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Sofrimento físico é melhor que má-reputação

Estudo nos EUA revela que mais da metade das pessoas prefere perder uma mão ou a própria vida do que ter sua honra ferida para sempre por uma acusação grave

Por Redação
Atualizado em 4 ago 2017, 16h28 - Publicado em 4 ago 2017, 16h25

O que você prefere: ter uma mão amputada ou passar o resto da vida com uma suástica tatuada na testa? Lembre-se: falar é fácil – mas ninguém garante que na hora da verdade você não vá mudar de ideia.

Para o ser humano, um animal social, preservar a própria reputação é tão importante quanto preservar a vida. Isso é, até certo ponto, um instinto biológico. Nas primeiras sociedades formadas por Homo sapiens, morrer era uma forma rápida de pagar por um crime. Ser banido de sua comunidade, por outro lado, era sinônimo de meses ao relento, longe da família, lutando por comida em um ambiente inóspito. Tudo isso para depois, é claro, morrer do mesmo jeito.

Liderados por Andrew Vonash, da Universidade da Carolina do Norte, nos EUA, um grupo de psicólogos decidiu testar até que ponto, no mundo contemporâneo, pessoas normais consideram o sofrimento físico – e a própria morte – uma punição melhor do que ser mal visto por seus iguais. Eles não pegaram leve: chegaram a usar a pergunta que abre este texto com seus voluntários (spoiler: 70% deles escolheriam perder a mão).

Dilemas desse tipo já foram rotina em muitas sociedades – ainda que com variações. No Japão da Idade Média, samurais que não queriam se render ao inimigo – algo inconcebível em seu código de honra – realizavam voluntariamente um ritual de suicídio chamado seppuku, que culmina com um corte profundo no próprio ventre.

Na Europa, entre os séculos 16 e 19, duelos foram uma prática comum. Para resolver uma questão de honra, dois indivíduos marcavam dia, lugar e horário, e em igualdade de condições, usando pistolas ou espadas idênticas, lutavam até a morte.

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Até hoje consideramos covarde o capitão que não abandona o navio por último em um naufrágio.

Não é possível reproduzir situações como essas em laboratório, é óbvio. No artigo científico, os cientistas dividem os testes em quatro estágios. No primeiro, bem simples, avaliam com questionários a importância relativa da reputação em relação a outras preocupações típicas: estabilidade financeira, independência, segurança física etc.

A segurança física ganhou por pouco, apenas alguns pontos percentuais acima da reputação – quase um empate técnico.

Depois, na segunda fase, submetem os voluntários a dilemas extremos, mas fictícios, como o da suástica tatuada na testa. Quando a escolha era entre morrer e passar o resto da vida com fama de pedófilo – com direito a reportagens de jornal –, 53% escolhiam a morte. E 40% preferiram passar um ano na cadeia a se livrar da pena, mas passar o resto da vida com fama de ladrão.   

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Nas duas últimas fases a brincadeira ficou um pouco mais séria. Os pesquisadores colocaram um vidro cheio de larvas da espécie Zophobas morio diante dos voluntários, e ameaçaram espalhar o boato de que eles eram racistas caso não aceitassem enfiar a mão ali. 30% fizeram carinho nos bichinhos de bom grado quando o grau de racismo implícito no boato era considerado “alto” – mesmo sabendo que, na verdade, os pesquisadores não poderiam cumprir a ameaça por questões éticas. Segundo os psicólogos, o valor seria naturalmente mais alto em uma situação real.

Em um teste feito em condições similares, em que o castigo, em vez das larvas, envolvia dor moderada, 60,2% dos voluntários optaram pela dor.

A principal conclusão é que a reputação não pode ser vista como uma necessidade básica comum – comparável a alimentação ou proteção física – mas como uma espécie de pré-requisito para que o ser humano possa, vivendo em sociedade, alcançar suas necessidades básicas – sejam elas uma boa caçada, na pré-história, ou um emprego em uma cidade contemporânea.

 

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