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Brasil, transfobia e Trump: conversamos com o elenco de Sense8

Num papo com o elenco por trás de Lito, Kala e Will, falamos sobre a passagem deles por nosso país e sobre temas relevantes da série

Por Felipe Germano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 8 dez 2016, 13h22 - Publicado em 6 dez 2016, 16h33

Sense8 estreou no ano passado, e desde então foi um sucesso. Não é à toa. A série uniu a mais popular produtora de conteúdos da atualidade, a Netflix, com uma das duplas mais relevantes do cinema na última década, Lana e Lilly Wachowski – as diretoras da trilogia Matrix. Por trás disso, uma trama que une ficção científica com questões sociais: em Sense8, oito pessoas espalhadas pelo mundo começam a compartilhar sensações e sentimentos, enquanto tentam ajudar uns aos outros em seus dilemas pessoais e a sobreviver a uma grande conspiração que afeta a todos. A trama ainda segue sempre abordando temas delicados, como a homossexualidade, a causa transexual, preconceito, machismo e religião.

Neste fim de semana, três dos oito protagonistas vieram à Comic Con Experience, em São Paulo, e bateram um papo exclusivo com a SUPER. A conversa, você confere abaixo:

SUPERINTERESSANTE: Em maio, vocês vieram ao Brasil pra Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, né? Como foi isso?

Tina Desai (Kala): Foi incrivelmente reconfortante. Obviamente, eu, que sou indiana, não tinha nem ideia que existia uma festa como essa. E é uma das coisas no país que deixa este lugar tão incrível e divertido. Estávamos em um carro de som, na Avenida Paulista e Miguel fez seu discurso. O público foi recíproco com energia e entusiasmo, agindo como se fosse parte do show. Como se quem estivesse falando ali fossem os personagens, não os atores. E além disso, só de ver aquele número imenso de pessoas, ver como elas se vestiam, pra mim, foi uma experiência incomparável. Foi muito divertido.

Miguel Ángel Silvestre (Lito): Pra mim foi incrível porque eu vivi algo inesquecível. Eu estava atuando lendo algumas falas que Lana escreveu. Uma falas muito lindas. Que foram se misturando com a realidade, porque muita gente na Parada não sabia que estávamos filmando. Teve um momento em que um apresentador me chamou, e eu comecei a falar, e as pessoas ficaram em silêncio. Na primeira vez, consegui falar meu discurso e as pessoas estavam me ouvindo. E ter essa energia, esse sentimento, esse amor, vindo de pessoas… E elas estavam olhando pro Lito Rodrigues, me apresentaram dessa forma…

Brian J. Smith (Will): É, em determinado momento o pessoal começou a gritar “Litoo, Litoo…”˜

Miguel A.: Foi incrível como realidade e ficção se misturaram naquele dia.

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Brian J.: É, e não estávamos naquela Parada por acidente. Uma coisa muito especial está rolando no Brasil em relação ao Sense8. Não foi uma ação de marketing. Não é uma coisa como “Ah, aquele pessoal no Brasil curte o programa”. Não. A gente escolheu fazer uma das cenas mais importantes da temporada aqui porque estamos sabendo do amor que rola pela série. Foi um pequeno presentinho da série pro país. Parabéns, Brasil, vocês conseguiram o papel.

SUPER: Mas a série vai retratar de fato o Brasil, ou servirá só como locação, representando outra parte do mundo?

Miguel A.: Não, você definitivamente vai reconhecer São Paulo. Temos cenas aéreas, falamos claramente que estamos na cidade, mostramos o aeroporto, um restaurante em que passamos antes de ir pra Parada – de lá dá pra ver todo o horizonte de São Paulo.

SUPER: Não sei se vocês sabem, mas o Brasil é o país mais transfóbico do mundo…

Miguel A.: Eu não sabia disso!

SUPER: Mesmo assim, vocês tem uma gama grande de fãs por aqui. Por que vocês acham que isso acontece?

Brian J.: Se as pessoas daqui realmente sentem tanta transfobia, acho que eles acabam encontrando um lar no seriado. Talvez o programa ajude as pessoas de alguma forma. Estivemos sob pressão por muito tempo nos EUA, avançamos bastante e conseguimos alguns diretos. Isso nos deixa confortáveis. Talvez as pessoas daqui não estivessem tão confortáveis. E estavam precisando dessa dose extra de aconchego e coragem. E elas conseguem esse tipo de sensação quando assistem a série que foi escrita tão corajosamente pela Lana Wachowski.

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SUPER: E como vocês acham que os personagens de vocês reagiriam à eleição do Trump?

Miguel A.: Nossa, hahaha! Eu com certeza iria direto até o policial Gorski e diria: “Preciso da sua ajuda! Por favor cuide de mim!” Lito, por motivos óbvios, ficaria bem triste!

SUPER: E tem uns rumores rolando sobre um personagem brasileiro na segunda temporada. Isso é real?

Brian J.: Não sei se posso falar sobre isso… Até porque não sei se é verdade! Hahaha. A gente leu o roteiro já faz um tempão.

Tina D.: Fizemos algumas cenas bem importantes por aqui, e em uma delas aparece São Paulo inteira… Mas se tem um personagem específico brasileiro, acho que não.

SUPER: Vocês são de diferentes partes do mundo. O que de mais interessante vocês descobriram sobre os países um do outro?

Miguel A.: Bom, eu vivo na Califórnia, conhecia gente linda como o Brian…

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Tina D.: Ah, eu não?? HAHAHA.

Brian J.: Ei! Ele está falando dos EUA, nós somos bem sensíveis com esse tema! Hahaha.

Miguel A.: É que é sobre os EUA, hahaha. Eu amo lá. Amo o Dia de Ação de Graças também! E sobre a Índia, achei incrível que os espanhóis e os indianos são muito parecidos. Falam alto, são apaixonados, se unem, saem pras ruas e gostam de ficar fora de casa. Fiquei lá só por quatro dias, mas revivi o mesmo sentimento que tive quando vi a Tina lendo suas falas pela primeira vez. Me deu a sensação de que ela poderia estar em qualquer filme romântico espanhol. Eles representam a paixão espanhola.

SUPER: E qual a importância dessa diversidade de elenco?

Brian J.: Bom, eu cresci no Texas. Lá é muito branco, muito religioso. Eu nunca pensei que teria a oportunidade de viajar o mundo e conhecer tanta gente que acabou virando uma família pra mim. Eu cresci muito com eles. É uma experiência pessoal muito gratificante, conhecer esse pessoal.

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