galáxias não mais iluminarão os céus”. Parece o fim, certo? Dá até para imaginar uma fuga do sistema solar quando o nosso Sol bater as botas, mas escapar do big freeze é pedir demais.
Não para Kaku, no entanto. O físico e futurólogo de origem japonesa é um dos mais ardorosos defensores da possibilidade de escapar ao fim do Universo de alguma maneira. Para isso, a civilização humana – ou seja lá que tipo de civilização descendente dela aparecer ao longo de bilhões de anos – terá de conhecer em detalhes as leis que regem o funcionamento do Cosmos, aprender a manipulá-las e ainda contar com uma enorme dose de sorte.
Um lugar para chamar de lar
O maior de todos os golpes de sorte envolve nada menos que a existência de algum outro Universo para o qual fugir, uma possibilidade que, para os físicos teóricos, está ficando cada vez mais forte (veja a reportagem sobre universos paralelos na pág. 46, para entender o porquê). A chamada hipótese do Multiverso propõe que o nosso Universo é uma espécie de “bolha” cósmica, enquanto uma enorme quantidade de outras áreas do Multiverso também estão passando por nascimento ou expansão. Outro jeito de imaginar a relação entre o nosso e os demais universos é pensar em folhas de papel paralelas umas às outras: para ir de um universo a outro, deve-se “furar” o espaço (o qual, na verdade, está fora do espaço-tempo que conhecemos).
O problema é que nada consegue atravessar a “distância” que separa as ilhas cósmicas. Ou, mais precisamente: nada, exceto a gravidade – segundo os físicos teóricos, essa força poderia atuar entre regiões separadas do Multiverso. Portanto, parece razoavelmente claro o que uma civilização avançada precisa fazer para escapar do Juízo Final: criar uma anomalia gravitacional tão poderosa que ela abriria uma brecha entre universos diferentes.
Essa anomalia provavelmente seria uma versão dos buracos de minhoca, estruturas teóricas que também são importantes para especulações sobre a viagem no tempo. Um buraco de minhoca é basicamente um túnel conectando duas regiões distantes do espaço-tempo. Lembra-se das folhas de papel da comparação acima? Imagine que, na verdade, elas são folhas de borracha, e você afunda a de cima até encostar parte dela na de baixo.
Para construir uma passagem desse tipo, Kaku estima que seria preciso manipular a dita energia de Planck, equivalente ao controle energético de uma galáxia inteira. Apenas uma civilização que sobrevivesse e prosperasse por bilhões de anos, alcançaria tal nível de sofisticação. Porém, uma vez aplicada essa energia ao espaço-tempo, qualquer coisa é possível. Em tal nível de energia, a realidade torna-se instável e fluida, parecida com o que era durante o big-bang, de maneira que um rombo conduzindo do nosso Universo a outro adquire uma probabilidade considerável. É possível que, mesmo que não existam outros universos, essa iniciativa crie um novo pedaço do Cosmos. Seria a chance de migrar para lá – e começar tudo de novo.