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Snowden, Golpe e “Black Mirror”: conversamos com Oliver Stone

Batemos um papo com o diretor de "Snowden" e "WallStreet"

Por Felipe Germano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 10 nov 2016, 15h24 - Publicado em 10 nov 2016, 15h02

Oliver Stone

“No avião para cá, eu assisti Pequeno Segredo”, afirmou para um assessor Oliver Stone, ao entrar na sala. “Gostei dele, achei bonito”, completou o diretor americano que desembarcou em São Paulo nesta semana para promover seu mais novo filme, Snowden. Pequeno Segredo vem sendo alvo de uma grande discussão; ele foi indicado pelo governo federal como o longa nacional para concorrer na categoria de Melhor Filme Estrangeiro do Oscar, indo contra o favoritismo de Aquarius – os mais críticos afirmam que o filme foi ignorado pelo governo após protestos em Cannes contra o governo de Michel Temer. É uma declaração polêmica para quem acaba de chegar no país, mas nada que fuja do padrão de Stone. Em uma conversa com a SUPER e outros dois veículos brasileiros, o diretor foi o mais controverso possível.

Snowden, como se pode imaginar, conta a história de Edward Snowden, o ex-funcionário da CIA e da NSA que resolveu contar para todo mundo (literalmente) que os Estados Unidos espionam quem eles quiserem: americanos, iraquianos, eu e você. Para quem acompanhou os noticiários, não tem nenhum spoiler em dizer que a vida do homem foi abalada, fugiu dos Estados Unidos, e vive há três anos escondido do mundo. Stone, no entanto, não só encontrou o delator americano, como pediu dele participação ativa no processo de criação do longa. “A gente conversou com ele, e não teria como fazer esse filme sem isso. Teríamos que fazer uma ficção, mudar o título, porque as informações dele são sagradas. Não dá para se basear só no que já foi escrito – eu odeio te dizer isso: os jornalistas até fizeram um bom trabalho no começo, mas houve muitos erros, e ainda muito a ser discutido”, afirma Stone, que entrou em contato com um Snowden ainda reticente sobre fazer o longa. “No começo, ele estava extremamente nervoso sobre o filme. E se o retratássemos como um vilão? E se o filme fosse tosco? Depois se acalmou”.

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Antes de mais nada, Snowden é um filme sobre paranoia. Pense no seu segredo mais íntimo. Stone quer fazer você acreditar que, se o governo dos Estados Unidos quiser, ele vai descobri-lo – se é que ainda não descobriu. É isso que o personagem-título percebe, e é isso que vai, aos poucos, o enlouquecendo. Seguindo essa lógica, Stone, que teve contato direto com um dos principais inimigos públicos do governo americano se torna um alvo automático da espionagem; mais isso não o preocupa. “Eu não acho que eles ligam pra mim, nem pro meu filme. Na verdade, acho que o longa acaba funcionando como uma prova de que eles querem manter a superioridade dos EUA”, afirma. “Isso significa mudar governos como o da Ucrânia, Venezuela, Argentina e, claro, o Brasil – foi um belo golpe que vocês sofreram”, completa ao perguntar as novidades sobre a Operação Lava Jato e consequentemente reclamar que as informações sobre as novas prisões não chegaram a ele, enquanto estava nos EUA. “Eles colocam malwares até nos aliados. Aqui no Brasil vocês são reféns”, afirma.

No longa, Snowden tenta improvisar para escapar da vigilância. Em uma cena, ele coloca celulares dentro de um micro-ondas, para impedir que sinais dos aparelhos sejam transmitidos. Engenhoso, mas não dá para sair por aí carregando um micro-ondas; e se tem alguém que saberia outras formas de evitar a espionagem, esse alguém é o delator do esquema todo. Ao ser perguntado se o ex-agente lhe ensinou alguns truques, Stone não anima quem queria ler um guia antiespião. “Você pode tampar microfones, ficar esperto com o que fala nos e-mails; cara, é difícil, você tem que vigiar até sua vida sexual”, afirma “É assustador porque essas informações podem ir para qualquer lugar. Isso é um mundo bizarro. Você está lidando com gigantes”.

Oliver Stone

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Apesar de não se considerar um alvo para o governo americano, Stone tomou alguns cuidados durante a produção do longa. “Nós nos mudamos dos EUA para fazer o filme, isso é gigantesco”, conta “ Fizemos tudo off-line, encriptamos algumas coisas. Para alguns atores usamos códigos e em alguns países usamos SMS. Tivemos também muito cuidado com o script original. Nunca tínhamos uma só cópia, tínhamos muito medo de sermos hackeados”. Até Hollywood estava sob suspeita da produção. “Não deixamos que nenhuma companhia americana tocasse no filme”, afirma. Mesmo assim, o longa acabou sendo distribuído aqui no Brasil pela Disney. “Eu acho isso muito estranho. Nós vendemos para um grupo, que vendeu para outro, que vendeu para a Disney. Eu acho isso bizarro – me pergunto se o [Robert] Iger (CEO da Disney) assistiu ao filme”.

Tecnologia nos levando a caminhos não muito legais pode fazer lembrar outra produção recente: Black Mirror – mas Stone, que ainda não assistiu a nova temporada, não gosta muito da comparação. “Nosso filme fala sobre a vida de um cara. Não fantasia. É um mundo que ele testemunhou”, conta. “Alguns episódios de Black Mirror são muito bons, mas eu tenho um problema com televisão, eu odeio ganchos, me sentir preso a ter que assistir. Eu já senti isso com Game of Thrones, mas você percebe que depois de um tempo sua vida não muda”. “Black Mirror tem uns episódios bem chatos, desculpa”.

O filme, que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta, 10, promete ser menos polêmico do que o próprio diretor. Nos EUA, onde o filme estreou em setembro, o longa rendeu 21 milhões de dólares – abaixo de longas pouco expressivos como Zoolander 2 (US$ 28 mi) e Quando as Luzes se Apagam (US$ 67 mi). A proposta de Stone é que o público veja no longa um respiro entre filmes hollywoodianos com heróis mais óbvios. “Quando você vê as relações dele, principalmente, é importante mostrar que ele parece meio frio, não é um cara muito ativo – na verdade, sua esposa é mais ativa que ele. Ele não parece um estereótipo de herói. Ele parece com você”. “É um filme técnico, sobre como um homem trabalha para o mal”.

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