Ana Luiza Herzog
O jovem Gregor Samsa acorda e se vê transformado em um inseto. Está atrasado para o trabalho e precisa sair da cama, mas não domina ainda seu novo corpo, agora duro e com várias pernas. Sobe pelas paredes e se alimenta de coisas mofadas, mas ainda pensa e sente como um ser humano. Tenta falar com a família, mas não consegue. Esse pesadelo foi descrito por Franz Kafka, em A Metamorfose, uma das melhores obras literárias de todos os tempos, que ganha agora uma versão em quadrinhos. Quem se arriscou na proeza foi Peter Kuper, ilustrador de jornais e revistas americanos como The New York Times, Business Week e Mad, onde publica a tira Spy vs. Spy. E conseguiu. A troca de muitas das frases do escritor tcheco por ilustrações mantém a angústia do leitor diante do sofrimento de Gregor Samsa. Só não dispensa a leitura da obra original.
• Antes de morrer, Kafka pediu ao amigo Max Brod que desse um fim em seus escritos inéditos e não fizesse novas edições das obras já publicadas, como A Metamorfose. Por sorte, Brod não obedeceu.
• Uma barata é o inseto no qual muita gente acredita que Gregor Samsa se transformou. O termo de Kafka não é tão específico: quer dizer apenas bicho rastejante, inseto daninho, enfim, um bicho nojento qualquer.
• A Metamorfose é um prato cheio para quem gosta de metáforas. Uma das mais famosas é a de que a história retrata a maneira como a sociedade trata aqueles que são diferentes. A relação tensa entre Gregor e sua família poderia também ser um espelho dos conflitos entre Kafka e seu pai. Há ainda a versão dos marxistas, que enxergam no livro um manifesto contra os valores burgueses: Gregor abandona o trabalho, pára de ganhar dinheiro e, por isso, passa a ser desprezado pela família.
A Metamorfose
Franz Kafka, Adaptado por Peter Kuper
Editora Conrad Livros, 88 páginas, R$ 19