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W/Brasil: A redescoberta do Brasil

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h50 - Publicado em 31 out 2004, 22h00

O mundo deu suas voltas e, como faz de tempos em tempos, reencontrou Jorge Ben Jor em seu posto inabalável. E o alquimista entoava um mantra surreal sobre um país surreal chamado “W/Brasil”, que correu feito febre por 1992 e 1993 embalando uma música pop em busca de seu próprio rosto. Washington Olivetto viu tudo de perto e recorda os efeitos poderosos dos tempos de micaretas, timbaladas e Marisa Monte

Quem foi que inventou o Brasil? Foi seu Cabral, foi seu Cabral. No dia 21 de abril, dois meses depois do Carnaval. Mas quem foi que re-inventou o Brasil? Foi a rapaziada do início dos anos 90.

A mesma rapaziada que nos anos 80 imaginava, ingenuamente, que, para ser pop, antenado e sintonizado com o mundo, era imprescindível se fingir de anglo-saxão, percebeu, espertamente, que podia ser mais pop, antenada e sintonizada com o mundo se assumindo brasileira. Foi no início dos anos 90 que ocorreu mais um dos ressurgimentos (outros ainda virão, certamente) do mais internacional, exatamente por ser o mais local, de nossos compositores, Jorge Ben Jor, com o lançamento da minha, digo, dele, digo, nossa “W/Brasil”.

Tive o privilégio de ver essa canção nascer. Na festa de final de ano da W/Brasil (a agência), em 1990, Jorge, para a satisfação de todos, faria novamente o show. Entre uma canção e outra, entoava o refrão “Alô, alô, W/Brasil”, para delírio da galera. De posse daquele refrão e de um papo durante o jantar a respeito dos descaminhos do governo Collor, dias depois, compôs a canção inteira. Cantada em público e gravada ao vivo pela primeira vez num espetáculo para um grupo de eleitos na boate People, do Rio de Janeiro, e imediatamente após transformada em hino por milhões de brasileiros e habitantes de todo o planeta.

O choque cultural de “W/Brasil” (a canção) abriu as portas do mercado e os ouvidos do público para muita coisa boa que aconteceu depois e se reflete na canção popular brasileira até hoje. Vêm dos 90 a aparição de Daniela Mercury, o reconhecimento de Carlinhos Brown e o fanatismo pelas micaretas, os carnavais fora de época que transbordaram a partir da mesma Bahia de Cabral.

Cadeia da melhora

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A partir daí, em São Paulo apareceria a pegada urbana dos Racionais MC’s e a mistura pop do Professor Antena. Em Brasília, os Raimundos melhorariam os Ramones com o forró. Lá em Belo Horizonte, o Skank melhoraria o dancehall jamaicano com calango e baião. No Rio, Pedro Luís com a Parede (e depois com o Monobloco) melhoraria a zona sul com o surdo pesado das batucadas de escolas de samba; Gabriel o Pensador melhoraria o deboche do Ultraje a Rigor com rap, enquanto Chico Science e sua Nação Zumbi melhorariam o rap com o maracatu. A melhor música do mundo foi melhorando as vertentes subdesenvolvidas criadas naqueles outros países que não são o Brasil.

Enfim, toda uma série de fatos e sons que se manifestam hoje, já em outro século, nos trabalhos dos Marcelos D2 e da Lua, do Rappa, da Maria Rita, do Arnaldo Antunes, da Bebel Gilberto, do Los Hermanos, do Skank e de muitos outros artistas totalmente brasileiros e absolutamente internacionais.

Marisa e a MCB

Vem também daquele comecinho dos anos 90 a consagração do talento brasileiro que possivelmente melhor administre sua carreira: Marisa Monte. Além de seu talento natural de cantora, Marisa tem um radar todo seu, que poderia fazer dela – se quisesse – uma executiva do mundo do disco absolutamente diferenciada, uma espécie de André Midani de saias, capaz de promover verdadeiras revoluções nesse negócio. Coisa que poucos no mundo têm a capacidade de fazer, nessa atividade que depende mesmo do talento, mas na maioria das vezes opta por ser comandada por burocratas.

Com Marisa Monte, a música brasileira conquistou outro espaço: tornou-se verdadeiramente audiovisual. É que Marisa, além de trilha sonora oficial, pode ser considerada uma das grandes responsáveis pela implantação da brilhante geração de cineastas da Conspiração Filmes, que documentou toda sua carreira desde quando ainda não era propriamente uma carreira.

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A turma musical-cinematográfica da Conspiração fez os clipes de todo mundo e ganhou todos os VMBs (a premiação de clipes da MTV) que existem. E depois foi reinventar o Brasil no cinema. De seus diretores vieram: Eu, Tu, Eles, Redentor e O Homem do Ano. E o movimento se espalhou pelo Brasil. Cidade de Deus, O Invasor, Lisbela e o Prisioneiro, Amarelo Manga, O Homem Que Copiava e outros. Ao reinventar a MPB, essa rapaziada acabou inventando a MCB – a Música Cinematográfica Brasileira, que começou nos 90 e vai ficar para sempre. Não importa quantas vezes o Brasil seja reinventado.

1992

FEVEREIRO

• Morre o “rei do rock” brasileiro, Sérgio Murilo.

MARÇO

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• Mike Tyson é condenado a dez anos de prisão por estupro.

JUNHO

• Durante 12 dias, no Rio de Janeiro, ocorre a Eco-92, fórum mundial sobre ecologia, com a participação de 178 países.

JULHO

• Início dos Jogos Olímpicos de Barcelona.

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AGOSTO

• Morre o compositor americano John Cage, influência capital nos arranjos tropicalistas.

• Estudantes tomam as ruas do país (os “caras-pintadas”) pedindo a saída do presidente Fernando Collor.

OUTUBRO

• A PM de São Paulo mata 111 presos na penitenciária do Carandiru.

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NOVEMBRO

• Bill Clinton é eleito presidente dos Estados Unidos.

• Carlos Imperial morre, aos 56 anos.

DEZEMBRO

• Collor renuncia e Itamar Franco assume a Presidência do Brasil.

1993

JANEIRO

• O festival Hollywood Rock traz ao país Nirvana, Alice in Chains e Red Hot Chili Peppers.

ABRIL

• No Recife, ocorre a primeira edição do Abril Pro Rock, festival que colocou no palco as novatas Chico Science & Nação Zumbi e Mundo Livre S/A.

JULHO

• Ocorre a chacina da Candelária, no Rio de Janeiro.

• Primeira edição do festival Junta Tribo, em Campinas (SP), que revelou bandas como Raimundos e Planet Hemp.

OUTUBRO

• Sinéad O’Connor rasga uma foto do papa João Paulo II no programa Saturday Night Live.

DEZEMBRO

• Morre Frank Zappa.

• Paul McCartney volta ao Brasil e se apresenta em São Paulo e Curitiba.

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