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Em 1962, King Kong deveria lutar contra o monstro de Frankenstein – mas acabou enfrentando o Godzilla

60 anos antes de "Godzilla vs. King Kong", que chega ao Brasil em 29 de abril, os monstrengos se enfrentaram à beira do Monte Fuji. Saiba como esse filme foi feito.

Por Rafael Battaglia
Atualizado em 5 abr 2021, 21h27 - Publicado em 5 abr 2021, 21h18

O que acontece se você juntar um macaco e um lagarto gigantes, fantasias de látex e alguns milhares de dólares? Uma grande (e bizarra) festa de Carnaval, talvez. Mas foi dessa mistura que saiu o filme King Kong vs. Godzilla, em 1962. Pois é: sem computação gráfica, os dois monstros mais famosos do cinema se enfrentaram pela primeira vez, quase 60 anos antes de Godzilla vs. King Kong, que chega ao Brasil em 29 de abril.

Godzilla vs. King Kong é o quarto filme do chamado MonsterVerse, o universo compartilhado dos monstrengos da Warner Bros. em parceria com a Legendary Pictures. A empreitada começou em 2014 com Godzilla, dirigido por Gareth Edwards, e continuou com Kong: Ilha da Caveira (2017) – ambos filmes introdutórios, que reapresentaram a história de origem das criaturas. Em 2019, os créditos de Godzilla II: Rei dos Monstros deram a letra: os dois personagens iriam se enfrentar.

Dirigido por Adam Wingard, o novo filme da franquia custou aproximadamente US$ 200 milhões, mas já arrecadou quase US$ 300 milhões desde o seu lançamento em alguns países no final de março – é o melhor desempenho de um longa durante a pandemia.

O filme de 1962, naturalmente, é bem mais modesto. Com um orçamento de US$ 420 mil (US$3,6 milhões hoje), nada de CGI ou atores com cachês exorbitantes: tudo foi feito com maquetes, polvos (de verdade) e maquiagens de gosto duvidoso. Deu certo: até hoje, é o filme do Godzilla mais visto no Japão – e consagrou o lagartão como o monstro mais famoso da distribuidora Toho.

Os preparativos para o filme

King Kong surgiu quando tudo era mato. Ele é 20 anos mais velho que o Godzilla, e estreou nos cinemas em 1933 no filme homônimo em preto e branco com a clássica cena do Empire State. Naquela época, o monstro era “pequeno”: pouco mais de sete metros de altura. Nada comparado aos mais de 90 metros do último filme. Haja feijão com arroz.

Em 1954, Godzilla deu as caras. Ele foi criado pela Toho, uma grande distribuidora japonesa de filmes fundada em 1932. O filme foi um sucesso e, dois anos depois, foi lançado em uma versão re-editada para os EUA.

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O êxito do primeiro filme de Godzilla abriu caminho para toda uma galeria de monstros da Toho, como Mothra e Rodan (que apareceram em Godzilla II) – parte da fama da empresa, inclusive, deve-se aos kaijus, o gênero de TV e cinema das criaturas gigantes. Mas em 1955, o lagartão ganhou uma continuação que não foi bem recebida pelo público – e foi para a geladeira da Toho.

(Se você clicou neste texto para ler a história do Frankenstein, fique tranquilo. Vamos contá-la agora.)

Do outro lado do Pacífico, Willis O’Brien, responsável pela animação stop motion do Kong de 1933, tinha ideias para um novo filme com o gorila. Desta vez, a aventura seria um embate com o monstro de Frankenstein, criado pela britânica Mary Shelley no romance de 1818.

Os detalhes dessa ideia nunca ficaram claros. O monstro de Frankenstein aumentaria de tamanho? Diminuiriam o Kong? Seja como for, O’Brien desistiu do projeto por preocupações envolvendo os direitos da criatura de Shelley. É que apesar de ser um antigo personagem literário, os direitos pertenciam à Universal, que àquela altura já havia lançado vários filmes com ele.

(A partir dos anos 1930, a Universal lançou uma série de filmes de monstros: Frankenstein, Drácula, A Múmia, O Homem Invisível e por aí vai. Foi um hit, e alguns longas seguintes experimentaram ideias de crossovers e universos compartilhados –  décadas antes da Marvel e do MonsterVerse.)

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O projeto de O’Brien estava quase indo para a gaveta quando a Toho soube da ideia e resolveu oferecer Godzilla para aparecer no filme. Era a junção da fome com a vontade de comer: Kong estrelaria um duelo, e o estúdio japonês reviveria o seu personagem como parte das comemorações dos 30 anos do estúdio.

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King Kong vs. Godzilla (1962). IMDb/Reprodução ()

O filme

A história de King Kong vs. Godzilla parece um pouco bizarra – e é. Na trama, o sr. Tako, chefe da farmacêutica Pacific, quer aumentar a audiência dos programas de TV patrocinados pela empresa. Em determinado momento, ele recebe a dica que há uma criatura assustadora (Kong) na Ilha Faro e resolve capturá-la. Seria a atração perfeita para chamar a atenção do público.

Já Godzilla aparece por causa de um submarino nuclear americano que vai de encontro a um iceberg – onde ele estava preso há anos. O monstro se solta do bloco de gelo e passa a aterrorizar Tóquio. Não demora muito para que as pessoas decidam colocar os dois para brigar, na esperança que um acabe com o outro.

Em uma época sem computação gráfica, o jeito era improvisar. Cenas de terremotos e tsunamis, por exemplo, foram feitas com maquetes. Já o polvo gigante que ataca a Ilha Faro era um polvo de verdade, que se movia pelos cenários em miniatura. Quatro animais foram usados nas gravações. Ao final das filmagens, três foram soltos – e um virou jantar do diretor de efeitos especiais, Eiji Tsuburaya.

O visual dos monstros era feito de borracha – e as lutas não tinham nenhum compromisso a não ser divertir o público. “As cenas de combate tinham que ser engraçadas, já que os criadores do Godzilla estavam tentando copiar a moda do wrestlingexplicou ao New York Times William M. Tsutsui, autor do livro Godzilla on My Mind: Fifty Years of the King of Monsters. 

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Comicidade é o que não falta: em determinada cena, após derrotar o polvo, Kong se serve de vários barris de bebida dos moradores da Ilha Faro. Ele fica “bêbado”, cai adormecido e, assim, é levado por uma grande jangada ao Japão. Veja só:

 

O vencedor

Caso você não queira spoilers do filme dos anos 1960, é melhor parar por aqui. Mas vale o aviso: o longa, que está disponível no YouTube, tem um ritmo lento – os dois monstros só começam a brigar depois de quase uma hora. Mas, afinal, quem venceu a luta?

Na derradeira batalha, à beira do Monte Fuji, Godzilla usa todos os seus poderes para derrotar Kong – inclusive, o seu hálito atômico, aquela rajada de energia que ele solta pela boca. Parecia o fim da linha para o macaco, mas quando um raio o atinge, ele renova sua energia e contra-ataca. Os dois caem no mar e Kong ressurge, vitorioso.

Para muitos, a vitória de King Kong tem a ver com a percepção dos dois personagens naquela época. Até então, Godzilla era encarado como um vilão – uma metáfora ao medo japonês das bombas atômicas após Hiroshima e Nagasaki. A imagem da criatura como um anti-herói, uma força da natureza que luta contra outras ameaças, só apareceria dois anos depois, em 1964, no filme Guidorah – O Monstro de Três Cabeças.

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Por outro lado, Kong era extremamente popular e, ainda que não fosse representado como um herói, tinha uma personalidade mais amigável. Pela sua conexão emocional com humanos, ele era visto mais como um monstro incompreendido e protetor do que como uma ameaça. E claro, há a razão do mercado: uma versão do filme saiu em 1963 nos EUA pela RKO, estúdio que detinha os direitos de Kong. Colocá-lo como o “mocinho” poderia ser uma estratégia bacana para fazer dinheiro na terra do Tio Sam.

Contudo, há quem defenda que o final é ambíguo. Afinal, Godzilla é uma criatura que vive no mar – ele poderia simplesmente ter fugido. Nos EUA, rolou uma fake news de que, no Japão e em outros países orientais, um final alternativo dava o lagarto como o verdadeiro vencedor. Puro boato.

Entretanto, os finais são, de fato, ligeiramente diferentes. A versão dos EUA, por exemplo, mudou alguns diálogos e cenas de ação. E enquanto a versão japonesa mostra o rugido das duas criaturas no final do filme, a americana toca apenas o barulho de Kong.

O final ambíguo serviria de gancho para uma sequência – que foi pensada ao longo das décadas, mas nunca aconteceu. Também, pudera: em uma das ideias para um novo filme, Kong e Godzilla se uniriam para salvar o bebê de um rio de lava. Melhor ficar com o filme de 2021, que não é um remake nem nada do tipo, mas terá algumas referências ao confronto sexagenário.

Seja como for, King Kong vs. Godzilla foi extremamente importante para a popularidade dos dois personagens, especialmente de Godzilla. O longa o consagrou como um personagem marcante da cultura pop, aparecendo em mais de 30 filmes – e contando.

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