Sol de rachar
Nossa estrela está lentamente aumentando sua temperatura. Vai chegar uma hora em que a Terra não vai aguentar mais tanto calor, tornando-se um inferno escaldante
Giuliana Miranda
Estrelas também têm ciclos de vida. Elas nascem, crescem, envelhecem e “morrem”. Isso, é claro, aplica-se também ao Sol, que, em termos galácticos, já não é mais nenhum garotinho. Formado há aproximadamente 4,6 bilhões de anos, nosso astro é uma espécie de adulto que caminha lentamente para uma crise da meia-idade. Pior: quando ela chegar, ele não vai comprar um Porsche e resolver assim. Será o fim da vida na Terra.
A temperatura e o brilho do Sol vêm aumentando lenta e gradualmente ao longo do tempo. Pouco depois de “nascer”, da junção de uma nuvem de gás e poeira cósmica, o Sol era bem mais frio do que é hoje. E ele continua esquentando. Daqui a 1 bilhão de anos, ele deve estar 10% mais brilhante. Essa energia extra chegando ao planeta será suficiente para secar sua atmosfera, e boa parte da água será simplesmente perdida para o espaço.
“E o quadro só vai piorando”, diz Gustavo Rojas, astrofísico da USFCar (Universidade Federal de São Carlos).
Cerca de 2 bilhões de anos depois, com o Sol brilhando 40% a mais, todos os oceanos já terão evaporado, e a vida ficará insustentável até para as formas mais primitivas. O calor não vai mesmo dar trégua e, em seguida, será a vez de até as rochas derreterem.
Com o envelhecimento, além do aumento de calor, o próprio “corpo” do Sol irá aumentar. Como qualquer estrela, ele é um amontoado de gás, especialmente hidrogênio, incandescente. Esses átomos se chocam em um ambiente de altíssima pressão, realizando a chamada fusão nuclear. É esse o processo que produz a energia do Sol e permite que ele tenha um tamanho estável.
Com o passar do tempo, as reservas de hidrogênio irão se esgotar e outro elemento, o hélio (resultado da fusão do hidrogênio), começará a ser usado. E é aí que o bicho pega.
“Essas reações fazem com que as camadas mais externas da estrela se expandam”, explica Rojas. Daqui a mais ou menos 5 bilhões de anos, o Sol terá se transformado em uma gigante vermelha, uma estrela velha e a caminho da morte. Lentamente, nosso astro irá inflar como um balão e “engolir” o que estiver em seu caminho. A primeira vítima será Mercúrio, o planeta mais próximo. Seu vizinho, Vênus, também não irá escapar. A Terra, que nesse ponto já não abrigará vida, ainda tem uma chance.
“O Sol ficará maior, mas vai perder massa. Com a estrela mais `magra¿, a força gravitacional que ela exerce será menor. Isso significa que a órbita da Terra provavelmente será alterada, e ela ficará mais distante do que está hoje. Por isso, o planeta pode escapar”, avalia o astrofísico. Não chega a ser um consolo.
Epílogo – Agonia solar
O FIM DO ASTRO-REI
Em 6 bilhões de anos, quando o núcleo do Sol não tiver mais elementos para fundir, a gravidade irá mostrar suas garras e fará com que o que restou da estrela se encolha até um tamanho diminuto. Será então uma anã branca, o caroço de carbono e oxigênio que restou da evolução solar. Fraco, frio e praticamente sem brilho, o Sol já não conseguirá iluminar seus planetas. E a Terra, se ainda estiver por aí, acabará seus dias como uma gélida bola de rocha.