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4 filmes de 2017 para quem gosta de pensar

Filmes para quem curte queimar neurônios: de 'Bingo' a 'Mãe!', passando por um glorioso remake de 'Blade Runner' e o ácido 'Corra!' Tudo sem spoilers.

Por Bruno Vaiano, com Ana Carolina Leonardi e Pedro Botton
Atualizado em 27 out 2020, 11h05 - Publicado em 22 dez 2017, 20h25

1. Bingo: O Rei das Manhãs

Esqueça Pennywise. Stephen King pode até ser bom de susto, mas Bingo: O Rei das Manhãs foi fácil o melhor palhaço na tela dos cinemas em 2017. O protagonista é Augusto Mendes, um arrogante ator de pornô água com açúcar que percorre os estúdios de TV paulistanos em busca de um papel que considere à altura de seu talento. Após alguns bicos decepcionantes em novelas de baixo orçamento, passa em um teste e se torna o palhaço Bingo, apresentador da versão brasileira de um programa de auditório infantil popular nos EUA. O potencial para o sucesso é imenso, mas há uma condição: ele não pode, em hipótese alguma, revelar sua identidade real. Uma vez Bingo, para sempre Bingo.

O resultado? Uma vida pessoal conturbada nos bastidores, cheia de prostitutas, cocaína, problemas familiares e, é claro, dificuldade para lidar com o anonimato compulsório. O personagem, interpretado por Vladimir Brichta, é baseado na vida de Arlindo Barreto, que entre 1984 e 1986 viveu o palhaço Bozo. A mudança de nome ocorreu para evitar problemas legais. Quanto à história digna de Axl Rose, bem… essa é mais realidade que ficção.

O filme funciona por vários motivos. Um deles, sem dúvida, é a forma como brinca com o imaginário de quem viveu em uma metrópole brasileira na década de 1980. Carros coloridos, trilha sonora new wave, placas de neon para dar e vender e, é claro, o próprio Bingo, que foi uma das presenças mais marcantes das crianças de sua geração. É padrão Stranger Things de nostalgia. Outro é a interpretação genial de Vladimir Brichta – seu desafiador  junkie anti-herói atingiu o equilíbrio perfeito entre drama e humor, e deu um jeito novo de contar uma velha história de fama e decadência.

2. Blade Runner 2049

OK, teve menos Harrison Ford que o combinado – pelo menos se você, como eu, ficou esperançoso quando viu a cara do veterano tão grande no pôster. Mas a versão 2.0 do clássico cult Blade Runner fez jus ao original – uma tarefa difícil considerando seu status quase religioso. Ryan Gosling, tão fleumático que beira o inexpressivo, não podia ter se dado melhor na pele de um replicante. E o diretor Denis Villeneuve, responsável por A Chegada em 2016, não poderia ter feito um combo melhor de filmes de ficção científica cabeçudos.

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Resumir a trama não é brincadeira, mas não custa tentar: K (Ryan Gosling) é um replicante – isto é, um ser humano sintético, criado em laboratório, que leva o nome de uma letra típico dos personagens do escritor Franz Kafka. Ele é contratado pela polícia, e sua missão é caçar e matar replicantes de versões mais antigas, que precisam ser “aposentados”. No tempo livre, seu único prazer é Joi (Ana de Armas) – uma namorada virtual holográfica, que é programada para agradar seu “dono”, mas parece ter consciência e sentimentos. Um toque distópico sem preço.

A trama começa quando ele é enviado para investigar o paradeiro uma criança, filha de uma replicante de modelo mais antigo que engravidou – mesmo que, em princípio, replicantes não possam ter filhos. Daqui em diante, tudo é spoiler. No que foi fiel ao filme de Ridley Scott, 2049 foi um sucesso. No que trouxe de novo, também. 2049 não responde às perguntas do original, e funciona igualmente bem para novatos e fãs de longa data. Vale cada neurônio queimado.

3. Corra!

A família de Rose (Allison Williams) não tem, em princípio, nada de racista: “eu teria votado em Obama para o terceiro mandato, se pudesse”, insiste seu pai, tão branco quanto a filha. É por isso que o jovem fotógrafo Chris (Daniel Kaluuya), seu namorado, não fica nervoso além da conta no dia mais fatídico de todo relacionamento sério: o primeiro encontro com os sogros. Ele é um rapaz negro, e é a própria definição de gente fina. Se a pele não importa, o que pode dar errado?

Bem… Tudo. E com toques sobrenaturais. Corra! é um filme com QI para dar e vender: sua casca é de filme de terror, do tipo que não se leva muito a sério. Mas só ri (de nervoso) quem é branco. Se você for negro, provavelmente verá no filme uma versão satirizada do próprio dia a dia – tentando conviver não só com os brancos que são abertamente racistas, mas também com os que afirmam categoricamente não ser. Quem resume é o diretor Jordan Peele, também negro, no Twitter: “Get Out é um documentário.”

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Se vale uma dica, não veja o trailer antes de ir para o filme: ele está fervilhando de spoilers.

4. Mãe!

Mãe! é outro filme da série “parece terror mas não é”. Tudo começa em uma casa escura. Um homem (Javier Bardem) põe um objeto de cristal em um pedestal, e a construção se torna progressivamente mais viva e colorida, como se tivesse passado por uma reforma. Na cama, aparece uma mulher deitada (Jennifer Lawrence). Estranho? Calma, ainda está razoavelmente normal.

A personagem de Lawrence – que, tudo leva a crer, é a mãe do título – não tem filhos, mas é tão devotada à casa quanto uma mulher pode ser. Ama o homem, que descobrimos ser seu marido e poeta de profissão. Eles vivem uma vida pacífica no meio do nada, até que, um belo dia, um estranho bate na porta. A mulher fica receosa, mas o homem o recebe cordialmente, e permite que ele passe a noite ali. No dia seguinte chega uma mulher, esposa do visitante. Depois, um rapaz, filho dos visitantes. Do jeitinho que é narrado ao longo do parágrafo: sem aviso prévio, sem maiores explicações, em um lugar desconhecido em que ninguém tem nome ou RG.

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Desse ponto em diante, fica difícil evitar os spoilers. Mas relatar os acontecimentos da forma como eles alcançam nossos olhos não seria revelador. Mãe! é uma alegoria ousada, que não tem medo de ser feliz (nem ambiciosa), e exige interpretação. Ninguém sai exatamente satisfeito do cinema – o efeito é o de ter consumido uma obra de arte disfarçada de blockbuster. Filme para quem gosta de bater um papo de duas horas depois que a tela se apaga.

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