Guerra explícita
Sua obra Maus misturava cenários detalhados e elementos surreais para narrar a saga de seus pais judeus durante a Segunda Guerra.
Rafael Kenski
Em 1992, o americano Art Spiegelman tornou-se a primeira pessoa a conquistar, com uma história em quadrinhos, um Pulitzer, o prêmio mais cobiçado do jornalismo mundial. Sua obra Maus misturava cenários detalhados e elementos surreais para narrar a saga de seus pais judeus durante a Segunda Guerra. A maior proeza de Spiegelman, no entanto, foi fazer com que o mundo levasse a sério a possibilidade de um jornalismo em quadrinhos. Ainda bem que esse espaço foi aberto e nos trouxe ao Brasil a obra Área de Segurança Gorazde, do cartunista americano Joe Sacco (Conrad). É o relato mais detalhado, envolvente e cruel da guerra ocorrida na Iugoslávia na década de 90. Em 1995, depois de sofrer ataques de sérvios, de bósnios e da OTAN, a cidade de Gorazde, na Bósnia-Herzegovina, havia se tornado um enclave – uma área de segurança da ONU cercada de forças sérvias por todos os lados. Sacco fez quatro viagens até lá e descreveu as histórias da guerra com a interatividade dos romances e as imagens do cinema.
Mostra os prédios destruídos e as milhares de pessoas mortas com brutalidade, muitas vezes pelos próprios amigos de infância. Estão lá também os detalhes cotidianos, como as festas noturnas e as meninas que imploram por uma calça Levis. Qualquer leitor – mesmo os que não estão acostumados com quadrinhos – sairá da obra abalado e com um conhecimento profundo da guerra na Bósnia.