Uns são duas vezes mais rápidos que Usain Bolt, enquanto outros são ilegais em alguns países. Conheça as raças que dariam um show nas Olimpíadas
Texto: Agência Fronteira | Edição de Arte: Juliana Vidigal | Design: Andy Faria
Dálmata
Origem / Península balcânica • Temperamento / afetuoso • Porte / 50 a 61 cm
Se as pintas espalhadas pelo corpo de um dálmata representassem cada uma das funções que a raça desempenhou no decorrer da história, talvez as manchas não fossem suficientes. O cão é dono de talentos diversos e já chamou a atenção de egípcios, nobres ingleses, ciganos e até dos estúdios Disney, que o transformaram em personagem de desenho animado em 1961.
O dálmata é uma das raças mais populares e inconfundíveis do mundo – e sua fama não vem de agora. Pinturas gregas com mais de 4 mil anos mostram cachorros semelhantes. Figuras do cão também foram encontradas em tumbas egípcias do tempo dos grandes faraós. Já o nome veio de uma província romana chamada Dalmácia, na península balcânica
(a região da antiga Iugoslávia).
O dálmata lutou bravamente para sustentar sua glória registrada em paredes de pirâmides e salas de cinema. Uma das funções mais famosas da raça foi a de cão de carruagem durante o reinado da Rainha Vitória, na Inglaterra do século 19. A tarefa do dálmata era correr ao lado dos veículos da aristocracia para proteger o cortejo de assaltos e os cavalos de outros cachorros. O esforço era tanto que o coitadinho chegava a percorrer de 20 km a 30 km por dia.
Em retribuição, ganhou um grande amigo no mundo animal: dizem que os dálmatas adoram cavalos e são adorados por eles. Os nobres também queriam estar perto do cachorro, já que ter um exemplar ao lado da carruagem era símbolo de status e luxo. Com a revolução industrial, porém, vieram os automóveis, e a função de acompanhante de carruagens deixou de fazer sentido.
Ficou dessa época apenas a herança de mascote dos bombeiros. O dálmata também acompanhava os bombeiros desde o tempo em que os caminhões que apagavam as chamas eram puxados por cavalos. A corporação se apegou tanto ao bicho que alguns departamentos ainda hoje treinam seus dálmatas para carregar materiais até o interior de prédios em chamas. O faro apurado da raça é capaz de encontrar pessoas no meio das chamas mesmo com muita fumaça no ambiente.
Depois da vida de acompanhante de carruagens e parceiro de cavalos, o dálmata fez bicos no circo. Ciganos acharam seu visual exótico e resolveram levá-lo para o picadeiro. O cão andava sobre barris, saltava através de aros e subia escadas. Da diversão dos picadeiros, foi para os campos de guerra. Entregava mensagens, colocadas em um colar, aos soldados no front britânico. Durante as guerras mundiais e também no Vietnã, serviu como cães de guarda em acampamentos do exército norte-americano.
Acostumado com muita ação, o papel de companheiro doméstico só foi praticado mesmo depois da carreira de astro de cinema. A raça chegou às telas em 1961, com a animação 101 Dálmatas, da Disney. E desde lá não existe criança que não tenha visto a história dos 101 cãezinhos manchados que quase viraram casaco de pele nas mãos da malvada Cruella. Quando não é protagonista, a raça surge como coadjuvante de poderosos. O dálmata Madame Moose animava os dias do primeiro presidente dos EUA, George Washington.
Malamute do Alasca
Origem / Alasca • Temperamento / leal • Porte / 58 a 71 cm
Levar um malamute do Alasca para passear e não ser arrastado pela coleira é um grande desafio. A raça está tão habituada a puxar carga que é difícil convencê-la de que o dono não é um trenó. O cão recebeu esse nome em homenagem à tribo indígena esquimó Mahlemuts, provavelmente a primeira que o utilizou para tração.
Por sua resistência ao clima congelante do Alasca, a raça foi decisiva durante a corrida do ouro no final do século 19, quando transportou cargas e homens sobre a neve. Hoje, o malamute leva vantagem em competições com trenós. É o parente de grande porte do husky siberiano e, claro, bem mais forte.
Greyhound
Origem / Egito • Temperamento / calmo • Porte / 69 a 73 cm
Dizem que não há nada mais belo do que um greyhound correndo a todo vapor. Considerada a raça mais rápida do mundo, os magrelos podem atingir uma velocidade de até 72 km/h (quase o dobro do recordista jamaicano Usain Bolt, que corre a 43 km/h).
A fama de veloz lhe rendeu tanto prestígio que o cão até dá nome à maior empresa de ônibus dos Estados Unidos, a Greyhound Lines. Sua provável origem é o Egito, onde há imagens de exemplares da raça pintados em tumbas de quase 5 mil anos atrás.
Pointer Inglês
Origem / Inglaterra • Temperamento / observador • Porte / 61 a 69 cm
Como o próprio nome diz, o pointer (em inglês, indicador) é especialista em identificar o local exato das presas, função que vem sendo desenvolvida desde o século 17.
Quando identifica a caça, coloca-se em posição de seta (com o corpo, a cabeça e uma das patas na direção do alvo) e permanece imóvel para que o dono termine o serviço. Uma habilidade herdada dos lobos, que, entre outros instintos de caça, ficam na mesma posição dos pointers depois de cercar a presa para indicar ao resto da matilha onde está a comida.
Saluki
Origem / Oriente Médio • Temperamento / leal • Porte / 58 a 70 cm
Entre os árabes, são considerados presentes de Alá. A raça gozava de prestígio entre os beduínos, o povo nômade que habita o deserto, que permitiam que os cães dormissem nas tendas à noite. Uma grande vitória numa cultura onde cachorros podem ser considerados impuros – menos o saluki.
É resistente e muito veloz, como os galgos. Utiliza mais a visão do que o faro para perseguir seus alvos e consegue avistar ao longe lebres, a presa mais atrativa para os salukis de menor porte. Como os gatos, passa horas lambendo seu próprio pelo e não tem cheiro.
Whippet
Origem / Inglaterra • Temperamento / tímido • Porte / 43 a 50 cm
Se você já ganhou dinheiro apostando em corridas de cães, sua gratidão muito provavelmente deve ser destinada ao whippet. Junto com o greyhound, a raça é uma das mais usadas nas disputas de velocidade. O espírito competitivo teve origem no campo, quando seus donos os usavam na caça de lebres e coelhos.
Com a Revolução Industrial, as famílias camponesas se mudaram para as cidades levando seus whippets – que descobriram que perseguir uma lebre de mentira nas competições de corrida era tão divertido quanto abocanhar as verdadeiras.
Dogo Argentino
Origem / Argentina • Temperamento / violento • Porte / 61 a 69 cm
Foi criada para ser imbatível em lutas de arena e eficiente para caçadas de pumas, jaguares e javalis. Surgiu em 1928, depois dos hermanos António e Augustin Nores Martinez cruzarem cães de briga espanhóis, boxers, buldogues e bull terriers durante anos para obter a genética perfeita. O resultado foi como misturar coca com mentos – explosiva.
Pela reputação violenta, o dogo acabou proibido em vários países, entre eles o Reino Unido, onde quem for pego com um desses pode ser preso. Musculoso e inteiramente branco (manchas na pele são vistas como um defeito da raça), exige treinamento de um profissional paciente, mas, depois das aulas de boas maneiras, pode virar um cão de companhia leal e obediente.
Spaniel Bretão
Origem / França • Temperamento / curioso • Porte / 47 a 50 cm
Também conhecido como brittany, está entre os favoritos dos caçadores. Surgiu no século 19, quando os franceses cruzaram pequenos spaniels com setters, originando um cão com olfato apurado e rabo curto.
Por causa da habilidade em apontar e trazer objetos, somada a sua extrema obediência, logo se tornou popular entre caçadores da classe alta francesa. E também de ladrões, que ensinaram os animais a abocanhar e entregar bolsas desguarnecidas para os meliantes.
Pastor Australiano
Origem / Estados Unidos • Temperamento / enérgico • Porte / 43 a 51 cm
Imagine a cena: um cão com tanta energia que chega a correr sobre as costas das ovelhas para chegar na frente delas e liderar o rebanho. É o pastor australiano, um verdadeiro workaholic (que, na verdade, nasceu nos EUA). Pode pastorear o dia inteiro rebanhos de ovelha, gado, não importa do quê.
Na Austrália, há mais de 100 mil pastores – é o animal de trabalho mais popular da região. Se quiser tê-lo em casa, garanta espaço. E não se assuste se ele começar a querer pastorear as pessoas da família.
Husky Siberiano
Origem / Sibéria • Temperamento / obstinado • Porte / 51 a 60 cm
Esse cão de profundos olhos azuis já salvou uma cidade inteira. Em 1925, Baldo, o cão líder de um grupo de husky siberianos, enfrentou uma tempestade de neve carregando soro contra difteria por mais de 200 quilômetros durante a Grande Corrida da Misericórdia, quando um surto da doença atingiu Nome, uma cidade isolada do Alasca, e o único jeito de levar os remédios até lá era usando os cachorros.
A bravura de Baldo lhe rendeu uma estátua no Central Park, em Nova York. Os huskies são exímios puxadores de trenó. Geneticamente próximos dos lobos, gostam de provar sua resistência em trabalhos de longa distância. O parentesco também faz deles cães silenciosos, que latem pouco, mas que sabem uivar. O uivo de um huskie pode ser ouvido a uma distância de 16 quilômetros.
Setter Inglês
Origem / Inglaterra • Temperamento / afável • Porte / 61 a 69 cm
Foi desenvolvido para auxiliar caçadores de aves a partir do século 16. Mas, ao contrário de outros cães de caça que podem apontar, latir e até correr em direção do pássaro, o setter tinha a função de sentar quando encontrava a presa. Assim, o caçador tinha tempo de preparar a arma e a pontaria. Depois de um comando, o setter espantava o pássaro, que levantava voo e virava alvo fácil.
Hoje, a raça raramente é vista nos campos de tiro, mas ganhou espaço nas residências, onde são companheiros silenciosos e de boa índole. Precisam de muito espaço para se exercitar.
Vizsla
Origem / Hungria • Temperamento / dócil • Porte / 53 a 61 cm
Novidade no Brasil, o vizsla, também conhecido como braco húngaro de pelo curto, é um velho conhecido no leste europeu, onde surgiu há mais mil anos. Nunca foi muito popular porque era um cão controlado pelo Estado – só os nobres tinham o privilégio de contar com a raça como mascote e, eventualmente, o davam de presente à aristocracia de outros países.
Era uma honra receber um royal golden vizsla – a pelagem dourada, que vai do amarelo queimado ao ferrugem, é o destaque da raça. Os treinadores o consideram um ótimo cão de companhia para o campo. Caçador, nadador e corredor, ele ainda hoje ocupa os círculos esportivos da Hungria, seu país de origem.