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O que é “rage bait”, eleita palavra do ano pela Oxford University Press

Uma expressão nascida da era digital revela como a linguagem – e nossas emoções – estão sendo moldadas por uma internet cada vez mais incendiária.

Por Manuela Mourão
Atualizado em 1 dez 2025, 19h14 - Publicado em 1 dez 2025, 19h00

O Oxford English Dictionary anunciou nesta segunda-feira sua Palavra do Ano de 2025, e o termo vencedor dificilmente poderia ser mais adequado ao momento digital: rage bait, algo como “isca de raiva” em tradução literal.

A expressão, segundo o dicionário, faz menção ao “conteúdo online concebido deliberadamente para suscitar raiva ou indignação, sendo frustrante, provocativo ou ofensivo, normalmente publicado com o objetivo de aumentar o tráfego ou o engajamento de uma página ou conta de redes sociais específica”.  Em resumo: são conteúdos feitos para causar raiva e indignação e, assim, viralizar mais na internet.

A escolha – que venceu de outras finalistas como “biohack” e “aura farming” – reflete, segundo os editores da instituição, uma guinada nítida na forma como plataformas digitais moldam a atenção pública. Dados da Oxford University Press mostram que o uso da expressão triplicou em 2024.

“O fato de a expressão ‘rage bait’ existir e ter tido um aumento tão drástico no seu uso nos torna cada vez mais conscientes das táticas de manipulação às quais podemos ser submetidos online”, disse Casper Grathwohl, presidente da Oxford Languages, em comunicado

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Diferente de “clickbait”, termo “primo”, o “rage bait” mira diretamente as emoções. O objetivo não é apenas atrair cliques, mas desencadear reações intensas, alimentar discórdia e aprofundar polarizações.

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Para os lexicógrafos, essa mudança de foco é emblemática do estágio atual da cultura digital. “Antes, a internet se concentrava em capturar nossa atenção despertando curiosidade em troca de cliques, mas agora vemos uma mudança drástica para o sequestro e a influência em nossas emoções e em como reagimos”, explicou Grathwohl.

“Parece ser a progressão natural em uma conversa contínua sobre o que significa ser humano em um mundo movido pela tecnologia – e os extremos da cultura online.”

O termo, hoje onipresente em vídeos virais e discussões políticas, tem raízes surpreendentemente antigas: foi registrado pela primeira vez em 2002, em um grupo de discussão do Usenet, usado para descrever motoristas furiosos depois de serem pressionados a dar passagem.

Hoje é uma estratégia publicitária conhecida, por exemplo, no mundo dos jogos de celular. A tática é simples: basta gravar um vídeo de alguém indo propositalmente mal em um joguinho aparentemente fácil para motivar quem quer que veja a propaganda a resolver o problema por si. A batalha foi ganha, a pessoa instalou o jogo e ainda brincará com o novo app, tentando provar a facilidade.  

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Se o conceito parece abstrato, as manchetes recentes o tornaram palpável. Em novembro, a atriz Jennifer Lawrence admitiu ter criado uma conta anônima no TikTok para discutir – e provocar – fãs de cinema. Até figuras da extrema direita norte-americana foram envolvidas na discussão, quando influenciadores admitiram utilizar estratégias de “rage bait” para inflamar debates políticos.

A disputa pela Palavra do Ano

Desde 2004, o Oxford registra tendências linguísticas com base em um corpus de 30 bilhões de palavras extraídas de veículos de comunicação de todo o mundo. Nos últimos anos, seus escolhidos – de “selfie” (2013) a “pós-verdade” (2016), “tóxico” (2018), “vax”, de vacina, (2021) e “rizz”, de carisma, (2023) – se tornaram indicadores culturais da era digital.

Em 2024, o vencedor foi “brain rot”, expressão usada para descrever a suposta deterioração mental causada pelo consumo excessivo de conteúdo trivial. Grathwohl vê uma ligação direta entre as escolhas dos dois anos. “Onde ‘brain rot’ capturou o esgotamento provocado pelo excesso de tempo de tela, ‘rage bait’ destaca o conteúdo criado propositalmente para provocar indignação e gerar cliques”, disse. 

“Juntos, eles formam um ciclo poderoso onde a indignação gera engajamento, os algoritmos a amplificam e a exposição constante nos deixa mentalmente exaustos. Essas palavras não apenas definem tendências; elas revelam como as plataformas digitais estão remodelando nosso pensamento e comportamento”.

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Os outros concorrentes deste ano sinalizam ansiedades igualmente modernas. “Aura farming”, termo associado à construção cuidadosa de uma persona atraente, dobrou de uso após um vídeo viral de um garoto indonésio dançando na proa de um barco de corrida. Já “biohack”, que descreve tentativas de aprimorar o corpo ou a mente, ganhou impulso com conversas sobre longevidade entre magnatas da tecnologia – e até líderes globais. 

Rage bait não seriam duas palavras? 

Embora “rage bait” tecnicamente seja composto de duas palavras, os editores da Oxford rejeitam a ideia de que isso o desqualifique como Palavra do Ano. “Não estamos fazendo rage bait com vocês ao escolher duas palavras”, brincou o comunicado oficial. O Oxford considera termos assim como uma única unidade de significado. 

Não é a primeira vez que a eleição traz alguma discórdia. Em 2015, quando a Oxford escolheu o emoji de lágrimas de alegria como “palavra”, puristas da linguagem protestaram furiosamente. 

Para o presidente da Oxford Languages, “a Palavra do Ano é uma oportunidade de se distanciar dos ciclos de notícias desafiadores para refletir sobre como estamos evoluindo como cultura através dessa janela única”, disse para o The Bookseller. “Veja bem, nem todas funcionam, mas me lembro de alguns dos verdadeiros sucessos – como “podcast” e “selfie”, que provavelmente pareciam fenômenos passageiros – e o que eles fazem é iniciar uma conversa sobre linguagem que, na verdade, é uma conversa sobre quem somos e em quem estamos nos tornando”.

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E poucas expressões parecem fazer isso com tanta precisão quanto “rage bait”.

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