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O universo mágico do Anel

Uma obra de ficção como nenhuma outra. Um portal para outra dimensão. Uma história fantástica. Com vocês, o incrível mundo de J.R.R. Tolkien.

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Atualizado em 31 out 2016, 18h48 - Publicado em 30 nov 2001, 22h00

Rodrigo Cavalcante

Em 1999, a Amazon.com, maior livraria virtual do mundo, pediu a seus leitores que escolhessem o livro do milênio. O mais votado foi a boa e velha Bíblia, um resultado compreensível, não fosse por um detalhe: a Bíblia não foi escrita no último milênio. O título ficou então para o segundo lugar da lista: a trilogia O Senhor dos Anéis, do escritor britânico J.R.R. Tolkien (1892-1973), que desde 1955 vendeu mais de 50 milhões de exemplares em todo o mundo.

O resultado surpreendeu muita gente. Entre tantos pesos-pesados da literatura mundial, por que um livro de aventuras juvenil ficaria com esse título? Qual a fórmula mágica da obra que encantou tantas gerações de leitores? “O segredo de Tolkien é que ele não escreveu apenas enredos cativantes”, disse à SUPER Thomaz Shippey, autor do livro J.R.R. Tolkien: Author of the Century. “Ele criou uma mitologia própria, um mundo sem paralelo em detalhes na história.”

Esse mundo é a incrível Terra-Média um continente do tamanho aproximado da Europa Ocidental, com acidentes geográficos, vegetação típica, povos de diversas espécies. É lá que vivem os hobbits, seres menores que os anões que moram em tocas com portas e janelas redondas, não dispensam suas seis refeições diárias e levam uma vida confortável e pacata – quase nunca se aventurando além dos limites do condado. Mas tudo muda quando Frodo, um jovem hobbit, recebe a notícia de que um anel mágico, deixado para ele por seu tio, deve ser destruído antes que caia nas mãos do terrível Senhor do Escuro. É aí que começa o embate entre as forças do Bem e o Mal. De um lado está Frodo, o mago Gandalf e uma comitiva formada por elfos, anões e homens que devem levar o anel até a Montanha de Fogo de Mordor, único local em que a jóia pode ser destruída.

Do outro lado está o Senhor do Escuro, acompanhado de seres repugnantes como os Orcs, que tentarão impedir que Frodo atinja seu objetivo. As descrições da Terra-Média são tão ricas em detalhes que muitas pessoas simplesmente relutam em aceitar que ela não existe. “Os fãs da trilogia não se referem ao mundo de Tolkien como a um universo à parte”, diz Thomaz Shippey: “Esse mundo é o mundo deles”.

Thomaz foi consultado pelo diretor neo-zelandês Peter Jackson para filmar O Senhor dos Anéis, a produção que consumiu 270 milhões de dólares e cuja primeira parte estréia este mês nos Estados Unidos e mês que vem, no Brasil. Somente na primeira semana em que o trailer do filme foi liberado na internet, os fãs congestionaram a rede mundial fazendo 6,6 milhões de downloads. “Os realizadores foram bastante fiéis às descrições da Terra-Média”, diz Thomaz, que ensinou aos atores a língua dos elfos. Língua dos elfos? Isso mesmo. Tolkien era filólogo (estudioso de línguas), professor de Anglo-Saxão da Universidade de Oxford, e criou línguas faladas e escritas em sua Terra-Média, estudadas por fãs e especialistas em sua obra. “É claro que os atores não precisaram das 500 horas-aulas necessárias para falar a língua fluentemente”, diz Shippey.

O esboço desse mundo surgiu em 1917, quando o escritor lutava pela Inglaterra no front da Primeira Guerra Mundial e foi abatido por um inimigo quase invisível: o piolho transmissor da febre das trincheiras. Hospitalizado, ele preencheu o tempo escrevendo sobre um mundo fantástico, o universo que, mais tarde, fisgaria milhões de leitores. “O leitor sente que há uma história por trás de cada rio, castelo ou floresta”, diz Ronald Eduard Kyrmse, tradutor para o português da biografia J.R.R Tolkien, de Humphrey Carpenter, esgotado no Brasil. Ele é um dos aficcionados que fala de acontecimentos da Terra-Média com a familiaridade de quem vive lá, dentro da história.

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Em 1937, quase duas décadas antes da publicação de O Senhor dos Anéis, o primeiro relance desse mundo foi apresentado no livro O Hobbit, uma espécie de Harry Potter do seu tempo. Tolkien escreveu o livro para os filhos, narrando a derrota do terrível dragão Smaug e a descoberta do anel que dava poderes mágicos a quem o usasse. Mas foi somente após a publicação da trilogia que a jóia ganhou projeção, assim como a popularidade de Tolkien. Sua obra alimentou a imaginação de roteiristas de quadrinhos, desenhos animados e filmes de aventura. George Lucas costuma citar o escritor como fonte de inspiração para Guerra das Estrelas – os sabres de luz usados por Darth Vader e Obi-Wan em suas batalhas seriam equivalentes às espadas mágicas usadas por Frodo contra os seus inimigos.

Anos antes do lançamento do filme de Lucas, os hippies já haviam encontrado na Terra-Média o mundo ideal para as suas viagens psicodélicas. Eles se identificaram particularmente com os elfos, seres belos e imortais que cultuavam a natureza e tinham um profundo senso estético, traduzido na moda dos vestidos longos e fluidos dos anos 70. O embate de forças da Terra-Média inspirou até letras de rock. Na canção “Battle of Evermore” (Batalha de Todos os Dias), do grupo inglês Led Zepellin, versos como “Cante para a luz da manhã, o Senhor das Trevas cavalga na força hoje à noite e o tempo nos dirá tudo”, poderiam ter sido muito bem extraídos das páginas de O Senhor dos Anéis. Nas décadas de 80 e 90, o mundo de Tolkien migrou dos hippies para o universo dos jogos eletrônicos dos yuppies. Toda uma geração de programadores do Vale do Silício, na Califórnia, reconhece a Terra-Média como o primeiro grande mundo virtual.

“É um ambiente sem paralelo em detalhes e coerência”, diz Kris Johnson, coordenador de Treinamento da 3D Exchange, escola de animação eletrônica em Alameda, Califórnia, Estados Unidos. “Um exemplo para os designers de software de como construir mundos virtuais mais realistas”.

Como “programador” da Terra-Média, Tolkien chegava à beira da obsessão. Para estimar o tempo que seus personagens levariam caminhando sobre planícies e montanhas, ele consultava manuais de marcha do Exército. Desenhou mapas detalhados da Terra-Média, gastou infindáveis horas traçando genealogias dos seus personagens e, em toda a trilogia, cada fase da Lua segue seu intervalo preciso de dias. Até a flora e a fauna mudam de acordo com a latitude do percurso dos personagens. “Essa minúcia é uma das razões da minha paixão por Tolkien”, diz Chris Crishaw, presidente da Tolkien Society de Londres. “Não se pode negar que ele criou um mundo original, mesmo que alguns dos seus personagens venham de outras mitologias.”

Alguns dos personagens que habitam o ecossistema do escritor, como elfos e anões, já existiam nas tradições milenares do norte e do leste da Europa. “Sua obra está ligada à mitologia germânica, escandinava e, em menor proporção, à celta”, diz Verlyn Flieger, professora de Mitologia da Universidade de Maryland, em Baltimore, Estados Unidos. E a simbologia do anel, objeto central da narrativa? “Para os povos do norte da Europa, os anéis eram instrumentos de poder, fama e fortuna”, diz Johnni Langer, um dos maiores especialistas brasileiros em mitologia nórdica. “Nos funerais vikings, os homens eram enterrados com anéis de ouro rebuscados”, diz.

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Quando o último livro da trilogia foi publicado, em 1955, as reações dos críticos não podiam ser mais díspares. O poeta inglês W.A. Auden classificou-a de uma obra-prima comparada ao Paraíso Perdido, de Milton. Já o crítico americano Edmund Wilson disse que a trilogia não passava de lixo juvenil. “O establishment literário nunca simpatizou com a popularidade de Tolkien”, diz o biógrafo Thomaz Shippey. “Era difícil para os professores de literatura de Oxford entender como um professor de línguas pôde ter tanto sucesso como escritor.” Num meio dominado pelo modernismo, as histórias de Tolkien eram recebidas com a estranheza de afrescos renascentistas numa bienal de arte moderna. Os críticos parecem ainda não entender que o escritor britânico não construiu apenas uma história, mas um portal para outra dimensão que fisgou gente como a escocesa J. K. Rowling, autora da série Harry Potter – que inspirou o único filme dessa temporada capaz de concorrer com O Senhor dos Anéis.

O primeiro leitor que decifrar a frase no topo da página ganhará uma camiseta. Envie o e-mail para Superleitor.abril@atleitor.com.br

rcavalcante@abril.com.br

Para saber mais

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Na livraria

O Senhor dos Anéis – Edição Completa, J.R.R. Tolkien. Editora Martins Fontes, São Paulo, 2001

O Silmarillion, J.R.R. Tolkien.

Editora Martins Fontes, São Paulo, 2001

Na internet

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https://www.tolkiensociety.org.

Magos

Gandalf (Ian McKellen) é o sábio que adverte o jovem Frodo dos perigos existentes por trás daqueles que detêm o anel. Com seus poderes mágicos, ele protege os amigos na viagem em direção às Fendas da Perdição – onde o anel deverá ser destruído.

Hobbits

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Frodo (Elijah Wood) lidera a missão para o anel não cair nas mãos do Senhor do Escuro. Como todos os hobbits, ele é menor que um anão, tem pés grandes e peludos e não dispensa seis refeições diárias.

A obra de Tolkien é o primeiro grande mundo virtual

Elfos

Galadriel (Cate Blanchett) pertence ao gênero dos elfos, criaturas imortais presentes na mitologia escandinava que costumavam causar pandemônio entre os homens – trocavam bebês, disseminavam doenças entre o gado e levavam pesadelos aos mortais. Na trilogia, são seres de extrema beleza e bondade que ajudam Frodo e seu grupo no combate às terríveis forças do Senhor do Escuro.

Anões

Excelentes mineiros e metalúrgicos, os anões viviam sob a terra e estão presentes na mitologia da maioria dos povos do norte e do leste da Europa. No livro, Gimli (John Rhys-Davies) se une à sociedade para impedir que o anel chegue às mãos das forças do Mal.

Terra média

Geografia de Tolkien Frodo e seus companheiros cruzam cerca de 1 600 quilômetros para destruir o anel

No imaginário do norte da Europa, os anéis eram instrumentos de poder

Homens

Aragorn (Viggo Mortensen) é um dos enviados da espécie humana na missão liderada pelo jovem Frodo. Seu espírito guerreiro protege a Sociedade dos orcs e de outros terríveis seres enviados pelo Senhor da Escuridão

Onde começa a aventura

Frodo parte da pacífica Vila dos Hobbits ao saber que o anel mágico está sendo procurado pelo Senhor do Escuro. Após ser perseguido por forças do Mal, encontra refúgio junto aos elfos, em Valfenda

A aliança do Anel

Em Valfenda, terra dos elfos, fica decidido que o jovem Frodo e uma comitiva devem partir para a Montanha de Fogo de Mordor – local onde o anel pode ser destruído

Perigos subterrâneos

Sem conseguir cruzar as montanhas de Lorien, eles adentram as minas subterrâneas de Moria onde o mago Gandalf travará sua última batalha.

O fim da Sociedade

Após a instauração de uma guerra nas minas Thirit, a aliança se divide. Parte vai para a guerra e parte segue na direção da Montanha de Mordor.

Orcs

Tolkien não deixou informações precisas sobre a origem dos repugnantes Orcs. Acredita-se que eles são uma espécie de classe degenerada de homens – que gostam do escuro e lutam com ferocidade para impedir o avanço da Sociedade do Anel

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