O Efeito São Tomé. A expressão “ser como são Tomé” vem da história bíblica. Quando Cristo apareceu para os apóstolos depois da ressurreição, foi Tomé que veementemente duvidou da sua presença até tocar nas feridas da crucificação. O termo efeito de são Tomé refere-se à compulsão de autenticar um objeto desejado, viajando até ele, tocando-o e fotografando-o. Os fãs manifestam o efeito são Tomé perseguindo e aglomerando-se em torno de celebridades e obsessivamente construindo relicários. A relação imaginária de intimidade com a celebridade traduz-se no desejo irresistível de tocá-la, ou possuir algum objeto seu que restou ou que foi descartado. A intensidade do desejo provocado pelo efeito são Tomé pode resultar na suspensão do autocontrole, que vai colocar em risco pessoal tanto o fã quanto a celebridade. Por exemplo, em julho de 2000, Karen Burke, uma estudante de 19 anos, foi colocada em regime de liberdade vigiada por assediar a escritora feminista e celebridade Germaine Greer.
O tribunal foi informado de que Burke estava apaixonada pela dra. Greer, e queria adotá-la como uma “figura materna espiritual”. Ela travou uma conversa peripatética com Greer, que terminou quando a escritora chegou à conclusão de que Burke devia estar precisando de ajuda psiquiátrica. Burke desenvolveu intensos sentimentos de dependência e foi até a casa de Greer, onde ficou gentilmente acomodada no pavilhão do jardim. No dia seguinte, Greer levou Burke de carro até Cambridge para pegar o trem. Quarenta e oito horas depois Burke estava de volta, e Greer ligou para a polícia para retirá-la dali. No dia seguinte, Burke retornou. Quando Greer assustada ameaçou chamar a polícia, Burke agarrou-a pelos braços, gritando: “Mãezinha, mãezinha, não faça isso!”. Durante duas horas elas lutaram, ferindo-se. O incidente terminou quando pessoas amigas – com quem Greer combinara de se encontrar – chegaram a casa e encontraram Burke gritando agarrada às pernas de Greer. O incidente deve ter sido extremamente penoso para ambas as partes. Mas ilustra como a relação imaginária que um fã tem com uma celebridade pode às vezes crescer, artindo do desejo de autenticar o objeto desejado até chegar a uma irresistível determinação de definir a realidade da sua presença, autenticá-lo agarrando-se a ele ou dele se apossando.
A apaixonada preocupação de muitos fãs em autenticar artefatos da celebridade está talvez em direta proporção com o desejo abstrato que ele alimenta de possuí-la. Celebridades são arredias e inacessíveis. Em contraste, os artefatos da celebridade podem ser possuídos e preservados com carinho. Entretanto, só vale a pena possuir o artefato se sua relação com a celebridade puder ser conferida. Se o relacionamento com a personificação do desejo abstrato não puder ser consumado, o artefato inanimado pelo menos permite ao fã saborear a posse mais próxima da celebridade. Celebridade e morte. Os peregrinos que afluem em bando a Graceland, ex-casa de Elvis Presley e onde ele está enterrado, não só homenageiam um deus morto como proclamam a presença de um deus secular vivo na cultura popular. Muitos fãs acreditam que Elvis fingiu a sua morte para se afastar das intromissões da cultura da celebridade. Mesmo quem aceita a sua morte, como um fato literal, considera-o como uma presença cultural viva.
Inversamente, a morte de John Lennon não é contestada, seja por fãs ou pela mídia. Mesmo assim, ele permanece uma figura sobre-humana, inspiradora, para milhões de pessoas. Lennon sem dúvida tinha consciência do extraordinário poder da celebridade na cultura popular. Seu comentário na década de 1960 – de que os Beatles eram mais populares que Jesus Cristo – escandalizou a imprensa e provocou a queima em público de discos desse conjunto por alguns grupos religiosos nos Estados Unidos. Entretanto, é inegavelmente verdade. Como religião, a música dos Beatles na década de 1960 parecia comunicar o incomunicável. Lennon claramente achava difícil conviver com a fama. A sua letra de Balada de John e Yoko – dizendo “do jeito que as coisas estão indo eles vão me crucificar” – sugere que ele estava sofrendo do complexo de Cristo. Certamente, as mal resolvidas incursões na política durante a década de 1970 sugeriram que ele estava conscientemente tentando salvar o mundo. A jornada de Lennon, da classe operária de Liverpool para o estrelato celestial nos anos 60 e 70, não se compara à de Cristo saindo da manjedoura de uma hospedaria de beira de estrada para se tornar a “luz do mundo”? E o assassinato de Lennon na década de 1980, nas mãos de um fã enlouquecido, não faz lembrar a morte de Cristo na cruz?
Para algumas pessoas, as comparações espirituais são inequívocas. Contra isso, se Lennon às vezes aparece como uma figura messiânica, a sua noção do absurdo da celebridade e a sua irreverência quase sempre esvaziavam o seu “rosto” público. Embora a habilidade de Lennon em engendrar efervescência coletiva nas platéias seja legendária, a sua mundanidade nunca foi problema. Metaforicamente falando, Lennon talvez tenha transportado as platéias ao céu e ao inferno, mas era enfaticamente da terra. Perseguidores. A longa caçada policial para encontrar o assassino da apresentadora da BBC, Jill Dando, morta em 1999, descobriu 180 homens que nutriam fixações anormais por ela. A polícia seguiu duas teorias na linha de investigação. Primeiro, que o papel de Dando, como uma apresentadora do programa popular de TV Crimewatch, inspirou o contrato de um pistoleiro profissional. Segundo, que ela foi vítima de um perseguidor ensandecido. Quando a recompensa por informações não gerou nenhum resultado do submundo, a polícia concluiu que estavam provavelmente procurando um perseguidor solitário. O perfil psicológico que a polícia construiu sugeria que o homem que estavam buscando era divorciado ou morava sozinho. Suspeitavam que ele tentou entrar em contato com Dando por carta, fax, telefone ou e-mail, mas que não chegaram até ela ou foram recusados. A polícia encontrou evidência de tentativas para obter detalhes sobre suas contas de luz, gás, água e telefone. Se era obra de um homem só, a polícia especulou, era razoável supor que, levado pela frustração, raiva ou ciúme, ele começasse a tramar a sua vingança.
Com a aproximação do casamento de Dando, a obsessão do homem por ela aumentou. Uma glamourosa fotografia dela na capa da Radio Times pode ter inflamado a sua decisão de matá-la. Relatos de testemunhas sugerem que ele foi até a casa dela e provavelmente ficou andando pelas redondezas em três ou quatro ocasiões, em dias diferentes, antes de lhe dar um tiro na nuca na porta de casa. O perfil psicológico no fim resultou com a polícia prendendo e acusando um homem da região, Barry George, de assassinato em maio de 2000. Ele foi declarado culpado no Old Bailey, em julho de 2001. A idéia de que a interação parassocial é fundamental para engendrar e reproduzir a cultura da celebridade é bem comprovada. Costuma-se dizer que as celebridades exercem uma atração magnética sobre os fãs. Entretanto, esse magnetismo opera tipicamente por meio da mobilização organizada de fantasia e desejo. Essencial para o conceito de interação parassocial é o fato de que o relacionamento no fundo é imaginário.
A impressionante maioria de celebridades e os fãs na verdade não se conhecem uns aos outros ou interagem pessoalmente. Além disso, as celebridades mantêm uma distinção entre o rosto público de celebridade e o eu verdadeiro. Mas às vezes essa atração magnética do rosto público desfaz a distinção. Nesses casos, as celebridades podem experimentar a mortificação do eu verdadeiro e os fãs podem fomentar neuroses obsessivo-compulsivas. Esse tipo de neurose pode perpetuar fantasias de seduzir ou possuir celebridades. O fã que sofre de neurose obsessivo-compulsiva é incapaz de reconhecer mentalmente a reciprocidade encenada entre celebridades e platéias em ambientes públicos, e em vez disso imagina que essa reciprocidade é validada no relacionamento entre a celebridade e o fã. Não importa que o relacionamento seja basicamente imaginário, porque seus efeitos na organização de emoções e estilo de vida do fã são reais.
Sintomas de neurose obsessivo-compulsiva nos fãs incluem devorar dados publicados nos jornais sobre as celebridades, criar álbuns de recortes e arquivos, descobrir os endereços das celebridades pela Internet, ficar vagando próximo desses prédios, gerar cartas não solicitadas e importunas, telefonemas, correios eletrônicos, grafite e, em alguns casos, ataques físicos e sexuais. Do ponto de vista do fã, a organização dos seus hábitos de vida em torno das rotinas imaginadas e das responsabilidades públicas da celebridade apenas confirma que a reciprocidade entre o fã e a celebridade é real. Entretanto, essa reciprocidade é fundamentada no desejo abstrato e depende de relações imaginárias aparentem ser sustentáveis.
Heróis e mitos
Nome – Celebridade
Autor – Chris Rojek
Editora – Rocco
Por que ler – – Para o britânico Chris Rojek, professor de sociologia e cultura da Brunel University, de Londres, celebridades são figuras que têm impacto sobre a consciência pública. Fabricações culturais, elas devem sua força aos veículos de massa. Sua ascensão teria derivado de três processos históricos: democratização da sociedade, declínio da religião e a transformação do cotidiano em mercadoria, sendo a celebridade o “produto” que cria a identificação mais duradoura com o consumidor. Ainda que celebridades tenham existido durante toda a História, Rojek afirma que este é um fenômeno moderno, pois só hoje é possível criar a ilusão de intimidade por meio da inserção massiva do “famoso” no cotidiano. A democracia trouxe a promessa do homem comum que pode vencer. Daí as distinções que o Autor – faz entre os tipos de celebridade: a conferida, aquela de reis e príncipes; a adquirida, de esportistas e atores; e a atribuída, criada pelo que ele chama de intermediários culturais, a TV etc. Nessa última categoria, entram os celetóides, neologismo criado para definir as figuras de fama fugaz (uma grávida de óctuplos, por exemplo). Para a celebridade, há também o que o Autor – chama de “eu verídico” e “rosto público” e a forma como isso afeta a ele e a seus fãs. Rojek aborda ainda a questão da morte da celebridade e a sobrevivência de seu “rosto público”, casos de Elvis e John Lennon; da óbvia comparação entre fama e religião e da condição de semideuses das celebridades. O Autor – também define a polaridade entre glamour (positivo) e notoriedade (negativo), esta sendo a fama advinda, por exemplo, do assassinato de um famoso, geralmente ligado à frustração. Frustração originada de uma “escassez de realização”, causada, paradoxalmente, pela democracia, que não cumpre o que promete. Todos deveriam ser iguais, mas, ao se conseguir a tão propalada mobilidade social e ser famoso, cria-se o ídolo e uma linha que irá separá-lo para sempre do resto dos mortais.
(Douglas Portari)
Nome – The Beatles – A Biografia
Autor – Bob Spitz
Editora – Larousse
Por que ler – – A história dos quatro jovens ingleses ligados pela paixão ao rock, o sucesso de sua banda em uma escala de fama até então só experimentada por Elvis Presley, e o fim amargo dessa união, em 1970, é a espinha dorsal deste livro. O diferencial trazido pelo criterioso trabalho do jornalista americano Bob Spitz é analisar a trajetória dos Beatles não apenas como um fenômeno da música, mas como a de qualquer personagem marcante que tenha mudado os rumos do mundo – o que eles, de fato, fizeram. Spitz lançou-se numa pesquisa de 8 anos, apoiada por Paul McCartney e George Harrison, que liberaram arquivos. Cobre, dessa forma, do nascimento de cada beatle ao momento em que se cruzam, de seu amadurecimento pessoal às experimentações musicais, como o uso de ritmos orientais. Surge daí a influência que suas atitudes tiveram sobre o comportamento de fãs em todo o mundo e que os tornou ainda um padrão para outros artistas. Sonho que termina com a impossibilidade de convivência entre talentos e egos tão grandes.
(Douglas Portari)
Nome – Dylan: A Biografia
Autor – Howard Sounes
Editora – Conrad
Por que ler – – Da fria Duluth, em Minnesota, o jovem Robert Allen Zimmerman foi parar com seu violão na fervilhante Nova York dos anos 60 – já imbuído da idéia de fazer famosa sua persona Bob Dylan. Figura que podia passar tardes inteiras num hospital com seu ídolo Woody Guthrie e, arredio, não retribuir um favor a Joan Baez, a cantora e colega que o ajudou a chegar ao estrelato. Espécie de messias indeciso, ele acabou na vanguarda da época como um artista de protesto, rótulo que detestava e do qual lutaria para se livrar. O escritor inglês Howard Sounes revê essa jornada com uma vasta pesquisa e centenas de entrevistas. Relata como foram criadas as canções de Dylan e suas letras, ora cifradas, ora diretas, cínicas ou esperançosas. Fala da influência que ele exerceu sobre seus pares e ainda joga luz sobre sua vida particular. Mostra o homem contraditório que, se não queria ser figura de proa de movimentos sociais, viu o impacto de seu trabalho ir além da música e da órbita de seus contemporâneos, reverberando até hoje.
(Douglas Portari)
Nome – Mais Pesado Que o Céu
Autor – Charles R. Cross
Editora – Globo
Por que ler – O Nirvana tornou-se a maior banda dos anos 90 com um rock sujo e pesado, tendo como força motriz um franzino e quieto guitarrista, Kurt Cobain. Outro caso de lar desfeito, ele era depressivo, tinha dificuldade em seus relacionamentos e acabou viciado em heroína. O jornalista americano Charles Cross, contudo, um dos primeiros a dar destaque para a banda, e que teve acesso aos diários do músico, traça um quadro positivo dele. Cobain era um nervo exposto, mas não agia como uma prima-dona. Buscava o sucesso, mas o que o destruiu foi a dificuldade em lidar com a fama. Quanto ao tumultuado casamento com a cantora Courtney Love, o Autor – foge da tese de que ela seria a responsável pela morte de Cobain.
(Douglas Portari)
Nome – Jimi Hendrix
Autora – Sharon Lawrence
Editora – Jorge Zahar
Por que ler – Negro, pobre, sem o pai por perto, filho de mãe alcoólatra, cuja morte prematura o marcaria, e flertando com o crime na adolescência, Jimi Hendrix quase não se tornou o homem que reinventaria a guitarra. Mas seu talento foi reconhecido e trouxe-lhe uma fama avassaladora. Hendrix virou um mito, um fardo para si mesmo. Com entrevistas dispersas no formato de diálogos ao longo do livro, a jornalista Sharon Lawrence narra a curta história de vida do músico. Amiga e confidente de Hendrix, ela obscurece a figura hiperbólica dos palcos para trazer à tona um sujeito tímido e que gostava de ler. Também dá sua versão para a morte do guitarrista – suicídio – e da inevitável disputa familiar por seu espólio.
(Douglas Portari)
Nome – Vale Tudo
Autor – Nelson Motta
Editora – Objetiva
Por que ler – A atribulada vida do cantor Tim Maia tem um quê de tragicomédia. Essa obra traz dezenas de casos cômicos ou inusitados e confirma o clichê de que seu talento era tão grande quanto ele. Jornalista e amigo de Tim, Nelson Motta, contudo, toma o cuidado de não perpetuar outro lugarcomum, o de que o cantor era apenas um “porra-louca” irresponsável. Mas os abusos, muitos e de toda ordem, estão no livro. Assim como os calotes que Tim dava no público, ao não aparecer nos shows ou, dizendo a senha “estratégia” para a banda, fugir no meio da apresentação. Também estão lá as parcerias do cantor, que incluem gente como Roberto Carlos, Elis Regina e Cassiano; sua fase esotérica e as muitas brigas com gravadoras.
(Douglas Portari)
O show da vida
Nome – O Brasil Antenado
Autora – Esther Hamburger
Editora – Jorge Zahar
Poe que ler – Acompanhadas diariamente por milhões de telespectadores, as novelas são muito mais do que mero entretenimento: têm o poder de influenciar instantaneamente as opiniões e atitudes dos brasileiros. Atire a primeira pedra quem nunca se pegou discutindo o comportamento de uma personagem ou jamais se deixou envolver emocionalmente pelas tramas levadas ao ar. Antropóloga e professora da Universidade de São Paulo (USP), a Autor – a analisa possíveis intenções por trás de algumas das mais populares obras da teledramaturgia nacional – mas ressalta que a preocupação com índices de audiência e as reviravoltas baseadas em pesquisas de opinião contribuem para que as novelas sejam, cada vez mais, um espelho da sociedade brasileira.
(Maurício Oliveira)
Nome – O Afeto Autoritário
Autor – Renato Janine Ribeiro
Editora – Ateliê Editorial
Poe que ler – Não há como pensar na construção de um Brasil melhor e mais democrático ignorando o papel essencial que a televisão pode – e deve – ter nesse processo. Presente em praticamente todos os lares brasileiros, a TV é provavelmente o principal elo entre as regiões de um país com dimensão continental. Esse poder tem sido muitas vezes exercido de forma contraditória: enquanto as novelas se esforçam para lançar campanhas com possíveis efeitos positivos sobre a sociedade – incentivo à doação de órgãos, combate ao preconceito racial, tolerância à diversidade sexual –, os programas humorísticos continuam recorrendo às velhas piadas sobre gays, loiras, gagos etc. É a esse “morde-e-assopra” que o Autor – , professor de Ética e Filosofia Política da Universidade de São Paulo (USP), chama de “afeto Autor – itário”. Sentimento igualmente dúbio aplica-se à relação de amor e ódio que todos nós, telespectadores, mantemos com o mais popular dos veículos de comunicação diante de seus defeitos e potencialidades.
(Maurício Oliveira)
Amor, sexo e outras sacanagens
Nome – Tudo Sobre Sexo
Autor – Paul Joannides
Editora – Landscape
Por que ler – O psicanalista americano Paul Joannides utilizou-se de sua experiência como terapeuta para mapear questões palpitantes relacionadas a sexo e produzir este que se tornou um dos mais populares guias de sexualidade do mundo. Há capítulos sobre o beijo, a muitas vezes decepcionante “primeira vez”, problemas como impotência e ejaculação precoce, sexo virtual e fantasias como transar em lugares públicos. Tudo tratado com bom humor. O objetivo final é motivar o leitor a explorar novas dimensões da sexualidade – uma proposta tentadora.
(Maurício Oliveira)
Nome – Por Que Amamos
Autora – Helen Fisher
Editora – Record
Por que ler – Apaixonar-se por outra pessoa, sofrer quando se está distante dela, sentir um nó na garganta diante de um poema ou canção romântica… Seria o amor uma convenção social ou é algo para o qual estamos programados? A questão foi tratada com rigor científico pela antropóloga americana Helen Fisher, que recorreu a exames de ressonância magnética para flagrar alterações no cérebro dos apaixonados. O cruzamento de dados com estudos de diversas áreas levou à conclusão de que o amor romântico não é apenas um sentimento, mas um instinto decorrente da evolução da espécie humana em busca da perpetuação – afinal, mais do que simplesmente procriar, é preciso encontrar com quem valha a pena compartilhar a missão de criar os filhos.
(Maurício Oliveira)
Nome – O Mito Da Monogamia
Autores – David P. Barash e Judith Eve Lipton
Editora – Record
Por que ler – Os testes de paternidade chegaram ao reino animal – e abalaram a reputação de espécies consideradas exemplos de fidelidade, como rouxinóis. A aplicação de técnicas de DNA revelou que a aparente dedicação exclusiva a um parceiro era fachada. Mais um indício de que o desejo por múltiplos parceiros sexuais faz parte da natureza. Casados e jurando fidelidade, contudo, os Autores alegam que é possível contornar os apelos biológicos quando a monogamia é uma escolha, e não uma concessão às convenções sociais.
(Maurício Oliveira)
Nome – A Mulher do Próximo
Autor – Gay Talese
Editora – Companhia Das Letras
Por que ler – Jornalista preocupado em registrar as transformações de sua época, Talese entrevistou centenas de personagens e vasculhou inúmeros diários repletos de informações íntimas de quem viveu as mais diversas experiências no campo sexual nas décadas de 1960 e 1970. O resultado é um retrato cru e detalhado da permissividade vivida nos EUA na era do “amor livre”. Publicado em 1980, quando a aids fazia suas primeiras vítimas, o livro ajuda a mensurar o abalo que o surgimento da doença causou nos costumes da sociedade americana. No prefácio escrito já nos anos 90, entretanto, Talese afirma que nada, nem mesmo o medo da morte, seria capaz de levar o país de volta ao puritanismo da década de 1950.
(Maurício Oliveira)
Felicidade para todos
Nome – Felicidade
Autor – Eduardo Giannetti
Editora – Companhia Das Letras
Por que ler – A pergunta é tão antiga quanto o próprio dinheiro: afinal, ele traz felicidade? O que pesquisas já demonstraram é que, a partir do suficiente para cobrir com folga as necessidades básicas e dar a sensação de segurança que faz parte dos anseios humanos, obter renda adicional não contribui de forma considerável para aumentar o bemestar. O grande nó da questão não é a quantidade de dinheiro que se tem, mas a sensação de que está faltando algo para ser feliz, causada em grande parte pelo consumismo. Trocar um celular que funciona perfeitamente por um novo é uma atitude que pode causar a sensação temporária de felicidade, mas ela logo se esvai por não representar um ganho de bemestar em relação à situação anterior. O consumismo é um problema que diz respeito à humanidade, pois os excessos nas compras trazem conseqüências ao meio ambiente e comprometem o futuro do planeta. Ainda estimula a concentração de renda, que leva um número maior de pessoas a viver em condições de pobreza e ser infelizes – pois, ainda que dinheiro não traga felicidade, a falta dele certamente abala a busca por ela. Giannetti chama a atenção para a necessidade de repensar com urgência nos padrões do “sonho americano”. É uma preocupação atual, no momento em que a China desponta como nova potência mundial, com mais de um bilhão de habitantes aparentemente dispostos a reproduzir esses padrões. A saída seria estabelecer novos parâmetros de felicidade, que reduzam a importância de aspectos econômicos e valorizem as relações interpessoais, o contato com a natureza – um retorno aos princípios do Iluminismo, que prometia um mundo mais justo por meio do desenvolvimento das ciências e das artes.
(Maurício Oliveira)
Nome – Previsivelmente Irracional
Autor – Dan Ariely
Editora – Campus
Por que ler – Você imagina ser o mais racional e ponderado possível ao tomar decisões, não é? Pura ilusão. Professor de Economia Comportamental do Massachusetts Institute of Technology (MIT), o Autor – demonstra, com base em uma série de experimentos surpreendentes e, muitas vezes, divertidos, o quanto nossa capacidade de raciocínio é influenciada por “forças invisíveis”, como as emoções e normas sociais. Isso explica por que fazemos compras das quais nos arrependemos em seguida, por que tendemos a achar que pessoas religiosas são mais honestas ou a grande dificuldade que temos para guardar dinheiro, entre outros exemplos do nosso cotidiano. Certos equívocos são tão recorrentes e disseminados que se tornam até previsíveis, como indica o título do livro. O objetivo de Ariely é ajudar o leitor a aumentar a eficácia de suas decisões, tornando-o ciente dos elementos ocultos que costumam participar desse processo e levando-o a se precaver dos erros de avaliação mais comuns.
(Maurício Oliveira)
Nome – O Que Nos Faz Felizes
Autor – Daniel Gilbert
Editora – Campus
Por que ler – Se fôssemos bons em prever o futuro, não viveríamos sendo acometidos pela sensação de ter escolhido a fila mais lenta do supermercado. Professor de Psicologia em Harvard, o americano Daniel Gilbert diz que somos o único animal que tem a pretensão de adivinhar o que vai acontecer – e que freqüentemente se decepciona ao constatar que as coisas não transcorreram exatamente conforme o esperado. Apesar dos inevitáveis tropeços, entretanto, é evidente que nossa felicidade depende diretamente das apostas que fazemos: com quem casar, onde morar ou a carreira profissional a seguir, isso sem falar nas pequenas decisões do cotidiano, como a da fila do supermercado. Se levarmos em conta a história da humanidade, a autonomia para fazer todas essas escolhas é bem recente: as pessoas costumavam passar a vida na região em que nasciam, casavam por indicação dos pais e seguiam uma profissão não por prazer, mas pela necessidade de assegurar o sustento. Tudo isso quer dizer algo bem simples: jamais a busca da felicidade esteve tanto em nossas mãos.
(Maurício Oliveira)
O belo, o luxo e o fútil
Nome – História da Beleza
Autor – Georges Vigarello
Editora – Ediouro
Por que ler – Se você acha que as mulheres de hoje fazem muitos sacrifícios para alcançar a beleza – dietas malucas, silicone, lipoaspiração etc. –, precisa conhecer alguns dos recursos utilizados no passado com o mesmo objetivo: espartilhos apertadíssimos, banhos gelados, cosméticos tóxicos, sangrias e até choques elétricos. Ao tratar da arte de se embelezar, desde o Renascimento até os dias de hoje, o historiador francês descreve também as mudanças que o conceito de beleza sofreu através dos últimos séculos até a consagração, relativamente recente, do biotipo esguio de Gisele Bündchen. Somente a partir do final do século 19, quando o corpo feminino passou a ser mais exposto – até então vivia escondido sob pesados vestidos –, a magreza tornou-se um componente obrigatório do padrão universal de beleza. Antes disso, as cheinhas faziam um tremendo sucesso. Alguma chance de que isso volte a ocorrer um dia? Pode até ser, pois a palavra “impossível” definitivamente não faz parte do dicionário das tendências de moda.
(Maurício Oliveira)
Nome – Desejo de Status
Autor – Alain de Botton
Editora – Rocco
Por que ler – O filósofo suíço Alain de Botton critica a supervalorização do prestígio pessoal na sociedade contemporânea – algo que, para ele, tem se refletido no número cada vez maior de pessoas insatisfeitas consigo mesmas e com a posição social que ocupam, uma das grandes angústias da humanidade nos dias de hoje. Parece até que não ser rico, poderoso ou famoso se tornou sinônimo de fracasso, apesar da existência de diversos outros meios de realização: trabalhar com o que se gosta, cultivar muitas amizades, ter filhos e acompanhar de perto o crescimento deles… A quem se sentir tentado pelo desejo de status, o Autor – sugere antídotos como a filosofia, as artes e a boemia, desde que aplicados na “dose certa”.
(Maurício Oliveira)
Nome – O Luxo Eterno
Autores – Gilles Lipovetsky e Elyette Roux
Editora – Companhia das Letras
Por que ler – O filósofo francês Gilles Lipovetsky analisa o universo em torno dos produtos de luxo, cujo consumo cresce em quase todo o planeta, e surpreende ao contrariar a visão de que tais produtos são supérfluos. Para ele, os consumidores têm uma relação cada vez mais emocional com as marcas que os fazem escapar da vala comum dos gostos e opiniões. O ato de valorizar tal experiência não deve ser precipitadamente confundido com futilidade – talvez seja mais adequado defini-lo como um breve encontro com a eternidade. A obra traz também um ensaio em que Elyette Roux, especialista em marketing e gestora de marcas de luxo, reforça a tese do filósofo, ao apresentar pesquisas e estatísticas sobre o consumo e alto padrão.
(Maurício Oliveira)
Sociedade alternatina
Nome – Contracultura Através dos Tempos
Autores – Ken Goffman e Dan Joy
Editora – Ediouro
Por que ler – Os autores descrevem as contraculturas ao longo da história como uma luta para romper com as tradições e alcançar a luz bloqueada pela autoridade estabelecida – luz que representa a criatividade e a liberdade de expressão. Cumprir esse objetivo tem como conseqüência a absorção, pela cultura dominante, de símbolos e práticas “revolucionárias”, o que significa conceder às gerações posteriores a oportunidade de se aquecerem com o calor daquela luz outrora bloqueada. Isso tudo constitui uma grande ironia: ao surgirem com freqüência para romper com as tradições, as contraculturas se tornaram elas próprias uma espécie de tradição. O florescimento das contraculturas se dá por três tipos de conexão, segundo a classificação criada por Ken Goffman e Dan Joy: o contato direto (em que adeptos de uma contracultura interagem com participantes de outra – por exemplo, no início do século 20, quando Paris foi o ponto de encontro de vanguardistas europeus e escritores americanos), o contato indireto (em que uma contracultura é fecundada pela outra por meio de obras literárias ou de arte – Platão, por exemplo) e a ressonância, cujo mecanismo é um mistério: a inexplicável semelhança de idéias registrada por duas ou mais contraculturas distantes no tempo e no espaço, entre as quais não há indício de contato. A explicação pode ser a existência de valores que todas as contraculturas compartilham e que vão além do desejo de derrubar convenções: um deles é, talvez, o que sintetiza a motivação dos contraculturistas: levar a vida como uma experiência artística em progresso.
(Maurício Oliveira)