PRORROGAMOS! Assine a partir de 1,50/semana

Sociólogo , Pierre Bourdieu

Nascido em 1930, Bourdieu cursou primário e ginásio num internato ¿rude e violento.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h49 - Publicado em 31 mar 2002, 22h00

Ilana Goldstein

Pierre Bourdieu costumava dizer que praticava um “esporte de combate”. Não, Bourdieu não era boxeador ou lutador de jiu-jitsu. Era sociólogo. Esse badaladíssimo intelectual francês, falecido aos 71 anos há dois meses, via a Sociologia como um espaço para a luta, para o conflito. Bourdieu, autor de mais de 300 publicações, figura carismática e polêmica, um dos principais cientistas sociais do mundo, foi objeto de uma verdadeira adoração por parte de estudantes e pesquisadores das ciências humanas, mas costumava receber também críticas bem ácidas. Nos dias seguintes à sua morte, multiplicaram-se na Europa os cadernos especiais em jornais e revistas e as homenagens na televisão. O que chega a ser irônico se pensarmos que a mídia era um dos alvos preferidos dos seus ataques.

Nascido em 1930, Bourdieu cursou primário e ginásio num internato “rude e violento”. A experiência marcou-o para sempre. É o que atesta a pista biográfica que acaba de ser divulgada pela revista Nouvelle Observateur que publicou – sem autorização da família – um trecho das memórias que Bourdieu estava escrevendo quando morreu. O autor conta ter descoberto, no internato, a opressão da disciplina, a traição e o dedo-durismo entre colegas, o sadismo dos bedéis ao exercer seu pequeno poder, as estratégias e espertezas dos internos para conseguir seu lugar ao sol e a discriminação baseada na aparência física, na maneira de falar e no sobrenome das crianças (o dele era motivo de piada por soar “caipira”).

Essa confissão lança luz sobre as motivações que o levaram a lutar, ao longo da vida e da obra, contra todas as formas de dominação e de mascaramento da realidade social. Bourdieu dissecou, no livro A Reprodução, de 1970, o funcionamento do sistema escolar francês que, ao invés de transformar a sociedade e permitir a ascensão social, ratifica e reproduz as desigualdades. Em Sobre a Televisão – que vendeu 150 000 exemplares em 1996 – desvelou o círculo vicioso da informação televisiva: um canal copia o outro, os mesmos convidados estão em todos e a necessidade de audiência impede a inovação. A Distinção (1979), seu best-seller, trata dos julgamentos estéticos partindo da idéia de que as pessoas emitem julgamentos de valor – do tipo “detesto música sertaneja” – para se diferenciar de quem está numa posição hierarquicamente inferior.

Para além da contribuição teórica, a polêmica que envolve o nome do autor tem a ver com sua atuação pública e sua atitude engajada – de combate. No final da carreira, vinha tentando aproximar reflexão intelectual e militância política, o que se traduz no tom engajado das últimas obras. Em Contra-Fogo, de 1999, Bourdieu analisa as estratégias retóricas do “discurso neoliberal”, que se apóia em expressões de liberdade e relaxamento (em vez de “demissão” fala-se em “enxugamento”, dando a idéia de algo saudável e positivo).

Continua após a publicidade

Não causa surpresa saber que o autor foi o mentor do grupo Raisons d’Agir, composto de cientistas, políticos e sindicalistas com o objetivo de coordenar manifestações internacionais contra o desemprego e a exclusão social. O grupo organizou um encontro em Viena, em 2000 – no auditório em que Bourdieu deu sua conferência contavam-se mais de 5 000 pessoas e havia um telão do lado de fora para quem não havia conseguido entrar. É por tudo isso que, em maio passado, o diretor Pierre Carles lançou um filme sobre ele intitulado A Sociologia é um Esporte de Combate. Para desgosto de seus adversários, que o acusam de ultrapassado, Pierre Bourdieu foi até estrela de cinema.

Ilana Goldstein é antropóloga, mora em Paris, e trabalhou na filial alemã do grupo Raisons d·Agir, criado por Bourdieu

Publicidade


Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY
Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

Apenas 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 10,99/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.