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Um pedido ao próximo presidente

Menos poesia e mais engenharia. O Brasil pode chegar a 2020 como a 5ª maior economia do mundo. Mas, para continuar crescendo, o país precisa de mais gente que saiba produzir. E essa matéria-prima está em falta

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h50 - Publicado em 25 nov 2010, 22h00

Alexandre Versignassi

“Falta pedreiro”, estão reclamando os mestres-de-obras. Os melhores estão empregados nas construções de prédios caros. Se você quiser reformar o seu apartamento agora, talvez tenha que lidar com profissionais menos competentes do que havia por aí. São as dores do crescimento econômico.

Se fosse só isso, vá lá. O problema mesmo é falta de gente boa para ocupar as novas vagas que aparecem no topo da pirâmide. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) calculou que, se a econômia crescer mais de 5% ao ano em média nesta década (que é o que todos esperam), haverá uma falta crônica de engenheiros no mercado. E já dá para sentir efeitos de escassez hoje mesmo. Agora um engenheiro põe o pé para fora da faculdade ganhando R$ 4 500, em média – o dobro do que era em 2006. Nas áreas em que a demanda mais subiu, como a da extração de petróleo e gás, contracheques de R$ 30 mil são comuns.

Seria o bastante para atrair praticamente toda a força de trabalho do país. Mas ingleses são ingleses. E engenheiros são engenheiros. Leva mais de uma década entre faculdade e experiência de trabalho para formar um dos bons. Hoje saem 32 mil por ano das universidades. Segundo a Steer, uma consultoria de recursos humanos, só a indústria automobilística e a do petróleo vão absorver 34 mil anuais. Mas o déficit para valer é maior. Nem todos os formandos saem prontos para ocupar os postos que se abrem na indústria. E o jeito para as empresas acaba sendo importar engenheiros. Até o final do ano, serão mais de 5 mil profissionais vindos de outros países. O dobro do que em 2008. Mas só as grandes empresas têm bala para dar a casa, a comida e o salário que um engenheiro importado demanda. As pequenas e médias terminam com o mesmo problema dos mestres-de-obras. “Falta engenheiro.”

O problema da escassez desse tipo de profissional começa na escola. A tradição brasileira é de dar pouca importância às matérias de exatas. E o resultado é um desinteresse massivo por elas. Hoje, mais da metade das 402 disciplinas universitárias estão ligadas a engenharia e a outras áreas de exatas. Mas só 1 em cada 5 alunos do ensino superior está cursando alguma delas. Existem mais estudantes de música (5,6 mil) que de engenharia mecatrônica (4,5 mil). Jornalismo goleia engenharia civil por 178 mil a 50 mil. Psicologia 117 mil x 41 mil engenharia elétrica. Resultado: o Brasil tem hoje 6 engenheiros para cada 1 000 trabalhadores. Os EUA, 25.

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Quem paga o preço dessa escolha é a economia: sem cabeça de obra nas áreas vitais para o crescimento, ela fica a perigo. E agora? Quem pode tirar o país dessa? Os “pedreiros”. A base da pirâmide. Até outro dia, quem não tinha como ser sustentado pelos pais dificilmente ia para a universidade. Era colegial e acabou. Depois, só batente. Claro. Não havia muita opção. Era ou entrar em uma faculdade que cobrava mais do que a maioria podia sonhar em pagar ou prestar vestibular para uma faculdade pública e perder a vaga para qualquer bem-nascido.

Só que hoje as classes mais baixas não são mais tão baixas. O crescimento do país aumentou a renda delas. Você sabe, pela primeira vez, a classe média forma mais da metade da população – agora ela é uma classe média de fato, inclusive; antes, estar na média era ser pobre. Nisso, fazer um curso superior deixou de ser exclusividade de quem cresceu tomando leite A. As faculdades privadas com mensalidades mais baratas lotaram. E cresceram: em 2000, havia 1 004 faculdades privadas no país. Hoje são 2 016. O valor médio das mensalidades também desabou: de R$ 860 em 1996 para R$ 467 no ano passado.

O mais importante: esses novos universitários não têm um perfil exatamente… universitário. Dois terços dos estudantes da classe C (com renda familiar de R$ 2 mil a R$ 5 mil) têm entre 26 e 45 anos. É gente que trabalha desde sempre e escolhe o que vai estudar com um olho no mercado de trabalho e o outro também. Nisso a preferência tende a ser por cursos onde faltam profissionais, justamente os mais técnicos. Enquanto as classes A e B tendem mais para humanas, a C quer exatas.

Claro que essa mistura de oportunidades reais com uma nova classe média a fim de pagar caro por elas é um terreno fértil. Fértil para faculdades mequetrefes. Cabe, então, ao governo garantir uma educação que preste – tirando da jogada as instituições que só fingem que ensinam. Porque fingir que o país vai continuar crescendo de um jeito ou de outro não vai dar.

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