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História

A vida íntima dos missionários

Muitos padres que chegavam por aqui não resistiram às tentações dos trópicos. Outros sacrificaram as vidas para catequizar nativos.

por Tiago Cordeiro Atualizado em 17 ago 2020, 19h00 - Publicado em 17 jul 2020 10h49

Muitos padres que chegavam por aqui não resistiram às tentações dos trópicos. Outros sacrificaram as vidas para catequizar nativos.

Texto: Tiago Cordeiro | Edição de Arte: Estúdio Nono | Design: Andy Faria

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oi o frei Dom Henrique Soares de Coimbra quem celebrou a primeira missa da história do Brasil, no domingo, 26 de abril de 1500. A celebração inteira foi cantada, com acompanhamento de muita gente: mil portugueses, membros da esquadra de Pedro Álvares Cabral. Mais ou menos 200 índios, curiosos, acompanharam de longe.

Dom Henrique era desembargador em Lisboa antes de abandonar a carreira jurídica e começar a vida eclesiástica do zero, como um modesto noviço dentro do convento de São Francisco de Alenquer, fundado no século 13. Ele foi acompanhado, durante a celebração, por todos os outros 16 religiosos que o seguiam na viagem.

Uma segunda missa foi celebrada no dia 1º de maio, uma sexta-feira. Desta vez, 150 índios participaram da procissão que seguiu da praia até o local. Assim como na primeira ocasião, Dom Henrique subiu em uma cadeira na hora de pregar. Tratou da importância da missão que os europeus estavam desempenhando em terras habitadas por pessoas que sequer conheciam o cristianismo.

O esforço missionário, porém, só começaria, de fato, com os jesuítas. A Companhia de Jesus ainda não existia em 1500. Seria fundada na década de 1530, pelas mãos de um jovem nobre basco, mulherengo e dado à vida militar. Inácio de Loyola só se converteria à vida religiosa depois que uma bala de canhão passou entre suas pernas. Para consertar uma delas, foi preciso operar duas vezes – e ainda não existia anestesia. Inácio ficou manco para o resto da vida e precisou passar meses de cama.

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Na propriedade da família onde ele estava, só havia biografias de santos para ler, e ele percebeu que a vida religiosa podia ser bastante emocionante. Convenceu estudantes cultos, mais jovens do que ele, a dar início a uma nova ordem, moderna. O Vaticano gostou: Inácio atraía religiosos dispostos, bem informados, nobres, com boa formação acadêmica.

Poderiam muito bem ter aderido à revolução iniciada pelo monge Martinho Lutero, na Alemanha, em 1517, que desencadeou a Reforma Protestante, mas Inácio de Loyola nunca abriu mão do respeito total ao papa.

Os jesuítas estavam dispostos a se lançar nos novos territórios que começavam a surgir em velocidade alucinante. Um dos fundadores da ordem, Francisco Xavier, morreria tentando entrar na China, depois de uma experiência arriscadíssima como pregador no Japão.

Outro, Simão Rodrigues, comandou o braço da Companhia de Jesus em Portugal. Os jesuítas foram recebidos de maneira eufórica pela coroa de Lisboa, que precisava de braços para catequizar os vastos territórios que controlava, da América do Sul à Índia, passando pela África.

<strong>Inácio de Loyola: o criador da Ordem dos Jesuítas converteu-se à vida religiosa após ser ferido por uma bala de canhão.</strong>
Inácio de Loyola: o criador da Ordem dos Jesuítas converteu-se à vida religiosa após ser ferido por uma bala de canhão. (Nastasic/Getty Images)

Simão escolheu como chefe do grupo de missionários destinados ao Brasil um religioso dedicado, cuja carreira era prejudicada por uma gagueira terrível. Manoel da Nóbrega queria ser professor, apesar da dificuldade gigantesca que experimentava para falar em público. Acabou se mudando para a Bahia em 1549.

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Nunca mais voltaria para sua terra natal, Sanfins do Douro, onde nascera em 1517, filho do juiz Baltasar da Nóbrega. Morreria no Rio de Janeiro, em 1570, depois de fazer um trabalho incansável, de Pernambuco a São Vicente.

Naquelas primeiras décadas, os missionários deram mostras de dedicação. Os jesuítas encaravam as missões como se estivessem revivendo as experiências dos primeiros apóstolos: sempre em lugares distantes, experimentando o desconforto, levando a palavra de Cristo a pessoas que não a entendiam.

Esses jovens acreditavam sinceramente que precisavam converter pessoas que, de outra forma, estariam condenadas ao inferno. Assim como os primeiros cristãos, sabiam que podiam morrer a qualquer momento. De fato, em 1554, depois de cinco anos de evangelização, pela primeira vez, morreram religiosos no Brasil. Leonardo Nunes, o primeiro de todos, seria vitimado por um naufrágio, em 30 de junho.

Viagem pelo sertão

Os nativos o apelidaram de “abarebebê”, ou “padre voador”, tamanha a capacidade que Leonardo tinha de se deslocar rapidamente para diferentes lugares. Nascido em São Vicente da Beira, em Portugal, ele entrou para a Companhia de Jesus aos 37 anos, em 1546. Chegou ao Brasil na primeira leva de seis religiosos, ao lado de Manoel da Nóbrega, e iniciou, em parceria com o padre Diogo Jacome, o trabalho de evangelização em São Vicente.

Os colonos europeus ajudaram a construir uma igreja e um seminário. O padre voador, que percorreu toda a área até o planalto paulista, Santa Catarina e o Rio da Prata, faleceu a caminho da Europa, onde iria prestar contas ao rei do início dos trabalhos dos jesuítas.

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No mesmo ano de 1554, o religioso João de Souza e o colega Pedro Correia, um antigo caçador de índios convertido à vida missionária, foram presos pelos carijós que viviam em Cananeia. Acabaram assassinados e depois devorados. Foram os primeiros missionários que morreram pelas mãos dos nativos.

Muitos outros religiosos enfrentaram longas distâncias em territórios desconhecidos. Mas perto da viagem de Gabriel Malagrida, essas epopeias ficam parecendo um fim de semana na praia. O religioso italiano, também jesuíta, chegou ao Maranhão em 1721.

Em 1735, já profundo conhecedor dos caminhos entre São Luís e Belém, começou a caminhar. Passou pelo Piauí, pela Paraíba, por Pernambuco. Quando chegou à Bahia, 15 anos haviam se passado. E ele tinha caminhado 14 mil quilômetros.Ao longo desse caminho, Malagrida fundou conventos, orfanatos e seminários, pregou para índios e colonos, alfabetizou crianças e adultos.

Caminhava só com a roupa do corpo e um pouco de água. Tinha o hábito de chicotear as próprias costas, uma maneira de punir a carne de qualquer tipo de tentação. Dormia muito pouco, três ou quatro horas por noite, e começava sua rotina diária com rezas e meditação. Em cada cidade que passava, repetia o costume jesuíta de organizar procissões religiosas e apresentações teatrais com histórias bíblicas. Em geral, era respeitado por bispos e requisitado por lideranças cristãs.

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Certa vez, liderou uma romaria de 40 prostitutas, que seguiram de João Pessoa, na Paraíba, até Igarassu, em Pernambuco, onde as mulheres inauguraram o Convento do Sagrado Coração de Jesus. Ali elas viveriam como freiras, por décadas.

Ao terminar o período de peregrinação, o religioso tinha cumprido seu maior objetivo: mapear toda aquela região, ouvir os moradores, conhecer as necessidades deles e voltar para Portugal para apresentar um relatório detalhado ao rei. Foi exatamente o que fez. Durante a volta, ele teria conseguido que um único barril de água durasse metade da viagem, para toda a tripulação. E que Deus salvasse o navio de um naufrágio.

A intriga com pombal

Malagrida acabaria a vida de forma inesperada: condenado à morte pela Inquisição, aos 72 anos de idade, em 21 de setembro de 1761. Uma lenda da época reza que o coração não foi consumido pela fogueira. Teve que ser colocado dentro de uma caixa e jogado no mar. Ele foi a última vítima fatal de um processo da Inquisição em Portugal.

A acusação formal foi de participação em um atentado contra o rei Dom José 1º, que escapou com vida de um ataque quando deixava a casa da amante, em Lisboa, em 1758. Malagrida teria informado os atiradores da localização do rei naquela noite. Na verdade, seu “crime” foi ter irritado profundamente o Marquês de Pombal, que tentava modernizar o Estado português.

Parte do projeto de Pombal incluía eliminar a influência religiosa sobre o rei – que, tradicionalmente, era educado por padres jesuítas, que também ouviam suas confissões, uma forma clara de manter controle sobre o monarca ao longo de toda a vida.

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Malagrida era inimigo público de Pombal desde 1755, quando Lisboa foi abalada por um terremoto e o religioso declarou, em sermões e cartas, que aquilo era um castigo divino. Deus estaria em fúria, por culpa do marquês. Pombal venceu, ao menos por algum tempo. Afastou os religiosos do convívio do monarca Dom José 1º e, em 1759, conseguiu que os jesuítas fossem expulsos de todas as terras lusitanas, em todos os continentes.

A chegar ao Maranhão, Malagrida seguiu os passos de pioneiros que o antecederam, e se sacrificaram em nome da fé. Em São Luís, o esforço missionário começou no início do século 17. Em 1608, os nativos arrebentaram com uma borduna a cabeça do jesuíta pioneiro Francisco Pinto, que havia chegado à região um ano antes, ao lado do religioso Luís Figueira.

Luís sobreviveu e voltou para a Europa. Retomaria o trabalho na região em 1622. Viveu no norte do Brasil até 1643, quando o navio em que ele e outros 14 missionários estavam naufragou nos arredores da Ilha de Marajó. Ninguém sobreviveu. Em seus últimos anos de vida, vinha fundando aldeias no Baixo Xingu. Os missionários da Companhia de Jesus seguiam a mesma estratégia.

<strong>Santa Inquisição: a Igreja executou o jesuíta Gabriel Malagrida em Portugal, por influência do Marquês de Pombal.</strong>
Santa Inquisição: a Igreja executou o jesuíta Gabriel Malagrida em Portugal, por influência do Marquês de Pombal. (Nastasic/Getty Images)

Primeiro, eles se aproximavam com humildade, geralmente em duplas, até conseguir licença para dormir entre os índios – aí já começavam as dificuldades, porque, em geral, era preciso recusar as ofertas de mulheres, uma prática disseminada por boa parte das etnias locais.

Manoel da Nóbrega, por exemplo, usava cilícios, cordões presos às coxas, bem apertados, para lhe fazer sangrar e lembrar do sofrimento de Cristo, principalmente quando a tentação era mais forte. Aliás, os jesuítas eram conhecidos pelo autoflagelo no meio da rua, durante as procissões religiosas – um costume que, certamente, deve ter chocado os indígenas tanto quanto o canibalismo deles impressionava os ocidentais.

Astronomia e música

Os religiosos estimulavam os fiéis a também se machucar em nome da fé, como relata o antropólogo Luiz Mott, no artigo “Entre a Capela e o Calundu”, publicado dentro do livro História da Vida Privada no Brasil: “A religiosidade popular, ao gosto barroco, externava-se mediante manifestações marcadas por forte emoção.

Em Porto Seguro, na Semana Santa, o padre Antônio Gonçalves relatava que ‘nunca vi tantas lágrimas em Paixão como vi nesta, porque desde o princípio até o cabo, foi uma contínua grita e não havia quem pudesse ouvir o que o padre dizia. E isto assim em homens como em mulheres, e saíram algumas cinco ou seis pessoas quase mortas’”.

No esforço de catequização, essas lições de sacrifício físico ficavam para um segundo momento. Durante o processo de convencimento dos locais, depois de viver no meio deles, os jesuítas começavam a apresentar canções, que costumavam fazer um sucesso enorme – a música foi essencial para o esforço de evangelização, porque os índios, em geral, eram fascinados por canções e danças.

Em sua carta datada de 1500, o escrivão Pero Vaz de Caminha já havia abordado, com grande riqueza de detalhes, do contato musical inaugural entre duas civilizações tão diferentes: “Passou-se então para a outra banda do rio Diogo Dias, que fora almoxarife de Sacavém, o qual é homem gracioso e de prazer. E levou consigo um gaiteiro nosso com sua gaita”, relatou.

“E meteu-se a dançar com eles, tomando-os pelas mãos; e eles folgavam e riam e andavam com ele muito bem ao som da gaita. Depois de dançarem, fez ali muitas voltas ligeiras, andando no chão, e salto real, de que se eles espantavam e riam e folgavam muito.”

Em seus próprios rituais, os indígenas usavam instrumentos de sopro, feitos muitas vezes de ossos humanos, e chocalhos construídos de cabaça oca com sementes secas em seu interior. Esse talento seria colocado à prova, com sucesso, décadas depois, quando os guaranis do Sul, vivendo em missões jesuíticas, começaram a fabricar flautas e pianos que eram exportados, com sucesso, para a Europa.

Muitos dos jesuítas eram entusiastas do ensino de canções sacras para os índios e também da estratégia de fazer adaptações cristãs das cantigas dos próprios nativos. Antonio Rodrigues, um dos primeiros a chegar ao País, ensinou garotos tupinambás a ler partituras em Salvador. Antonio era órfão e seguiu, a princípio, carreira militar.

Em 1536, como soldado, atuou na primeira tentativa de fundar uma vila onde hoje fica Buenos Aires. No ano seguinte, estava nos arredores da atual cidade paraguaia de Assunção. Viveu ali por algum tempo, fazendo incursões até o atual Mato Grosso.

Em 1553, seguiu, a pé, do Paraguai até São Vicente. Ao concluir a caminhada de 1.400 quilômetros, entrou para a Companhia de Jesus. Era respeitado pelos guaranis porque falava o idioma deles com grande fluência. Participou da fundação de São Paulo. Só depois foi até Salvador, onde, assim como em Piratininga, ensinou música aos europeus e aos locais. Morreria com 52 anos, já no Rio de Janeiro. Construiu muitas escolas. Escolas, aliás, eram uma prioridade para os missionários.

Antes do fim do século 16, já havia instituições prontas, fosse para alfabetizar índios ou para ensinar latim, matemática e astronomia para os filhos de europeus, em São Paulo, São Vicente, Salvador, Rio de Janeiro, Olinda, São Luís, Ilhéus e Recife. Nas escolas, como as fundadas por Antonio, as crianças indígenas se aproximavam dos padres cantores.

Eram elas as primeiras a receber os ensinamentos, fornecidos por intermédio de intérpretes ou pelos próprios religiosos, quando eles já dominavam o idioma local. Os missionários sabiam: crianças são formadoras de opinião importantíssimas, porque colocavam os religiosos em contato com a comunidade, primeiro com as mães, depois os pais. Esse percurso acontecia com poucas variações. Mas havia, dentro das tribos, um grande concorrente dos religiosos: os pajés.

Os pajés eram os médicos, os sacerdotes, os estrategistas. Os caciques os consultavam sobre quaisquer assuntos, incluindo a aceitação, ou não, daqueles homens branquelos, barbudos, de fala estranha e dizendo que só existia um deus, e que seu filho havia sido torturado e morrido de forma violenta e humilhante numa cruz. Obviamente, eles não gostavam de ver os religiosos usarem de seus conhecimentos de medicina para amenizar ou curar problemas dos índios.

Por sua vez, os feiticeiros nativos tinham uma grande vantagem: acontecia, o tempo todo, de os índios mais próximos dos missionários adoecerem rapidamente e morrerem. Hoje sabemos as causas das doenças para as quais os índios não tinham defesa, mas, na época, não foram poucas as tribos que expulsaram os religiosos europeus depois de acreditar no argumento do pajé: aquela água usada no batismo era envenenada, dizia ele.

Sexo no confessionário

Para cada caso de abnegação e sacrifício, existia outra situação, em que padres, vivendo no isolamento da colônia, adotavam comportamentos bem pouco sacros. Eram muito comuns os casos de padres que se mantiveram à frente de igrejas, dando sermões, mas depois das missas voltavam para suas casas onde viviam abertamente com mulheres e filhos.

A atitude era mais comum entre padres que não faziam parte de ordens religiosas e se instalavam na colônia como párocos, cujo objetivo principal era manter a fé dos moradores europeus, mais do que converter os locais. O chefe dos jesuítas, Manoel da Nóbrega, encontrou vários deles, muitos dos quais já viviam no País desde a década de 1530.

Os religiosos de Pernambuco o deixaram especialmente irado. Ali, os padres não só viviam com índias como pregavam que todo homem europeu tinha o direito de pecar com quantas escravas nativas (que eles chamavam de “negras”) quisesse.

“Os clérigos desta terra têm mais ofício de demônios que de clérigos; porque além de seu mau exemplo e costumes, querem contrariar a doutrina de Cristo, e dizem publicamente aos homens que lhes é lícito estar em pecado com suas negras, pois que são suas escravas, e que podem ter os salteados, pois que são cães”, escreveu Nóbrega, inconformado.

Ao saber de um padre específico, que vivia abertamente com sua esposa, o jesuíta fez uma cena: parou diante da porta e, apesar da gagueira, começou a berrar que, ali dentro, Jesus Cristo estava sendo mais uma vez crucificado. De pouco adiantou: ao longo dos primeiros duzentos anos de colonização, era muito comum encontrar padres vivendo com mulheres e filhos.

“Em São Paulo no século 18, Maria Pais, bastarda, vivia amancebada com o padre Antonio Soares, de quem tinha filhos”, relata a historiadora Mary del Priore no livro A Mulher na História do Brasil.

A lista de casos, registrados em diferentes locais e momentos históricos distintos, prossegue: “No sul da Bahia, em 1813, Vitoriana, mulher solteira, tratava ilicitamente com o padre Teodoro Gomes, de quem tinha duas filhas. Josefa, também solteira, vivia ‘portas adentro’ com o padre Joaquim Pereira, de quem tinha vários filhos. Policarpa, mulher branca, vivia concubinada publicamente com o padre Joaquim Motta ‘há muitos anos de quem tem tido vários filhos’”.

Além de manterem suas próprias famílias abertamente, muitos padres se aproveitavam das oportunidades que os sacramentos proporcionavam. A confissão, em especial, era realizada a dois, durante sessões longas, de mais de uma hora.

Era obrigatória, já que sem ela não se podia frequentar as missas, que garantiam a continuidade da vida social. Também era gratuita, mas o religioso Francisco de Paula Bernardes, que vivia no Rio de Janeiro, exigia presentes – quem não pagasse pelo sacramento corria o risco de ser excomungado.

Era comum que, em vez de recomendar Pais Nossos e Aves Marias, os religiosos deitassem as fiéis no colo, de barriga para baixo, puxassem suas saias e dessem tapas nas nádegas, a pretexto de punir os pecados. Um religioso de 21 anos, João Rois de Morais, foi acusado por uma escrava libertada, Manuela, de tentar convencê-la a tirar a parte de cima da roupa, para que ele pudesse apertar seus seios.

Ao ouvir a recusa, ele, inconformado, rasgou a camisa de Manuela. João, aliás, ganhava a vida de forma pouco honesta: vendia água benta, rosários supostamente milagrosos e cartas que garantiriam o perdão de qualquer pecado.

Monstros reais e imaginários

Nossa fauna atiçava a imaginação dos europeus.

Do ponto de vista de um europeu, o Brasil apresentava diferenças surreais. Claro que o sol nascia e se punha, chovia e fazia céu claro, como em qualquer outro lugar, mas as dimensões pareciam estranhamente maiores.

As árvores, as flores, os insetos, os répteis, tudo parecia gigantesco. Os viajantes que se mudaram para cá ou passaram temporadas aqui escreveram relatos detalhados sobre seres fantásticos, quase inacreditáveis para os europeus.

Alguns desses monstros eram reais. O governador holandês de Pernambuco, Maurício de Nassau, descreveu assim o bicho-preguiça: “Mais vagarosa que um caracol, tem o corpo grande e cinzento; seu rosto parece o de uma mulher; tem os braços compridos, munidos de unhas também compridas e curvas, com que o dotou a natureza para poder trepar em certas árvores, no que gasta boa parte do dia”.

Já o aventureiro francês André Thevet tentou explicar como é um jacaré: “Uma espécie de lagarto da grossura de um leitão de um mês, tendo o comprimento proporcional ao volume e a carne apetitosa, conforme testemunham os que dela provaram”.

Os bugios, os peixes-espadas, os jacus, as onças, os tatus, os tucanos… Para onde olhavam, os europeus ficavam extasiados ou assustados.

Por isso, era difícil diferenciar, nos relatos, esses animais de seres completamente imaginários. O frei Vicente do Salvador descreveu as cascavéis de maneira bastante precisa. Mas o mesmo historiador contou que existia um peixe com rosto de tigre, coberto por pelos e não escamas, que tinha a capacidade de sair da água e caminhar em pé.

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