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Frase rabiscada em “O Grito” foi escrita pelo próprio Munch, sugerem estudiosos

“Só pode ter sido pintado por um louco”: a caligrafia vista na obra é comparável àquela encontrada nos diários do pintor. Eventos passados em 1895 também justificam a hipótese.

Por Carolina Fioratti
24 fev 2021, 16h04

A obra “O Grito”, de Edvard Munch, possui quatro versões, que foram pintadas entre 1893 e 1910. A primeira delas, guardada pelo Museu Nacional da Noruega, possui um detalhe especial: no canto superior esquerdo há uma frase rabiscada, quase imperceptível, dizendo “Só pode ter sido pintado por um louco!”. Durante anos, historiadores pensaram que a observação houvesse sido feita por algum vândalo, mas estudos recentes indicam que o próprio artista deixou a mensagem. 

Para chegar a essa conclusão, pesquisadores do Museu Nacional da Noruega tiraram fotografias do quadro com uma câmera infravermelha – uma forma de destacar a mensagem escrita com grafite e investigá-la mais de perto. Os historiadores compararam a caligrafia com aquela vista nos diários e cartas escritas por Munch, concluindo que as letras eram idênticas. Além disso, os cientistas sugerem que um vândalo teria rabiscado uma área maior do quadro, com o intuito de ser facilmente notado, mas a frase está praticamente escondida. 

Fotografia infravermelha da frase encontrada na obra
A frase foi notada pela primeira vez em 1904, durante uma exibição em Copenhage, Dinamarca. (Museu Nacional da Noruega/Reprodução)

Eventos ocorridos em 1895 sustentam a hipótese. Foi nesse ano que a obra foi exibida pela primeira vez ao público norueguês na galeria Blomqvist (Oslo), abrindo espaço para diversas críticas. Henrik Grosch, crítico de arte e diretor do Museu Norueguês de Artes Decorativas e Design, escreveu que, após aquela pintura, “não se poderia mais considerar Munch um homem sério com um cérebro normal”.

Os comentários negativos não pararam por aí. Após o episódio, um grupo de estudantes resolveu organizar um debate público para discutir o trabalho de Munch. Houve tanto elogios quanto críticas, mas uma delas parece ter ferido o artista, que estava presente no evento. Johan Scharffenberg, um estudante de medicina, disse que as obras de Munch, principalmente o Auto-Retrato com Cigarro (1895), davam motivos para questionar a sanidade do pintor. 

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Além das críticas, Munch também estava preocupado com a saúde mental de sua família. Seu pai e seu avô sofriam do que era conhecido na época como “melancolia”, enquanto sua irmã havia sido internada no Hospital Psiquiátrico Gaustad naquele mesmo ano. Os pesquisadores acreditam que a frase depreciativa foi escrita em “O Grito” em algum momento posterior à discussão organizada pelos jovens.

Mai Britt Guleng, curador do Museu Nacional da Noruega, explicou em nota: “A inscrição pode ser lida como um comentário irônico, mas ao mesmo tempo como uma expressão da vulnerabilidade do artista. Escrever na pintura acabada mostra que criar para Munch foi um processo contínuo”.

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