Cíntia Cristina da Silva
No teatro medieval, chamava-se de auto toda peça satírica de cunho místico ou moral. Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, segue a tradição. A visão religiosa está lá – mas com todo o humor de personagens astutos, daqueles que vencem contendas com os poderosos na Terra e o Diabo nos quintos. Os heróis são João Grilo, um embusteiro, e Chicó, mentiroso contumaz. A dupla chora em funeral de cachorro, diz ter uma gaita que ressuscita os mortos e um gato que é uma mina de ouro.
Muito do Auto é baseado em folhetos da tradição nordestina. Três deles formam o cerne da obra: O Dinheiro, de Leandro Gomes de Barros, e os anônimos História do Cavalo que Defecava Dinheiro e O Castigo da Soberba. A nova edição, que celebra os 50 anos de publicação, é caprichada: tem artigos debatendo a obra e ilustrações de Manuel Dantas Suasssuna, filho do autor.
• A primeira encenação da peça foi montada no dia 11 de setembro de 1956, no Teatro Santa Isabel, em Recife. Estavam programadas três apresentações, mas a última delas foi cancelada por falta de público.
• Em 1957, a peça estreou no Rio de Janeiro. Ganhou a medalha de ouro da Associação Brasileira de Críticos Teatrais.
• A carreira internacional do Auto inclui montagens na Alemanha, Espanha, Israel, Estados Unidos, Finlândia, França, Grécia e Holanda.
• O pai de Ariano, João Pessoa de Vasconcelos Suassuna, ex-governador da Paraíba, foi morto no Rio de Janeiro em outubro de 1930. O assassinato é considerado um dos estopins da revolução que levou Getúlio Vargas ao poder. Em homenagem ao político, a capital paraibana foi rebatizada com seu nome.
AUTO DA COMPADECIDA
Ariano Suassuna
Agir, 260 páginas, R$ 40