Claudia Assef
Inventores do EBM, gênero de música eletrônica que chegou mais perto do movimento dark, grupo belga vem ao Brasil 15 anos depois de seu estouro. Não que isso seja um problema…
Se você curtia música eletrônica no final da década de 80, já deve ter sonhado em ver uma apresentação dos belgas do Front 242. Eles fizeram estardalhaço no mundo todo, inclusive no Brasil, ao lançar em 1988 o disco “Front by Front”. O álbum trazia “Headhunter” e “Never Stop”, hits que faziam o povo da pista literalmente enfiar os ouvidos na caixa de som: dançar colado nos alto-falantes era moda no final dos anos 80.
Entre saudosistas e gente mais jovem ávida por cultura musical, o Front 242 deve causar comoção em sua primeira visita ao Brasil. Por enquanto, só está confirmada uma apresentação do grupo, durante o TIM Jazz Festival, que acontece entre os dias 30 de outubro e 1º de novembro, no Museu de Arte Moderna, no Rio de Janeiro. A produção do evento não confirma, mas corre por aí que no line-up do festival estão nomes quentes: o DJ Erol Alkan e a banda nova-iorquina The Rapture, ambos expoentes do disco punk (leia mais na página 40), e o electro desbocado e funkeado da canadense Peaches. Perto dessas atrações, o Front 242 pode ser considerado um vovô da música eletrônica. Mas respeito com os mais velhos é sempre bom. Para começar, esqueça a idéia de músicos caindo aos pedaços. O Front 242 continua na ativa.
Prova disso é “Pulse”, disco mais recente, lançado em maio. O álbum deve sair em breve no Brasil, pelo Lado Z, selo da loja Indie Records, de São Paulo, que ainda promete outros bons lançamentos. Uma particularidade sobre o Front 242: o termo EBM (eletronic body music) foi criado por causa do som deles. O nome foi inventado pelos próprios músicos para situar no universo pop faixas como “Agressiva”, pesadas demais para serem rotuladas de acid house, mas dançantes além da conta para serem consideradas rock industrial. Numa entrevista por e-mail com VOLUME01, Patrick Codenys, fundador do grupo, falou sobre o show no Brasil, EBM e baladas:
VOLUME01 – O show no Brasil vai rolar em clima de “best of” da carreira?
Patrick Codenys – Sei que “Headhunter” foi um grande sucesso no Brasil, então vamos tocar música dessa época. É a nossa primeira vez no país, não sei o que esperar. Mas vai ser algo nessa linha “best of”, sim.
V01 – O grupo começou em 82, mas já fazia um som bem diferente do new romantic e do pós-punk que estavam em alta na época…
Codenys – É que a gente já gostava muito do som industrial, de bandas como Cabaret Voltaire, DAF, Throbbing Gristle. E também éramos fãs do alemães, tipo Kraftwerk, Can… Neu!
V01 – Vocês criaram o termo EBM?
Codenys – Foi. Precisávamos de um nome para explicar nosso som. E eletronic body music reúne as idéias de máquina e corpo.
V01 – Qual a contribuição do Front 242 para a posteridade nesses 20 anos?
Codenys – Acho que a gente conseguiu introduzir batidas mais pesadas na música de pista… e também fomos bastante criativos no uso de samples de notícias e sons estranhos em nossa música.
V01 – Você curte sair para dançar?
Codenys – Vou a raves com som pesado, mas também sou fã de DJs que tocam mais leve, tipo Speedy J e Jeff Mills.
Ouça
FRONT BY FRONT – FRONT 242
Lançado em 1988, é o disco que mais bem define o som da banda. Inclui o clássico das pistas Headhunter e é a trilha sonora ideal para você se preparar para o show
Pílulas
Numa entrevista publicada em 1991 por uma revista inglesa, os integrantes do Front 242 disseram que suas influências não são apenas os óbvios Kraftwerk e Can. “Há Wagner, Shostakovich, os futuristas italianos, grafismos.”Haja refinamento para um estilo que ficou conhecido como industrial…
O nome Front 242 não significa nada. Os integrantes da banda dizem que o número foi escolhido porque é visualmente agradável, e a palavra Front pode ser compreendida em várias línguas…
O vocalista Jean-Luc de Meyer já foi funcionário do departamento de recursos humanos de uma seguradora. Ele diz que a música “Welcome to Paradise” (de “Front by Front”) é um paralelo entre guerras tribais e o mundo corporativo. Dá para perceber que ele estava no lugar errado…