Galeria a céu aberto
Com um spray na mão e muitas idéias na cabeça, os grafiteiros transformam a cinzenta São Paulo em um show de arte multicolorida.
Rafael Kenski
ESTILO NA RAÇA
O graffiti começou a aparecer em muros e paredes paulistanos no final dos anos 70. Isolados dos artistas que praticavam esse gênero no resto do planeta, os brasileiros desenvolveram um estilo próprio, hoje reconhecido entre os melhores do mundo. “Desenhávamos todo dia, toda hora e em qualquer superfície”, dizem os pintores dessa imagem, que se mantêm anônimos sob a alcunha Os Gêmeos
PRÓ E CONTRA
Não dá para fugir da polêmica. Muitos grafites são de inegável qualidade artística, consentidos ou até encomendados. Outros não passam de vandalismo e poluição visual. Há quem pratique a arte apenas pela diversão de provocar os transeuntes e deixar sua marca entre a multidão anônima. Mas há também os que usam o espaço para a crítica social. É o caso de Herbert, o autor deste trabalho:“Pretendo retratar a frieza e a individualidade dos dias de hoje”, diz ele
OBRA ABERTA
A maioria dos objetos de arte tradicionais – quadros, esculturas, tapeçarias etc. – acaba confinada a uma elite. O graffiti, ao contrário, invade os espaços públicos e abertos, incorporando sem cerimônia a paisagem urbana que o cerca: calçadas, postes, prédios, hidrantes… É como se todos os elementos da rua fossem partes da mesma obra
DANÇA, POESIA E PICHAÇÃO
A explosão do movimento hip hop entre os jovens negros de Nova York, no início dos anos 80, injetou sangue novo na estética do graffiti. As pichações com letras gorduchas– não só nas paredes da cidade, como nos túneis e vagões do metrô – se tornaram um elemento tão importante desta revolução cultural quanto as batidas e versos do rap e os passos e rodopios da breakdance. Quase instantaneamente essa influência nova-iorquina tomou também as ruas de São Paulo
INTIMIDADE EFÊMERA
Queira ou não, quem passa todo dia pela mesma pichação acaba convivendo em interação com ela. O dono deste bar, impressionado com a arte da dupla Os Gêmeos, encomendou a eles a decoração de uma de suas paredes. Logo depois de ficar pronta, porém, mandou apagar a pintura, pois sonhava todas as noites com o personagem retratado e não conseguia mais dormir direito
TOQUE NATIVO
O spray em lata é a tinta mais usada pelos grafiteiros. Por isso, o emprego de outros materiais – como o látex aplicado sobre máscaras vazadas, para delimitar a região a ser pintada – tornou-se marca registrada dos pichadores brasileiros. “Queremos fazer algo novo e diferente, que seja nosso”, dizem Os Gêmeos, que pintaram este painel junto com o artista Vitché
DOMÍNIO GLOBAL
A originalidade do graffiti brasileiro levou vários artistas a participarem de exposições na Europa e nos Estados Unidos. Da mesma forma, alguns dos mais consagrados grafiteiros internacionais já vieram mostrar seu trabalho em São Paulo. Esta imagem, na Avenida 23 de Maio, é parte de um painel feito por uma equipe mista de brasileiros e alemães em outubro de 2001
O CRIME E A LIVRE EXPRESSÃO
Uma coisa é embelezar uma cidade feia, outra é sujar muros com garatujas e rabiscos ininteligíveis. O graffiti caminha sempre nesse limite. “Mesmo que agrade as pessoas, pintar espaços públicos é um ato ilegal e uma requisição política. Queremos mostrar que a rua é do povo”, justifica-se Herbert, que assina esta obra tão bela quanto angustiante