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Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h49 - Publicado em 31 jan 2002, 22h00

Rodrigo Cavalcante

Quando o economista escocês Adam Smith publicou o clássico A Riqueza das Nações, em 1776, ele apontou dois fatores decisivos para decifrar por que alguns países do mundo são ricos enquanto outros são pobres. Do primeiro deles você provavelmente já ouviu falar: a liberdade do comércio – é a velha tese do liberalismo econômico segundo a qual quanto menos o Estado se meter na economia, melhor o comércio irá funcionar e mais próspero será o país.

Mas o escocês também levantou outro fator que ninguém costuma lembrar: a localização geográfica. Smith sabia que a posição de um país era determinante para o escoamento da sua produção. Os que estivessem próximos do mar teriam mais chances de enriquecer. Parece óbvio, não? “Apesar de óbvio, a maioria dos economistas negligenciaram a posição geográfica como explicação para a riqueza e a pobreza das nações”, disse à Super Andrew D. Mellinger, economista do Centro de Desenvolvimento Internacional da Universidade Harvard, em Cambridge, Estados Unidos.

Em companhia dos colegas Jeffrey D. Sachs e John L. Gallup, dois dos maiores especialistas mundiais em economia de países emergentes, Andrew publicou na revista Scientific American o polêmico artigo “The Geo-graphy of Poverty and Wealthy” (“A geografia da pobreza e da riqueza”). Após compilar indicadores econômicos atualizados de todo o globo e confrontá-los com o clima e a localização geográfica, o estudo constatou o que ninguém ousava afirmar: as nações situadas na faixa tropical são mais pobres do que as que estão localizadas em regiões temperadas. Mais do que isso: dentro de um mesmo país, as regiões mais ricas estão geralmente situadas na zona temperada. E os países sem acesso para o mar, como bem previu Smith, são quase sempre menos desenvolvidos.

Foi o que bastou para reacender o velho debate sobre o peso da geografia no desenvolvimento econômico. No século XIX, as teses que defendiam uma relação direta entre o clima e o estágio de “civilização” de alguns povos acabaram servindo para justificar o domínio dos países temperados sobre as regiões tropicais na era colonial. Com o tempo, esses estudos passaram a ser considerados racistas e caíram em desgraça. O efeito colateral dessa confusão é que os fatores geográficos, tão importantes, passaram a ser ignorados pelos economistas do último século.

O novo estudo diz que os países situados na faixa tropical têm menos chance de enriquecer por dois motivos. O primeiro é a prevalência endêmica de doenças infecciosas transmitidas por insetos, como a malária e a febre amarela. O alto índice de mortalidade dessas doenças gera ainda uma alta taxa de natalidade – as mães acabam tendo mais filhos para garantir que pelo menos alguns cheguem à vida adulta. O resultado são famílias com muitas crianças, pouco dinheiro para investir na educação de cada uma e mais pobreza. O segundo fator estaria relacionado à agricultura. As pragas que afetam as plantações de trigo, milho e arroz se dão melhor no calor. “É claro que esses fatores sozinhos não explicam tudo – basta ver a diferença de países do leste europeu vizinhos de potências européias”, diz Andrew. “Mas achamos que eles devem ser levados em conta quando instituições como Banco Mundial adotam políticas para essas regiões.”

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Geografia da pobreza

Os países pobres se concentram na faixa entre os trópicos

EUA

A maior economia do planeta, que concentra um quarto da riqueza mundial, está localizada acima do Trópico de Câncer e tem saída para os oceanos Atlântico e Pacífico.

Renda per capita: US$ 31 500

IDH*: 0,934 – 6º lugar

Saída para o mar: tem

Temp. média: 11,5oC (Nova York), 24oC (Miami)

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Brasil

As médias maquiam as desigualdades do país. No Estado de São Paulo, no limite da zona tropical, a renda per capita seis vezes maior do que no tórrido Piauí, por exemplo.

Renda per capita: US$ 6 100

IDH*: 0,750 – 69º lugar

Saída para o mar: tem

Temp. média: 18,3oC (São Paulo), 25oC (Salvador)

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Níger

Encravado no centro da África, sem saída para o mar, Níger fica na pior localização imaginável. Não à toa disputa com Serra Leoa o título de país mais pobre do mundo.

Renda per capita: US$ 970

IDH*: 0,274 – 161º lugar

Saída para o mar: não tem

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Temp. média: 29,1oC (Niamey)

Hungria

A ex-comunista Hungria prova que a localização geográfica não determina sozinha a riqueza e a pobreza de uma nação. A vizinha Áustria tem renda per capita de US$ 22 700.

Renda per capita: US$ 7 400

IDH*: 0,829 – 36º lugar

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Saída para o mar: indireta (pelo Rio Danúbio)

Temp. média: 10oC (Budapeste)

China

Uma exceção à regra: a mais rica região da China está na faixa tropical. A ex-colônia britânica de Hong Kong é o quarto centro financeiro do mundo. A explicação para isso está na liberdade de mercado.

Renda per capita: US$ 3 600

IDH*: 0,718 – 87º lugar

Saída para o mar: tem

Temp. média: 11,8oC (Pequim)

* Índice de Desenvolvimento Humano, uma composição de vários indicadores sociais e econômicos que determina a qualidade de vida em um país

** Renda per capita PPP (paridade do poder de compra), que leva em conta o poder de compra em dólares da moeda local

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