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A guerra sobre a qual você nunca ouviu falar

O Iêmen está à beira de uma guerra civil e nós mal sabemos onde fica o país, mesmo depois de meses de bombardeios. A SUPER explica o que está acontecendo por lá.

Por Priscila Bellini
Atualizado em 8 mar 2024, 09h23 - Publicado em 21 ago 2015, 18h45

1) Quão ruim está a situação por lá?

Muito. O acesso à água potável é quase impossível. Os hospitais não funcionam por falta de energia elétrica, de leitos, de remédios. Metade da população, cerca de 13 milhões de pessoas, não tem acesso à água potável. Mais de 9 milhões de crianças precisam de ajuda emergencial, segundo a Unicef, e cerca de 400 morreram durante o conflito. Quando a ONU propõe uma trégua, ela não é respeitada. Construções consideradas patrimônio mundial, com 2500 anos de idade, foram destruídas. Desde o começo do conflito no Iêmen, os serviços básicos para a população só diminuem, o que piora ainda mais com os ataques feitos por uma coalizão de países (como Catar, Bahrein e Emirados Árabes Unidos, liderados pela Arábia Saudita).

2) De onde vem essa briga? 

É difícil dizer como tudo começou. O Iêmen passou 33 anos sob a ditadura de Ali Abdullah Saleh, que abandonou o poder depois da pressão popular durante a Primavera Árabe. E, no lugar, quem assumiu foi seu vice, Abd Rabbuh Mansur Al-Hadi. Mesmo assim, Saleh continuou a viver no país e a ser um político bastante influente por lá.

 

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O filme “Karama não tem muros” (2013), indicado ao Oscar, mostra um dos ataques do governo de Saleh aos rebeldes, antes de ser deposto.

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Durante os mais de 30 anos de ditadura, um dos grupos mais ignorados pelas autoridades foi o dos houthis, que seguem o xiismo (ao contrário da maioria no Iêmen, que é sunita) e se rebelaram contra o governo já em 2004, quando a onda de tensão cresceu. O grupo xiita protestava contra as condições em que viviam, a corrupção no governo, e contra a posição do Iêmen como aliado dos Estados Unidos. 

Assim, em janeiro deste ano, quando o governo de Hadi resolveu esboçar uma nova Constituição e a divisão do território em seis regiões, os houthis se revoltaram. Isso porque Saada, que fica no norte do país, local dominado historicamente pelo grupo, ficaria ligada de vez a Sanaa, a capital iemenita. 

Quando os houthis começaram a ganhar força e dominar as cidades de todo o país no começo do ano, ganharam também o apoio de outras tropas (como as que costumavam ser aliadas de Saleh), e o conflito estourou de vez. Hadi chegou a renunciar e abandonar a capital, tamanho o avanço dos rebeldes, que também dominaram locais portuários importantes, como Hudeida.

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3) Quem está brigando?

Já deu pra entender que o governo iemenita e os houthis são elementos importantes da história — mas são só a metade. Por baixo dos panos, os aliados de Saleh (aquele governante que ficou no poder por 33 anos) começaram a apoiar os rebeldes e atrapalharam ainda mais o cenário. E isso irritou um dos principais parceiros do Iêmen, a Arábia Saudita. 

A relação de longa data com os sauditas já se estendia há tempos, uma vez que o Iêmen tem um território importante para o comércio de petróleo e faz fronteira com o país. Parecia a receita perfeita: a Arábia Saudita tinha um aliado pertinho do chifre da África, com acesso a uma rota pelo mar em que escoasse o petróleo, e ainda mantinha as fronteiras livres de complicações com um país de maioria sunita. 

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Outro parceiro, os Estados Unidos, também entrou na jogada quando percebeu que um novo grupo poderia tomar o poder. Por muito tempo, manter o Iêmen como amigo garantiu a presença dos americanos na região, nas investidas contra a Al Qaeda. O trato era o seguinte: os americanos cediam armas, e os governantes iemenitas davam espaço para a ação deles no Oriente Médio, inclusive ataques de drones.

Com a pressão subindo, os países descontentes com a atual situação do Iêmen (entre eles, os sauditas) se agruparam para atacar o lugar, como tem sido feito há meses. Enquanto isso, os boatos sobre o apoio do Irã (que tem maioria xiita) aos houthis cresceram, sugerindo que o governo iraniano encaminhava armas para os rebeldes.

 

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