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Roqueiros na pista…

...E guitarras na cabine do DJ

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h45 - Publicado em 30 set 2003, 22h00

Gaía Passarelli

Ninguém sabe ainda como se referir ao movimento. O certo é que a mistura de rock e música eletrônica trouxe novo gás – e novos freqüentadores – aos clubes. É disco. É punk.

Disco-punk. Punk funk. Death disco. No wave. Disco Pogo. Dance rock. Ninguém sabe direito que nome dar à criança, mas todo mundo tem certeza: o novo respiro da música eletrônica vem do rock. Quem diria. Desligue os toca-discos, plugue as guitarras nos amplificadores e dance com atenção: tem roqueiro na pista.

OK. Não é uma novidade tão grande assim. Na verdade, além de não ser novidade, pode ser que toda essa história de guitarras misturadas à música eletrônica não passe de hype, de um auê, de uma fagulha lançada pelas revistas gringas. E nós, na eterna ânsia de estar por dentro da última novidade, acabamos engolindo.

Mas será que é só isso mesmo? Quem pisou num clube no último ano deve ter ouvido “House of Jealous Lovers”, o hit do grupo nova-iorquino The Rapture. A energia das guitarras estridentes e do vocal gritado do guitarrista e vocalista (quem diria que essas duas palavras apareceriam numa revista de dance music?) Luke Jenner não deixam dúvida a quem estava anestesiado pelas batidas intermináveis do house e do tecno: há algo de novo no ar.

A propósito, quem ainda não foi a uma festa em que tocou The Rapture pode recuperar o tempo perdido: eles são uma das principais atrações da primeira edição do TIM Jazz Festival, que acontece em outubro no Rio de Janeiro. Além da banda, o DJ superstar dessa nova onda, Erol Alkan, deve discotecar no evento. Residente da festa londrina Trash, Alkan mistura Daft Punk com The Stooges sem perder a batida. Seus sets são eletrizantes e põem para dançar desde clubbers de carteirinha até aqueles que insistem em dizer que não gostam de música eletrônica.

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Mas o que é esse novo som, afinal? Quando o punk rock deu os primeiros sinais de cansaço, a renovação veio da mistura com funk, batidas étnicas e o então incipiente hip hop.

Desse balaio surgiram Gang of Four, ESG e a inspiração dub no som do roqueiros do The Clash. Mas veja bem: a novidade de que estamos falando não é uma reprise do funk-punk de quase 25 anos atrás. Também não se trata da tênue linha que há tempos une rock e eletrônica. A lista aqui seria enorme e nada nova – de Skinny Puppy a New Order, de Death in Vegas a Primal Scream. Tampouco dá para dizer que todo o auê se faz por causa do pop bastardo, a mistura anárquica de duas músicas famosas que ganhou as pistas do mundo em 2002.

Finalmente, também não estamos falando só de electroclash, o movimento que se alimenta e se renova das cinzas do pop eletrônico da década de 80. A novidade tem um pouco de tudo. E é justamente por isso que tanta gente acha que o __________________ (preencha aqui com o nome de que você mais gosta) é, sim, a novidade mais importante a surgir nas pistas em muito tempo. Primeiro indício: a seleção musical volta a ser mais importante do que a técnica de mixagem, a exemplo do que acontecia com a disco music nos anos 70. O fim do culto exagerado à figura do DJ é uma das características mais claras de que os tempos estão mudando. As performances ao vivo são freqüentes nas festas dance-rock, e as músicas (pasme) têm letra.

No fim das contas, o que importa é o clima de festa. Como no punk rock e como nos primórdios das festas puramente eletrônicas, reina aqui a cultura da coletividade. O público faz a festa, não apenas dança conforme a música. É uma nova versão do Do it yourself. Faça você mesmo, não espere a hora certa, não dependa das gravadoras (baixe as músicas da internet), não dependa da técnica (abuse das mixagens toscas), não dependa de nada. Edgard Scandurra, do Ira!, guitar hero brasileiro e um dos primeiros roqueiros a abraçar com honestidade a cultura eletrônica, não se espanta com essa fusão: “O rock underground tem muita semelhança com a música eletrônica. A atitude das tribos não é tão diferente assim. Como cada vez mais roqueiros vão às festas de música eletrônica, essa troca acaba sendo natural”.

André Barcinski, jornalista e roqueiro de coração, hoje é organizador de uma das melhores festas de tecno do país. Diz Barcinski: “A troca entre rock e eletrônico, claro, tem mão dupla. Um toma emprestado do outro”. “Muitas bandas do pós-punk inglês eram inspiradas por Kraftwerk, Can e outros grupos de orientação eletrônica.”

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O movimento também é perceptível na mão contrária. Artistas como T. Raumschmiere, Soft Pink Truth e Safety Scissors usam samplers e sintetizadores em seus shows – mas mantêm os trejeitos de Jimi Hendrix. Tudo começou no Brooklyn nova-iorquino, há cerca de três anos. James Murphy e Tim Goldsworth chamaram a atenção do público discotecando uma improvável mistura de disco music e punk rock. Nascia ali a DFA (Death from Above), selo americano. Além de representar grupos como o já mencionado The Rapture, o DFA lançou grupos como Radio 4 e LCD Soundsystem (projeto do próprio Murphy). A mistura rapidamente foi adotada pelos ingleses e, da Europa, se espalhou para o resto do mundo.

Em Londres, o principal foco do novo é o selo Output, de Trevor Jackson. Ele se desdobra sendo DJ, produtor (sob o codinome Playgroup) e designer. Também em Londres rolam as noites Trash (às segundas-feiras, no clube The End, com inclinação bem roqueira) e a Nag Nag Nag (às quartas, na Guetto, noite fashion e ligada ao electroclash). Ambas celebram música para dançar e se divertir, sem nenhum outro compromisso. Nessas festas você pode dançar ao som do DJ Josh Wink – e minutos depois curtir alguma baba da Kylie Minogue.

A disco-punk, ou qualquer outro nome que venha a designar esse novo som, traz a energia do rock·n·roll e soma a ela a cultura clubber. Se vai vingar? Ninguém sabe – e quem poderia responder a essa pergunta está mais preocupado em se divertir.

 

Curso intensivo

O básico para vocêentender o rock de pista

Três músicas

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Losing my Edge – LCD Soundsystem

House of Jealous Lovers – The Rapture

Dance to the Underground – Radio 4

Um texto

“Funk Punk”, do crítico John McCready

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https://www.mccready.cwc.net/funkpunk.html (em inglês)

Um programa de rádio

“Punk Funk Special”, da BBC Radio 1

https://www.bbc.co.uk/radio1/urban/oneworld/punk_funk.shtml (em inglês)

 

Stairway to Heaven

Entenda o novo som em nove discos

As Heard on Radio Soulwax, PT 2, 2 Many DJ’s (PIAS)

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Muito, muito fácil se entregar à mistura de música pop, rock obscuro, house das antigas e tecno minimalista escolhida pela dupla belga. Imperdível.

Gotham, Radio 4 (Gern Blandsten)

O segundo disco da banda, produzido pelos caras do selo DFA, investe mais na disco-punk. Atenção para “New Disco” e “Save Your City”.

Playgroup, Playgroup (Astralwerks)

Neste CD de produções próprias, Trevor Jackson passeia por dub, electro, funk, indie rock… Um pouco de tudo.

Dream Pop, Benzina aka Scandurra (ST2 Music)

O segundo disco de Edgard Scandurra mostra a que veio logo na primeira faixa, “Eu Estava Lá”. A inspiração vem do pós-punk inglês, que ele viveu intensamente.

S.T.R.E.E.T. D.A.D., Out Hud (Kranky)

O som do Out Hud representa um lado mais experimental do disco-punk. Soturno como o pós-punk inglês e com pitadas de acid house e hip hop.

Evil Heat, Primal Scream (Sony)

Uma das bandas de rock que melhor trabalham com a influência eletrônica, o PS acerta a mão em Evil Heat, ao usar e abusar do electro.

DJ Kicks, Playgroup, (!K7)

Olha ele de novo. Compilado e mixado pelo superprodutivo inglês Jackson, traz uma versão genial do clássico “Tainted Love”, do Soft Cell, e várias outras pérolas.

Scorpio Rising, Death in Vegas (BMG)

Outra banda que prova que o eletrônico e o rock podem andar juntos. O terceiro disco do grupo tem participações especiais de gente como Liam Gallagher (Oasis).

One Louder, DJ Erol Alkan (Muzik)

CD da revista inglesa “Muzik”. Alkan é o DJ das noites Trash, de Londres, e aqui mostra bem o espírito da coisa. Tem Duran Duran (isso mesmo), além do house de Alex Gopher.

 

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