De pai para filho
A saga de Erik, os vikings descobrem a América, tradução e coordenação de Heloisa Prieto, Editora Pau/icéia, São Paulo, 1992
Os vikings, os temidos escandinavos que a partir do século VIII se transformaram no terror da Europa medieval e durante 300 anos se espalharam da Rússia até a América do Norte, deixaram muitas narrativas. São as famosas sagas, histórias transmitidas oralmente de pai para filho, antes do aparecimento da escrita latina, quando então se transformariam em literatura. Elas contam como se formavam as famílias e os clãs, descrevem os lugares por onde os vikings passavam e a colonização que promoviam. Duas das mais conhecidas estão agora reproduzidas neste livro. A primeira é a saga de Erik, o Vermelho, que detalha o caminho traçado por ele. As informações contidas nela acabaram sendo confirmadas na década de ·60, depois da descoberta de habitações vikings na ilha de Terra Nova, na costa canadense. A segunda é a saga da Groenlândia, na qual o mesmo Erik segue os passos de um marinheiro que avistara uma terra estranha durante uma tempestade que acabou por desviá-lo da rota original. Foi seguindo essa trilha que o viking chegou à Groenlândia e a colonizou. Quem gosta de história e aventura não deve deixar de ler esses antigos e saborosos relatos.
Poder doméstico
Idade Média na França, de Hugo Capeto a Joana d· Are, Georges Ouby, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 1992
Um dos maiores historiadores deste século, o francês Georges Duby, renomado especialista em Idade Média, se propôs neste livro a escrever o começo de uma história da França. Tarefa difícil, o autor optou por iniciá-la no fim do século X e avançar até meados do século XIII, com o objetivo de mostrar como o Estado francês surgiu pouco a pouco do feudalismo. Nessa evolução, Duby analisou o aumento da circulação monetária, a construção das catedrais e o desenvolvimento dos hábitos corteses, sempre do ponto de vista da lenta transformação das relações de poder. A marca característica dessa fase histórica era a natureza doméstica do poder, exercido exclusivamente por homens. Ao mesmo tempo, o autor se preocupou em reconstruir, na medida do possível, a imagem que os homens da época tinham de sua situação no mundo. Esse quadro, Duby procurou entrever pelos olhos daqueles homens.
Religião moderna
O que é ciência afinal? Alan Francis Chalmers, Editora Brasiliense, São Paulo, 1993
Físico inglês, que leciona na Universidade de Sidnei, na Austrália, Alan Chalmers esclarece o que vem a ser o método científico, que confere confiabilidade a um pensamento, raciocínio ou linha de pesquisa. Nele, o homem contemporâneo deposita uma fé cega, inabalável, como se a ciência fosse hoje uma espécie de “religião moderna”, representando o mesmo papel do cristianismo na Europa, muitos séculos atrás. De Francis Bacon (15611626), um dos primeiros a tentar articular um método da ciência moderna, até Paul K. Feyerabend, filósofo austríaco deste século, para quem a ciência não era superior a mitos antigos ou à prática do vodu, o autor procura mostrar de forma clara e bem-humorada as principais correntes teóricas e os desenvolvimentos recentes da ciência. Chalmers discute também o uso ilegítimo que se faz das concepções de ciência e método científico. Trata-se de uma obra pioneira em língua portuguesa que merece atenção.