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Apolo 13 vira filme: Houston, temos um problema aqui

A história do resgate da nave que teve problemas em uma de suas missões e que agora vem relatada num filme com Tom Hanks no papel principal.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h47 - Publicado em 31 jul 1995, 22h00

Heitor Shimizu

Há vinte e cinco anos, essa frase marcou um dos mais dramáticos momentos da história da exploração espacial. Ela vinha da nave Apolo 13, avariada próxima à Lua, com três astronautas a bordo. A mensagem era endereçada ao centro de operações da Nasa, em Houston, nos Estados Unidos. Foi o início da heróica missão de trazer a nave de volta a Terra. A história é contada agora no filme Apollo 13, que estréia este mês com Tom Hanks no papel principal.

Por Heitor Shimizu

Diz a superstição que o número treze traz má sorte. Mas a Nasa, agência espacial do governo americano, não tinha escolha. A nave seguinte à Apolo 12 só poderia mesmo se chamar Apolo 13. Não seria razoável esperar um sinal de superstição por parte daqueles que apenas nove meses antes, em 20 de julho de 1969, haviam levado o homem à Lua, dando “um gigantesco passo para a humanidade”, na frase famosa do astronauta Neil Armstrong, o comandante da Apolo 11.

Assim, a Nasa lançou a sua nave número treze, a terceira programada para pousar no satélite da Terra. Colocada na ponta do foguete Saturno 5, de 110 metros de altura (o tamanho de um prédio de 35 andares), ela partiu às 13h13min13s do dia 11 de abril de 1970, do Centro Espacial Kennedy, na Flórida. O número 13 aparecia ainda em dezenas de lugares no cronograma da missão, como nos horários de refeição e de descanso.

Foi um corajoso desafio ao número do azar. Mas não deu sorte. A missão foi cheia de imprevistos, como o afastamento de um astronauta um dia antes da decolagem e um incêndio durante os testes de abastecimento do Saturno 5. Por fim, houve a explosão que destruiu peças importantes e impediu o pouso na Lua, colocando em risco a volta dos seus três tripulantes à Terra. A saga dos náufragos do espaço que sobreviveram e voltaram para casa reacendeu o interesse pelo projeto Apolo. O mundo todo ficou em suspense.

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Os problemas da Apolo 13 começaram ainda em Terra. Um dia antes da decolagem, uma suspeita de rubéola tirou da equipe o piloto Ken Mattingly. Às pressas, Jack Swigert foi chamado para o seu lugar e completou a tripulação ao lado de Fred Haise, o outro piloto, e do veterano Jim Lovell, comandante da missão.

Mas a dor de cabeça que se mostraria decisiva foi um dos dois tanques de oxigênio da nave. Durante os testes, o gás liquefeito não saía do tanque na quantidade devida. Os técnicos consideraram que a falha não se repetiria no espaço e, em princípio, tinham razão: um ou outro defeito é mera rotina. Do ponto de vista dos técnicos da Nasa, na verdade, tudo corria muito bem. Tanto que, nos primeiros momentos do vôo, mandavam mensagens brincalhonas à Apolo, reclamando de tédio.

Na noite de 13 de abril, às 21h08 (hora de Houston), o tédio acabou. O tanque de oxigênio explodiu e mandou para o espaço um lado inteiro do módulo de serviço, com cerca de quatro metros de comprimento. O motivo é que, entre os testes e o lançamento, os construtores aumentaram a voltagem do aquecedor elétrico que forçava o oxigênio a sair do reservatório. Com isso, a temperatura passou largamente dos 25,5°C previstos, chegando a mais de 500°C, porque o controle automático também pifou, e o oxigênio expandiu-se até explodir o tanque.

A 330 000 quilômetros da Terra, as luzes de alarme se acenderam. Foi quando Jack Swigert, e não Lovell, que muitos consideram o autor da frase, disse: “Houston, estamos com um problema aqui”. Num primeiro momento, os astronautas não perceberam a gravidade do caso: no vácuo o som não se propaga e eles ouviram a explosão como se fosse apenas a batida de uma porta. Até que Jim Lovell olhou por uma janela e falou: “Alguma coisa está vazando… É algum tipo de gás”. Era oxigênio. Que não servia apenas para respirar: misturado com hidrogênio, gerava eletricidade. Também gerava água para beber e para a refrigeração. A decisão era inevitável e frustrante: a missão estava acabada. Restava outra missão, muito mais difícil e inédita: fazer a nave avariada voltar para a Terra e salvar os astronautas.

Para os náufragos do espaço, a única chance de sobrevivência era buscar refúgio no “bote salva-vidas”, o módulo lunar. Lovell, Haise e Swigert desligaram os equipamentos e saíram do módulo de comando Odissey. Depois deveriam voltar, pois só o Odissey era reforçado o bastante para agüentar a reentrada na atmosfera terrestre. Por isso, as suas baterias de emergência, suficientes para os momentos finais do regresso, foram poupadas.

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O módulo lunar da Apolo 13 (conhecido como Aquarius) tinha oxigênio em quantidade suficiente para os três. Mas a energia elétrica e a água haviam sido planejadas para duas pessoas e teriam que ser economizadas. Cortou-se, assim, o suprimento diário de água para menos de um copo por pessoa e a temperatura interna da nave foi reduzida para perto de 4°C.

A falta de oxigênio havia sido reparada, mas a respiração continuava a preocupar: os homens poderiam morrer sufocados pelo próprio gás carbônico que expeliam dos pulmões. O módulo tinha sido planejado para duas pessoas, não três, e os filtros do Aquarius não davam conta do recado. A saída era aproveitar os do Odissey, mas eles precisavam ser adaptados. Isso foi feito com o que se tinha à mão: fitas adesivas, papelão e sacos plásticos, que serviram para confecionar um objeto apelidado de “caixa de correio”: um filtro improvisado. Depois disso, começaram a pensar no obstáculo mais difícil: como voltar.

Inverter o movimento da nave com a força dos jatos para colocá-la na direção da Terra era inviável. O combustível não era suficiente. A alternativa era colocar a nave numa trajetória de retorno livre. Quer dizer: a Apolo daria uma volta na Lua e entraria numa órbita que a levaria à Terra. Houston decidiu que os foguetes do Aquarius seriam usados para a impulsão. Para executar essa manobra, normalmente, os astronautas checam a posição de estrelas. Mas, desde a explosão, a visão das estrelas estava impossibilitada pelos detritos que saíam da nave. Houston sugeriu usar uma estrela que não poderia deixar de ser vista: o Sol.

Às três horas do dia 14, Lovell levou a nave à posição certa, descoberta por Haise com o auxílio de filtros para não ser cegado pelo Sol. A Apolo 13 já estava no caminho de volta. Três dias depois caíam no Oceano Pacífico, próximo a ilha de Samoa, a seis quilômetros do porta-aviões americano Iwo Jima. Salvos.

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A mais azarada das missões

1 – Decolagem

Poucas pessoas estavam no Centro Espacial Kennedy, no dia 11 de abril de 1970, quando a Apolo 13 decolou, às 13h13m13s.

2 – O estrago

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Os astronautas tiraram a foto ao lado logo após soltarem o módulo de serviço. Só aí perceberam o tamanho do estrago.

3 – Caixa de correio

Swigert (à esq.) e Haise montam o dispositivo que evitou que a tripulação não morresse sufocada — apelidado “caixa de correio”.

4 – Tão perto e tão longe

Essa excelente vista da cratera Tsiolkovsky foi fotografada no momento em que a Apollo 13 dava a volta na Lua, enquanto tentava voltar à Terra.

5 – O resgate

Após terem viajado mais de 700 000 quilômetros, os astronautas voltaram à Terra, pousando no Oceano Pacífico, próximos à ilha de Samoa, onde foram resgatados.

6 – Volta ao lar

Haise, Lovell e Swigert subiram à bordo do USS Iwo Jima ao som de Aquarius, música do filme Hair, tocada pela banda do porta-aviões.

John (Jack) Swigert Junior

Com 38 anos na época, Swigert era o único solteiro. Namorador inveterado, ex-piloto da força aérea, ele substituiu Ken Mattingly como responsável pelo módulo de comando, um dia antes da decolagem. Morreu em 1982.

Fred Wallace Haise Junior

Nenhum oficial da Nasa entendia tanto de módulos lunares como Haise. Nascido em 1933, tinha passado mais de um ano em testes na empresa Grumman, fabricante do módulo lunar Aquarius. Ajudou a testar o ônibus espacial na década de 80.

James Arthur Lovell Junior

Nascido em 1928, Lovell já havia voado na Gemini 7, Gemini 12 e Apolo 8 (de 1968). Esse último vôo, o primeiro tripulado em torno da Lua, serviu como preparação para a Apolo 11, que desceu no satélite um ano depois.

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