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Música eletrônica: Tecno verde_amarelo

Renato Cohen mete o pé na Europa

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h45 - Publicado em 30 set 2003, 22h00

Claudia Assef

‘Pontapé’ bate recordes de vendas e põe o DJ e produtor paulistano no mapa-múndi da música eletrônica. E olha que ele era roqueiro…

Se um amigo gringo te perguntar hoje como vai o Brasil, algumas palavras precisam estar na sua resposta: Fome Zero, juros altos, desemprego e… tecno!

Tecno, sim, porque afinal de contas num país com tantos pepinos a serem descascados o povo precisa de diversão. E nunca, em tantos anos, um fenômeno cultural genuinamente underground conquistou tanto espaço. É ou não é uma notícia para ser comemorada com rojão?

Olhe em volta, escute o rádio, zapeie a TV: nenhuma onda musical avassaladora ganha as prateleiras das lojas. Nada de febre de axé, pagode ou sertanejo. Chegou a hora e a vez de investir em nichos menores, e isso até as grandes gravadoras estão aprendendo – a Sony, por exemplo, já entendeu o recado e lança em breve um selo especializado em música eletrônica. Então, povo das pistas, um passinho à frente, por favor.

Se no passado a dance music penou no Brasil por não ter uma cara ou uma identidade, hoje isso não é mais desculpa. DJs como Marky e Patife, por exemplo, são reconhecidos e festejados em qualquer ida à padaria, seja a dita cuja na Freguesia do Ó, no Leblon ou em King’s Cross, em Londres. Agora que o drum’n’bass brasileiro já tem seus rostos estabelecidos mundo afora, é a vez do tecno verde-amarelo fazer barulho no exterior. E tinha rosto melhor do que o de Renato Cohen para abrir os trabalhos? Não, né?

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Aos 29 anos, o paulistano atravessa um momento de virada na carreira. Sua música “Pontapé” foi, com o perdão do trocadilho, o pontapé inicial na carreira internacional do DJ e tornou-se obrigatória para qualquer DJ de tecno. Lançado mundialmente em 2002 pelo selo Intec, dos super DJs Carl Cox e C-1, o single tornou-se líder de vendas. Foram 10 mil cópias em seis meses. Pode parecer pouco para um CD comercial, mas no mercado mundial de vinis é uma marca e tanto. Lembre-se: cada DJ que comprou “Pontapé” tocou a música para centenas, às vezes milhares de pessoas. “Segundo a [maior distribuidora de vinis do mundo] Prime, nunca um artista vendeu tanto num single de estréia”, diz, com um sorriso, o DJ.

Na história do selo, “Pontapé” só não bateu em vendas o megahit “Sunshine”, de Tomaz vs. Filterheadz. Renato acaba de encerrar uma temporada de quase três meses na Europa. Ficou baseado em Berlim, mas circulou por vários países. Seu tecno de graves potentes foi ouvido em megafestivais como Awakenings e Dance Valley (ambos na Holanda) e Nature One (Alemanha) e nos principais clubes de países em que o tecno é quase uma religião, como Fuse (Bruxelas), Rohstofflager (Zurique) e U60 (Frankfurt). Mas a cereja do bolo foi mesmo ter tocado no clube Space, em Ibiza, no último 29 de julho.

A data era especialíssima: aniversário de Carl Cox e também de cinco anos do selo Intec. No line-up, só deu a letra C: C-1, Cox e Cohen. “O som do Renato é funkeado. Tem energia, personalidade. Quando esses fatores se encontram, o sucesso é certo”, elogia C-1, um dos gringos que aposta forte no poderio de Cohen. C-1 também é fã da cena eletrônica brasileira como um todo. “É uma das mais fervilhantes do mundo, há muita gente talentosa. Se as coisas continuarem se desenvolvendo como estão, o Brasil poderá se tornar um líder mundial na produção de música eletrônica”, aposta o DJ.

Outro peso-pesado que se rendeu ao talento de Renato é o francês Charles Siegling, da dupla sino-francesa Technasia, dona do selo Sino. Em maio passado, o single “Spank”, outra faixa levantadora de pistas, foi lançado pelo selo da dupla. “É impressionante o que ele faz com suas produções”, disse Siegling à VOLUME01 em sua última vinda ao Brasil, em junho.

“As músicas dele são simples, mas muito poderosas”, diz o DJ. Ah, o single lançado pelo Sino também fez bonito: a leva de 4 mil discos da primeira prensagem se esgotou em uma semana. A revista é de música, mas tenha paciência para escutar mais um número. O primeiro vinil do novo selo Noise Music, do DJ mineiro Anderson Noise, já começou voando alto – graças ao nome de Renato. Com a faixa “Abelhas”, o lançamento vendeu 2 mil cópias em três dias. “A gente esperava vender isso em um ano e meio, talvez dois… foi explosivo”, diz Noise. “Fizemos toda a divulgação com as revistas, demos discos pros DJs certos. Mas, claro, teve o sucesso de ‘Pontapé’, que ajudou muuuuuuito”, diz o DJ, outro brasileiro que anda mostrando na Europa o que é que o tecno brasileiro tem. Mas e aí, Cohen, o sucesso tem mesmo seu preço? A vida muda?

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“Antes de ‘Pontapé’ ninguém me conhecia lá fora. Muita gente que eu conhecia e não olhava na minha cara virou meu amigo… É louco”, conta. Outra mudança: “Agora recebo um monte de pedidos para fazer faixas e remixes. Recuso a maioria. Não trabalho feito fábrica”, diz. “Hoje em dia tem produtor que lança dez singles num mês. Isso é horrível.” Bem, a fama certamente não mudou o look básico do DJ. A camiseta branca, a calça jeans e o tênis All Star permanecem intactos.

A fórmula de sucesso que parece morar dentro do computador de Renato atiçou os ouvidos dos publicitários. Músicas do DJ dão ares modernos às campanhas de marcas como Coca-Cola e Semp Toshiba. O produtor Dudu Marote, que também atua no mercado publicitário, é um dos fãs empolgados de Renato. “Além das faixas dele funcionarem nas pistas, elas são reconhecíveis, quase cantaroláveis”, elogia.

“O nível das produções do Renato é muito superior ao que é feito hoje no Brasil.” E será que o DJ perde o sono pensando em como criar outra “Pontapé”? “Não fiz a música com a intenção de ser um hit. Acho que meu som é naturalmente voltado para as pistas. Mas não conto com a sorte pra me dar bem. Me preocupo em fazer música boa. Se vai atingir muita gente, vender bem, ótimo.”

Agora o próprio Cohen tenta explicar por que ele e o Brasil são a bola da vez. “Sabe quando você é moleque e acha que Londres é o máximo? Está rolando neste momento esse mesmo deslumbramento com o Brasil”, acredita. “E é verdade mesmo, a cena eletrônica do Brasil anda muito legal. Hoje, em São Paulo, dá para sair à noite de segunda à segunda. Já em Londres, só tem umas duas festas de tecno importantes na semana”, compara. “Se hoje os gringos estão encantados com o Brasil, não é à toa. Aqui é todo mundo mais animado, empolgado.”

 

Sorte nossa que ele mudou de idéia

Renatinho quase virou roqueiro

Enquanto outros garotos andavam de skate, Renato desmontava aparelhos eletrônicos. Ainda criança, aprendeu a tocar instrumentos. No início dos anos 90, enquanto estudava artes plásticas, tornou-se baterista da banda Disk-Putas. Os primeiros experimentos com música eletrônica foram mostrados para amigos, como Mau Mau. Renato estreou seu live PA, o Level 202, no Hell’s Club, em 96. Modesto, diz que não gosta de boa parte das produções que faz. “Não sei por quanto tempo vou conseguir enganar as pessoas”, brinca.

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Ouça

PONTAPÉ – (INTEC RECORDS)

O hit que projetou Renato Cohen é a melhor música para entender seu estilo: simples, mas cheio de groove.

SPANK – (SINO)

Lançado pelo respeitado selo do duo Technasia, “Spank” está entre as preferidas dos principais DJs de tecno do mundo.

ABELHAS – (NOISE MUSIC)

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Da safra mais antiga das produções de Renato, a faixa pegou carona em “Pontapé” e também estourou na Europa.

 

Fila indiana

Três produtoresbrasileiros seguem os passosde Renato Cohen

Noise também faz barulho

Anderson também tem cartão de visitas internacional

O mineirinho Anderson Noise também anda rindo à toa. Vamos aos motivos:

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1) com Renato Cohen como principal artista, seu selo, o Noise Music, é o primeiro da América Latina a ter distribuição pela gigante Prime;

2) a edição de maio da revista inglesa “DJ” trouxe encartado um CD mixado por Noise e publicou matéria de página dupla só com elogios ao DJ;

3) seu disco mixado “Noise Music Compilation 2”, do ano passado, será lançado mundialmente em dezembro;

4) seu novo single, “Playblack”, já está entre os favoritos dos DJs Fergie e Carl Cox;

5) Depois de Marky, Noise é o segundo brasileiro a gravar um set para a Radio One, da BBC; e, ufa,

6) até o fim do ano, ele terá lançado singles pelos respeitados selos Eukatech e Mentor. Ah, tem mais: em julho, Noise e Mau Mau foram as estrelas da edição brasileira da festa Superfreak, do top DJ Mr. C. “Este ano está quente”, resume Noise. “Rico não dá pra ficar, reinvisto tudo no selo. Mas é muito legal ter um negócio que funciona como cartão de visitas do tecno brasileiro.” O bom momento do tecno nacional no exterior, ele diz, teve espaço graças à trilha aberta pelo d’n’b brazuca. “Tudo começou por causa de uma criatura negra [Marky] que deixou os gringos de queixo caído”, diz, no habitual tom sarrista.

Tem lenha no case

Murphy exporta tecno pesado para a Alemanha

Com técnica impressionante e um gosto por sons carregados na percussão, o DJ Murphy, 25, conseguiu se enfiar no top 20 da parada de música eletrônica alemã este ano com o single “Tem Lenha”. Nascido em Osasco, Murphy começou a discotecar aos 13 anos, misturando estilos de acid house a hip hop, passando pelo jungle (o pré-drum’n’bass). Em 97, passou a tocar tecno e não largou mais. O diferencial da discotecagem de Murphy são os scratches. A técnica, originada no hip hop, é utilizada por poucos DJs de tecno (alguns dos exemplos são o inglês Dave Clarke e o alemão WestBam). “Treinei durante anos até conseguir fazer algo diferente”, diz. A novidade agradou aos gringos, especialmente aos alemães. Murphy está de malas prontas para tocar na terra do chucrute.

Ordem e progressive

Júlio Torres está de olho em Ibiza

Mesmo sem fazer muito barulho no Brasil, o DJ paulistano Júlio Torres, 25, começa a construir uma reputação no exterior. Júlio, que começou a carreira há dez anos tocando num clube da zona leste de São Paulo, teve recentemente singles lançados pelos selos ingleses Hook Recordings e Panther, especializados em house progressivo, um estilo de música pouco tocado no Brasil, mas que enche pistas européias. Júlio também já vendeu faixas para coletâneas da própria Hook Recordings e de clubes de Ibiza, como o Space. O lançamento mais recente, o single “Supernova”, que saiu pela Panther, vendeu consideráveis 4 mil cópias.

 

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