Cíntia Cristina da Silva
Um poderoso rei persa descobriu que a esposa lhe era infiel. Alucinado, mandou matar a rainha e para não voltar a ser enganado decidiu casar-se com uma jovem diferente por noite – e matá-la na manhã seguinte. Assim foi até Sahrazad resolver que seria ela a próxima noiva. Para manter a vida, após consumar o casamento, ela começou a contar uma história para o marido. Ao amanhecer, o soberano não pôde ordenar o assassinato: queria saber o final. Noite após noite, ouviu relatos de gênios cujas cabeças roçavam as nuvens, aventuras do marujo Simbad, Ali Babá e os 40 Ladrões e Aladim. Esse é o fio condutor das Mil e Uma Noites, obra do final do século 14 que só agora tem a primeira tradução do árabe para o português. Mamede Mustafá Jarouche, professor da USP, resgatou a essência e a beleza dos manuscritos. Também corrigiu erros da versão que conhecíamos, traduzida de uma edição francesa do século 18 que era repleta de omissões.
• Manuscritos originais das Mil e Uma Noites carregam nas descrições sexuais. A tradução de Jarouche resgata esses trechos, excluídos da versão francesa.
• Um exemplo do recato francês: no primeiro capítulo, lia-se “o pudor não me permite contar tudo o que se passou entre as mulheres e os negros”. Na versão que chega ao Brasil, descobrimos que o conto, na verdade, dizia que “um escravo negro abriu-lhe as pernas, penetrou entre suas coxas e caiu por cima dela”.
• A coleção terá cinco volumes, traduzidos de manuscritos da Biblioteca Nacional de Paris. O primeiro volume tem histórias de 170 noites.
• Acredita-se que o livro original seja uma compilação de histórias transcritas para o árabe. O historiador Masudi, que viveu por volta de 950 d.C., dizia que os contos tinham origem indiana, persa e grega.
LIVRO DAS MIL E UMA NOITES – VOLUME 1
Tradução do árabe: Mamede Mustafá Jarouche
Globo, 424 páginas, R$ 55