Sérgio Teixeira Jr.
Ao completar dez anos de existência, o Sónar, que acontece em junho em Barcelona, se confirma como um dos festivais mais bacanas do mundo. O evento procura reunir grandes nomes com artistas mais novos e experimentais. Neste ano, as atrações principais foram os shows de Björk, Underworld e Matthew Herbert, além dos quatro papas do tecno Carl Cox, Richie Hawtin, Jeff Mills e Laurent Garnier. No ano que vem, os brasileiros devem saborear um pouquinho do clima do festival (leia mais na pág. 14). VOLUME01 esteve no Sónar deste ano e conta um pouco do que aconteceu durante os três dias do evento. Quer um alerta? Prepare as pernas.
Quarta
Música do dia – Björk _ Its In Our Hands, remix do Soft Pink Truth
O festival começa oficialmente só na quinta, mas neste ano de aniversário houve um evento especial na véspera: o programa WorldWide, da Radio 1 londrina, foi transmitido ao vivo do Razzmatazz, uma casa noturna de Barcelona. O flyer prometia Laurent Garnier, o adorado DJ francês de tecno, e uma aparição raríssima do produtor inglês Matthew Herbert atrás das pick-ups. Além disso, um show surpresa. Quem era? Björk. Descalça e com o rosto coberto por um véu de jóias, ela tocou apenas quatro músicas. Mas ver um show de Björk num lugar pequeno, para umas 1500 pessoas, é uma experiência inesquecível. Matthew Herbert estava num dia de baixas – freqüências. Tocou música para rebolar, do Miami bass de 2Live Crew ao clássico Flatbeat, de Mr. Oizo. Laurent Garnier fugiu do tecno: mandou ragga e garage e fechou com o jazz funk dos brasileiros do Azymuth. Hora de ir dormir.
Quinta
Música do dia – Matthew Herbert – The Audience
No Sónar de Dia a música começa às 14h, mas, sob o calor de 30 graus (foi o junho mais quente de Barcelona em 20 anos), é melhor entrar no ar-condicionado do Museu de Arte Contemporânea, que sedia exposições, filmes, apresentações de software e debates, tudo parte do festival. Não dá para ver tudo, é claro. Perdi, por exemplo, o documentário “Breath Control”, que conta a história dos beatboxes, os rappers que imitam batidas com a boca. Refrescado, acompanho o DJ austríaco Patrick Pulsinger, dono do selo Cheap, que põe o povo para dançar electro e house. No mais, experimentos: ruídos e vocais distorcidos aqui, texturas sonoras ali. O melhor vem à noite, no show de Matthew Herbert. Depois de desbravar as fronteiras da house, Herbert decidiu voltar no tempo e fazer swing jazz – de verdade. Reuniu 20 instrumentistas na sala de concerto Auditori de Barcelona e tocou seu mais recente álbum, “Goodbye Swingtime”. Em meio à parede sonora dos instrumentos de sopro, Herbert incluiu seus blips e ruídos eletrônicos. A mistura funciona melhor em disco, mas, ainda assim, o show é emocionante.
Sexta
Música do dia – Prefuse 73 _ Storm Returns
Mal há tempo de digerir a noite anterior e sobe ao palco, às 16h, outro cara que leva a música adiante: Prefuse 73. Ele jura que é só hip hop, mas o som que sai do seu sampler não tem nome. Misturando estilhaços de vozes de MCs, cliques e blipes de tecno e um sintetizador analógico, Prefuse 73 hipnotiza a audiência. Ainda em transe, vejo Cristian Vogel e o tecno acadêmico de Errorsmith. Abandono o pop eletrônico de Schneider TM na metade para a parte noturna da maratona. O Sónar de Noite está hiperlotado para ver Björk. Ver é a palavra errada. Entre mais de 10 mil pessoas e com apenas 1,70 de altura, dá para ouvir, e só. A falta de telão é compensada pelas clássicas “Human Behaviour” e “Hyperballad”. Depois, corro para os grooves defumados de DJ Vadim (Rússia) e DJ Krush (Japão). Espio em Richie Hawtin, que de novo só tem o cabelo. Vou embora antes do set de Aphex Twin. É um crime, eu sei, mas preciso viver até o fim do festival.
Sábado
Música do diaDK7 _ The Difference
Descubro no dia seguinte que a volta pós-Aphex Twin foi infernal: não havia transporte. A tarde de sábado está mais tranqüila. Fico no ar-condicionado do museu até as 18h, hora da apresentação ao vivo do canadense Akufen. O repertório do disco “My Way” fica de lado. Ele faz um set de house cheio de cliques e batidas gordas. Mas, no fim do show, o anticlímax do ano. Seus dois laptops dão pau. Akufen dá um sorriso amarelo e balbucia para o público: “Shit happens”. E como: foi uma ironia cruel para o criador da técnica de produzir músicas com uma colagem de samples de milissegundos. À noite, o show do Underworld também não chega a ser uma decepção, mas está longe de empolgar. É um “best of”: Born Slippy, Moaner, Push Upstairs etc. Na seqüência assisto Jeff Mills pelo telão. Concluo que, se ele fosse pago pelo trabalho manual, estaria milionário. O homem não pára. Corro para ver DJ Hell. Estou ali para saber qual é a nova moda do homem que deu ao mundo o electroclash. Pelo jeito, é o acid house e a psicodelia do sintetizador TB-303. Cometo, então, outro crime: vou embora antes de Laurent Garnier. Não tenho pernas, não tenho ouvidos, não tenho dinheiro. Cerveja e água custam 2 euros, quase 7 reais ao câmbio da época, e este é o quarto dia de balada na seqüência. Mas a missão está cumprida: deixo o Sónar mais pobre e pronto para dormir uma semana inteira…
Internet
Site oficial do Sónar – descrição das dez edições do evento, fotos e arquivos multimídiawww.sonar.es
Worldwide ao vivo do Sónar 2003 – site do programa da Radio 1 transmitido ao vivo. Dá para ouvir trechos das apresentações https://www.bbc.co.uk/radio1/urban/peterson/030612_sonar.shtml
Motor Music – site da produtora que traz o Sónar para o Brasil https://www.motormusic.com.br