Bienal de um homem só
Com peixinhos dourados encarcerados em sacos plásticos e jogados ao mar, Sarah Fripp faz uma crítica aos maus-tratos do homem ao meio ambiente. Só tem um detalhe: Fripp não existe. Ela e outros 99 artistas são criações de Shea Hembrey, 37 anos. O americano passou dois anos em seu estúdio produzindo obras de artistas imaginários. E agora tem sua própria bienal, a Seek. Que também não existe.
Rodolfo Viana
Como você cria seus artistas de mentira?
Às vezes eles são exageros de certas partes minhas. Outras vezes, ao experimentar os limites de trabalhar fora da minha persona, me perguntava qual seria o oposto completo do que eu realmente criaria. Isso me levou a encontrar paixão por uma forma ou um método de trabalho que eu nunca tinha sentido antes. Agora que o trabalho está pronto, às vezes eu até esqueço que alguns dos artistas são eu!
Mas eles são você…
Sim. Mas às vezes são versões completamente fictícias. O processo criativo foi bem variado porque eu tinha que sentir o artista e os trabalhos que eles estavam produzindo antes de começar algo. Todas as obras eu mesmo fiz – desde bordar roupas até esculpir pedras, atuar em curta-metragens, construir instalações imensas, peças bem pequenas…
De onde veio essa ideia de adotar várias identidades?
Depois de passar anos indo a bienais e a outros grandes eventos internacionais de arte, comecei a desejar ver um que simplesmente desse um nó na minha cabeça. Sempre saía dos eventos desejando mais. Então decidi que deveria fazer a curadoria da minha própria bienal. Fiquei ponderando como eu faria isso e percebi que, devido às minhas habilidades técnicas em várias formas de trabalho artístico, eu poderia conceber a arte da bienal por conta própria. Consegui exatamente a bienal que eu estava desejando havia tanto tempo, a Seek.
Mas fazer uma bienal sozinho não seria também uma crítica à produção artística?
Certamente não. É um manifesto de arte, na verdade. E, em vários momentos, uma ficção divertida – afinal, é uma bienal grandiosa que ainda não foi realizada. [Hembrey, no entanto, vende o “catálogo” da Seek, com fotos das obras que fariam parte da bienal]. Mas o trabalho existe fisicamente e eu acredito nele, acredito que ele é cuidadosamente conceitualizado, produzido com paixão e feito com cuidado e habilidade. Fazer isso tudo é a busca para enfatizar minha forma de trabalhar: sozinho e com grande variedade de meios de produção em um nível de habilidade elevado.
Sua bienal vai virar realidade?
A exposição física acontecerá em um ou dois anos, depois que os locais forem acertados. Hoje você já pode ir à Biblioteca Pública de Nova York e pedir para folhear o catálogo da Seek. E no futuro ele vai estar disponível em várias biliotecas e instituições.
Acredita que os artistas inventados por você são melhores do que alguns artistas de carne e osso?
Alguns deles certamente têm habilidades técnicas bem apuradas, acima da média dos artistas de hoje.