James Joyce para principiantes
O título original, Pomes Penyeach, é um trocadilho típico de Joyce. Reproduz a escrita errônea de um cartaz de feira, oferecendo pomes .
Eduardo Sterzi
Alguns leitores, à mera menção do nome do irlandês James Joyce (1882 – 1941), já se sentem desanimados a enfrentar suas obras, se não simplesmente repelidos. Como se arriscar à leitura daquilo que é considerado incompreensível – ou, em casos extremos, ilegível – mesmo por críticos e especialistas do maior gabarito?
Começar por suas produções menos complexas é uma sugestão para quem for ousado o bastante para superar o desalento prévio ou precoce diante de monumentos esmagadores como Ulisses ou Finnegans Wake (traduzido no Brasil, por enquanto apenas parcialmente, como Finnicius Revém). Nosso hipotético leitor poderá iniciar sua aventura joyciana pelos contos de Dublinenses ou pela novela Um Retrato do Artista Quando Jovem, ou ainda por seus poemas, recolhidos nos livros Música de Câmara e Pomas, um Tostão Cada (Iluminuras), cuja edição brasileira acaba de sair.
O título original, Pomes Penyeach, é um trocadilho típico de Joyce. Reproduz a escrita errônea de um cartaz de feira, oferecendo pomes (frutas como maçã ou pêra, ou seja, pomas) a um penny cada; mas pomes é também um anagrama de poems (poemas). Os 13 poemas que compõem o livro – uma dúzia mais um de lambuja, seguindo um costume dos comerciantes irlandeses – foram escritos em Trieste, entre 1913 e 1916, e publicados em Paris, no ano de 1927. Sua maior qualidade é a melodia delicada, aspecto infelizmente menosprezado pelo tradutor Alípio Correia de Franca Neto, que optou por uma versão quase literal e destituída de força lírica.