A lista de 10 mil pessoas esperando para vasculhar o rio Tâmisa
O corpo d'água está cheio de artefatos que contam a história de diversos impérios. Entenda como funciona a exploração por lá.

O rio Tâmisa mede 346 km de extensão, atravessa Londres e desagua no Mar do Norte. Por mais de 4.000 anos, seres humanos despejam pertences em suas águas – e, por isso, a variedade de artefatos perdidos e encontrados por lá conta a história da evolução da cidade.
Os objetos não só sobrevivem, como muitas vezes emergem com a mesma aparência de quando foram parar na lama. O lodo do rio bloqueia o oxigênio, impedindo que metais enferrujem e que a matéria orgânica se decomponha. Duas vezes por dia, as mudanças de maré expõem novos lixos e, por sorte, tesouros de todas as eras que chegam às margens londrinas.
“Durante séculos, as pessoas deram as costas ao rio fedorento e poluído”, disse ao Smithsonian Jason Sandy, autor de um livro sobre os tesouros do Tâmisa. “Muitas pessoas vão até a margem para desfrutar de uma bebida e da paisagem. Elas não percebem que há milhares de anos de história sob seus pés.”
Mas é claro que há curiosos por dentro do assunto. Por décadas, caçadores de lama (como são chamados os catadores amadores) receberam permissão para explorar o Tâmisa pela Autoridade Portuária de Londres (PLA), que emitia licenças por até três anos para uma pequena comunidade de coletores.
O termo “caçadores de lama” nasceu nos séculos 18 e 19, para descrever os londrinos que procuravam nas margens materiais para revender. Hoje em dia, o termo representa uma comunidade enorme de buscadores de artefatos. O hobby se popularizou na pandemia: entre 2019 e 2022, o número de licenciados chegou a mais de 5 mil.

Em 2022, a PLA decidiu suspender as solicitações de licenças. Recentemente, o órgão anunciou que está limitando o número total de autorizações, cada uma válida por apenas um ano. Para atender ao aumento do interesse, a agência criou uma lista de espera, que rapidamente aumentou para mais de 10.000 pessoas – e foi encerrada.
A autoridade realizou estudos sobre o quanto a caça na lama seria sustentável, preservando a delicada estrutura da margem do rio. Essa pesquisa, que não foi divulgada ao público, sugeriu um máximo de 4.000 detentores de licenças por ano.
Alguns especialistas afirmam que os catadores são a espinha dorsal da arqueologia no Tâmisa, e não um problema. “Valorizamos enormemente a contribuição deles”, disse para a National Geographic Kate Sumnall, curadora de arqueologia no Museu de Londres, que atualmente abriga uma exposição com mais de 350 objetos encontrados por caçadores de lama. “Falamos sobre todas essas descobertas incríveis, mas isso exige muito tempo e habilidade.”
Os caçadores fazem cerca de 700 descobertas por ano que são consideradas historicamente significativas o suficiente para serem registradas no banco de dados do Portable Antiquities Scheme. A PLA é dona de todos os achados, mas os responsáveis pelas descobertas conseguem ficar com a maioria deles. Todos os objetos que se acredita terem 300 anos ou mais devem ser reportados ao Museu de Londres.
Quem já tem a licença não pode entrar na fila de espera enquanto a permissão atual não estiver chegando ao fim, o que resultou em um grande número de caçadores veteranos na lista gigantesca ou sem oportunidade de realizar a procura.

No início de 2025, a PLA ofereceu uma concessão: licenças renováveis seriam emitidas para um número limitado dos exploradores de lama, somente para os que encontrassem descobertas significativas. As novas regras reservam espaço para veteranos que, entre outros critérios, tenham um histórico de achados e “contribuam para a vida educacional, cultural e histórica de Londres”, segundo a entidade.