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Você sente empatia pelos problemas de pessoas ricas?

Cientistas descobriram que sim, é possível se compadecer com as dificuldades de qualquer um, mas isso está crucialmente ligado às ideologias sociais

Por Ingrid Luisa
6 jun 2018, 16h37

Talvez você já tenha visto o meme “força, guerreira!”. Ele é usado quando celebridades ou indivíduos bem de vida postam fotos com legendas “Muito cansada aqui em Paris”, ou coisas parecidas. Na verdade, não passa de uma grande chacota com as pessoas que reclamam mesmo estando financeiramente onde estão. Os também conhecidos como “white people problems” ou “first world problems” (“problemas de pessoas brancas” ou “problemas de primeiro mundo”) não são muito bem recebidos na internet, e geralmente viram alvo de piadas e ironias. Mas você já parou para pensar se sente empatia por essas pessoas? Cientistas da Universidade de Northwestern, nos EUA, já. E chegaram a conclusões curiosas.

Antes de tudo, vamos a exemplos práticos. A moça da vendinha perto da sua casa é roubada. Ela ganha pouco e usa tudo pra sustentar a família, mas mesmo assim tiraram o que era dela. Sentimos dó, raiva, empatia — é injusto. Em outro cenário, quem é roubada é a Kim Kardashian, em um hotel de luxo na França. Foi o maior roubo de joias cometido no país em 20 anos, avaliado em nove milhões de euros. Também é injusto. Mas no subconsciente pode vir aquele “ah, ela é milionária mesmo, nem vai fazer diferença”. E foi buscando esses pensamentos que os cientistas mediram a empatia sentida por pessoas ricas.

De acordo com a pesquisa, a resposta para a pergunta que dá título a esta matéria depende do quanto você se sente atingido pela hierarquia social. Em média, a maioria das pessoas se sente pior pela moça da vendinha do que pela Kim Kardashian — mas, ainda assim, a ideologia de cada um conta muito. Por isso, os cientistas separam na pesquisa as pessoas que se consideram mais “igualitárias”, apoiadoras de uma sociedade mais justa, sem as diferenças gritantes de classe, daquelas que apoiam as diferenças e hierarquias entre posições sociais.

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Foi comprovado que pessoas igualitárias sentem uma empatia muito maior pela moça da vendinha. E que aqueles que não criticam as classes, vistos como pouco empáticos, expressam bem mais empatia pela socialite que os próprios igualitários.

Os cientistas argumentam que o resultado é interessante de se analisar. As pessoas ditas igualitárias deveriam querer uma sociedade mais justa para todos, não só para os desfavorecidos. Mas essa conclusão aponta para uma espécie de empatia seletiva: ter empatia todo mundo tem, mas para quem cada um distribui é outra história. Esse sentimento depende tanto das crenças em relação à igualdade social quanto da posição social que a pessoa do causo ocupa.

Para descobrir tudo isso, os pesquisadores realizaram vários experimentos online e presenciais que incluíram mais de três mil participantes. Os autores do estudo começaram testando como os participantes reagiram depois de lerem casos sobre pessoas que sofreram diferentes tipos de danos, como uma ação judicial ou perda de salário. Por exemplo: um dos casos descrevia um assalto. Alguns participantes leram sobre um executivo rico que teve a casa roubada e outros receberam a mesma história com um professor de escola como vítima. Daí, eles tiveram que avaliar o quanto de compaixão, tristeza, simpatia ou preocupação sentiam. E foi assim que se percebeu a diferença de empatia dos igualitários para os “não-igualitários”.

Uma das grandes dicotomias observadas se refere a como os dois grupos percebem danos. A moça da vendinha sente bem mais que a Kim se as duas sofrerem uma redução de 50% do salário (até porque a Kardashian não tem só uma fonte de renda). Mas, como dito antes, isso está crucialmente ligado à ideologia.

Nour Kteily, um dos autores do estudo, afirma que os que apoiam as classes não têm tanta empatia pelos menos favorecidos (como nossa humilde trabalhadora da vendinha) porque qualquer dano que aconteça a essas pessoas ajuda a manter a hierarquia social existente. Da mesma forma, os igualitários podem não ligar para um evento que prejudique uma pessoa de alta posição simplesmente porque ele é consistente com seu desejo de acabar com as hierarquias. Em tempos de polarização, é um típico exemplo de coxinhas vs comunas.

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Mas nem tudo é tão preto no branco. Algo que os cientistas ainda não testaram, mas pretendem fazer no futuro, diz respeito a situações em que é quase impossível não ter empatia — perder um ente querido em um acidente de carro, por exemplo. Se compadecer com isso, teoricamente, independe de conta bancária. Mas os pesquisadores ainda precisam assegurar até onde a linha da ideologia pode ir.

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