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Let it be: o que o fim dos Beatles pode te contar em tempos de pandemia

O último hit da banda foi composto por Paul estressado e exausto – mas com um pouquinho de esperança para compartilhar.

Por Alexandre Carvalho
Atualizado em 27 out 2020, 10h56 - Publicado em 10 abr 2020, 19h58

Neste momento tão à flor da pele para todo mundo, me lembrei deste texto que escrevi para o dossiê SUPER “Beatles – Música por Música” – que você pode ler completo aqui. O texto fala de como a canção “Let It Be” nasceu quase como uma experiência religiosa, quando Paul McCartney lidava com um dos piores momentos de sua vida, o fim iminente dos Beatles. Uma música que parece dizer: “calma, vai passar”. O texto vai assim:

Embora já usasse a droga desde meados de 1968, o vício de Lennon em heroína só chegou a seu período mais extremo nas sessões do projeto Get Back. E o efeito prático da dependência química foi que, durante a produção do álbum Let It Be, John se portava como uma sombra – sua criatividade estava desligada.

Repare: não há nenhuma grande canção (nova) de Lennon no disco. “Across the Universe”, seu grande momento, tinha sido gravada um ano antes. “One After 909” era o resgate de uma música feita nos anos 1950. E todo o resto da sua contribuição foi de canções mal-acabadas e algumas vinhetas… A exceção mais vigorosa foi a parte “Everybody Had a Hard Year”, dentro da música “I’ve Got a Feeling”… de Paul.

Esse estado zumbi do antigo líder jogava toda a responsabilidade nos ombros de McCartney. Ele já tinha sido o mentor de Sgt. Pepper’s, idealizou Magical Mystery Tour, foi o único engajado para que o projeto Get Back vingasse… Até na lendária apresentação no topo do prédio, Paul só faltou arrastar os outros três para o palco improvisado.

O desgaste de ser sempre o homem do “vamos lá, pessoal” – como um chefe de quem as pessoas falam mal pelas costas – somou-se a novas pressões. Desde que Epstein morreu, os Beatles tiveram de lidar com contadores e advogados. Relações marcadas por conflitos de interesse, que foram acumulando uma montanha de ressentimento entre os quatro.

Até que, à beira de um colapso nervoso, Paul uma noite sonhou com a mãe, Mary – que morrera de câncer quando ele tinha 14 anos. Nesse sonho, ela acalmava o filho: “não se preocupe, tudo vai dar certo… deixe estar”. Esse devaneio antidepressivo foi a inspiração para que McCartney escrevesse a melhor de todas as letras de autoajuda – e com uma melodia inesquecível ao piano.

Como sucede a muitos desesperados, Paul se aproxima da religião em “Let It Be”, com expressões que caberiam na boca de um pastor: “e quando a noite está cheia de nuvens, há ainda uma luz que brilha sobre mim”. Sua mãe parece assumir a figura de uma santa, especialmente Nossa Senhora, coincidindo até no nome, Maria: “na minha hora de solidão, ela aparece de pé bem diante de mim, dizendo palavras sábias”.

O nome dessa experiência mística, entre os religiosos, é epifania. Adotando aquelas sílabas tranquilizantes como um mantra, Paul McCartney escreveu um dos sucessos mais grandiosos de sua carreira – ao mesmo tempo em que abria os olhos para além da ilusão juvenil da amizade eterna. A mensagem embutida em “deixe estar” talvez tenha preparado o mais agregador dos Beatles para a realidade que ele não parecia disposto a aceitar: a maior banda da história do rock já pertencia ao passado – a um ontem no qual todos os problemas pareciam distantes.

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