Texto Rodrigo Rezende, Silvia Haidar e Guilherme Castellar
Você sabe que a China cresceu 11,4% no ano passado, que está tendo uma baita dor de cabeça por causa do Tibete e tudo o mais. Mas, se você quer mesmo entender a China, deixe um pouco de lado o que está nos jornais e leia sobre um Mao Tsé-tung perseguido, gente que morre só por abrir a boca e um macaco.
Jornada ao Oeste
Ele carrega montanhas nos ombros e voa montado nas nuvens. Mas não é um pássaro nem um avião. É o macaco Sun Wukong, o personagem em quadrinhos mais popular do Oriente. Inspirado em um episódio histórico – diz a lenda que ele participou da jornada do monge Xuang Zang (602-664) rumo ao oeste – e cultuado por Mao Tsé-tung pela “audácia em pensar, trabalhar e tirar a China da pobreza”, o macaco-herói foi um eficaz instrumento de propaganda em um país com 85 a 90% de analfabetos até a década de 1940. E continua vivo até hoje no famoso game DragonBall.
Frase: “Seu macaco ingrato! Recusa-se a aprender isso, recusa-se a praticar aquilo… Que história é essa?’ Enquanto o sumo sacerdote falava, pegou a vara e deu 3 pancadas na cabeça de Sun Wukong.”
Wu Cheng’en, Editora Conrad, 466 páginas, R$ 42
Rodrigo Rezende
A Longa Marcha
Sob a ameaça de serem mortos por soldados contra-revolucionários, Mao Tsé-tung e mais de 80 mil pessoas deixaram o sudeste da China, em 1934, e foram rumo ao norte. A viagem, famosa por atravessar “25 mil lis” (o equivalente a 12 500 quilômetros) e durar 370 dias, entrou para a história como A Longa Marcha. Em 2002, uma dupla de jornalistas britânicos decidiu refazer a pé o mesmo percurso do Exército Vermelho. Ao longo do caminho, Jocelyn e McEwen entrevistaram camponeses que participaram da marcha, encontraram uma suposta filha desaparecida de Mao e desvendaram mitos da jornada.
Frase: “Desde que você não fale nada de ruim sobre o Partido Comunista nem use a palavra ‘lésbica’, a autorização para refazer a Longa Marcha fica bastante desimpedida.”
Ed Jocelyn e Andrew McEwen, Editora Record, 350 páginas, R$ 50
Silvia Haidar
O Segredo Chinês
Por trás da China que cresce sem parar, esconde-se outra, feudal, onde representantes do Partido Comunista matam aldeões que se atrevem a auditar as finanças da vila, jovens são torturados até a morte pelo atrevimento de reclamar de impostos abusivos e oficiais mantêm “centros de educação do povo” (campos de concentração criados na época de Mao), onde deixam centenas de pessoas presas só para extorquir dinheiro. Quer mais? Então saiba que para fazer esse livro-denúncia os autores passaram por vilas onde a única fonte de renda era vender o próprio sangue na cidade.
Frase: “Se você tem um porco, terá que pagar a taxa por ‘porco vivo’, a de abate do porco, a de ‘ganho de capital’… Às vezes, você é taxado por ter um porco quer o tenha ou não.”
Guen Guidi e Wu Chuntao, Editora Record, 266 páginas, R$ 39
Guilherme Castellar