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Ciência

As últimas respostas de Stephen Hawking

Em "Breves Respostas para Grandes Questões", seu último livro, publicado postumamente, Hawking tenta responder a dilemas que colocam a humanidade para pensar.

por Guilherme Eler Atualizado em 14 mar 2022, 07h58 - Publicado em 27 fev 2019 12h53

Aqui estão as conclusões mais instigantes de "Breves Respostas para Grandes Questões"

No livro lançado após sua morte, Hawking tenta responder a dilemas que colocam a humanidade para pensar.

É possível prever o futuro?

Em tese, é sim. Hawking diz que, caso fosse possível saber a posição e a velocidade de todas as partículas do Universo em um determinado momento, daria para calcular onde cada uma estará no instante seguinte.

E isso vale para coisas subjetivas, como a roupa que você vai usar amanhã ou o nome de seus filhos que ainda não nasceram.

O problema é que, como descobriu o físico alemão Werner Heisenberg (1901-1976), essa conta não é precisa. Segundo seu “princípio da incerteza”, não conseguimos medir a posição de coisas muito pequenas sem interferir no resultado da conta. Quando prevemos a órbita de Marte, por exemplo, isso não atrapalha em nada sua trajetória ou velocidade. Mas não vale para partículas muito pequenas, como elétrons.

Iluminar um elétron para estudá-lo, por exemplo, já é suficiente para fazê-lo roubar energia da luz e perder estabilidade. Dessa forma, quanto mais exata for a previsão sobre a velocidade do elétron, mais difícil é achar a posição dele no espaço e vice-versa.

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Na verdade, o buraco é mais embaixo. Heisenberg descobriu que uma partícula ou tem posição ou tem velocidade. Ou seja: o mundo microscópico é feito de fantasmas inescrutáveis. A chave para diminuir essa imprecisão seria analisar posição e velocidade como se fossem uma coisa só. Isso é possível a partir da “função de onda”, fórmula que estima o estado quântico de uma partícula usando probabilidade estatística.

Se pudéssemos achar a função de onda de cada partícula que existe, aí sim, daria para mapear o futuro de todas as coisas.

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O que há dentro de um buraco negro?

O grande mistério sobre buracos negros é que não sabemos se eles têm “memória”. A teoria mais aceita é a de que não há como conhecer sua história. Por exemplo, se um dia o buraco sugou uma estrela, planeta ou nave espacial, nenhuma tecnologia que exista ou venha a existir será capaz de rastrear o que caiu lá dentro.

Hawking, porém, morreu tentando criar uma teoria que dissesse o contrário. Os vestígios daquilo que um buraco negro engoliu escapariam de alguma forma junto da radiação que eles emitem – uma forma de energia conhecida como “radiação Hawking”, esta sim a maior descoberta científica de Stephen.

Como tudo começou?

Para Hawking, tudo veio do nada. No primeiro momento do Big Bang, todo o Universo estava comprimido num único ponto, menor que um próton. Não se sabe o que criou tal ponto. Segundo o físico, ele pode, inclusive, ter surgido do nada, sem demandar qualquer energia. Uma vez que nem tempo, nem espaço existiam, não há como haver algo anterior, do qual o ponto tenha se originado.

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(Estevan Silveira/Superinteressante)

Deus existe?

Pelo mesmo motivo que Hawking aponta na resposta à pergunta anterior, também não haveria necessidade de um criador. Se o tempo não existia antes do Big Bang, então não há um instante no qual o Universo foi produzido, diz Hawking.

Quando observamos a vastidão do cosmos, e como a vida humana é insignificante e acidental, explica o físico, parece pouco plausível que alguém o tenha criado e controle nosso destino. Para além da vontade de um ser superior, tudo é regido por “leis da natureza” imutáveis e universais. É até possível entender tais leis como “deus”. Só que, pensando assim, ele não seria pessoal e acessível, como pregam as religiões.

Caso fosse, no entanto, Hawking diz que teria algo na ponta da língua para questioná-lo: “Perguntaria o que ele pensa de um negócio bem complicado, tipo a Teoria-M”. Essa teoria afirma que podem existir não quatro, nem cinco, mas 11 dimensões.

Assim como não há um antes, segundo Hawking também não há um depois. Quando a vida acaba, retornamos ao pó – de estrela, é claro.

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Há vida inteligente fora da Terra?

Se existe, deve estar muito distante – caso contrário, já teria vindo ao nosso planeta. Mas, e se já recebemos visitas intergalácticas e não nos demos conta disso? Para Hawking, não tem jeito: a aparição de OVNIs e aliens deveria ser muito mais evidente do que sugere nossa vã ufologia.

Ela também seria, aliás, potencialmente catastrófica. As chances de que formas de vida inteligente apareçam espontaneamente é tão baixa que, segundo o cientista, é provável que a Terra seja o único planeta da galáxia (ou do Universo observável) em que isso aconteceu.

Mas nada impede que muitos outros planetas tenham vida. Essa vida não teria necessariamente desenvolvido inteligência – pelo menos não da forma como a conhecemos.

Surge aí um problema de conceito, aliás. Como humanos, tendemos a tratar inteligência como consequência evolutiva: se algo é mais evoluído, é mais inteligente – o que não necessariamente é verdadeiro fora de nossa limitada caixinha. Isso quer dizer que podem existir, em algum canto do Universo, indivíduos biologicamente complexos, mas incapazes de criar uma nave ou, ainda, travar um contato amistoso.

Não que a busca por vizinhos inteligentes, por si só, valha muito a pena. No nosso atual estágio, encontrar uma civilização extraterrestre seria como quando os nativos americanos encontraram Colombo. “Não creio que eles achem que sua situação melhorou depois disso”, disse Hawking.

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É possível viajar no tempo?

A ciência sabe perfeitamente como viajar ao futuro. O problema é de engenharia: para tal, precisaríamos apenas construir uma nave espacial abusivamente veloz. Ela precisaria chegar bem perto de 1,08 bilhão de km/h – a velocidade da luz. Caso ela vá até 99,99999…% da velocidade da luz, por exemplo, seria possível sair do ano 2019 para qualquer data futura.

É que, quanto mais rápido a nave vai, mais devagar o tempo passa para quem está lá dentro, e mais rápido do lado de fora. Assim, uma viagem de 5 minutos perto da velocidade da luz significaria um salto de um século para o futuro.

O que a ciência não imagina é como voltar no tempo. Hawking achava que essa era mesmo uma impossibilidade física – tanto que, em 2009, fez uma brincadeira: organizou uma festa para viajantes no tempo. Para garantir que só turistas do futuro comparecessem, divulgou o evento só depois que ele aconteceu.

Mas ele e outros físicos imaginaram uma gambiarra: levar uma nave hiperveloz até o futuro, mas com um buraco de minhoca no porta-malas. O buraco serviria como um portal entre a data de destino da nave (o ano de 2119, por exemplo) e 2019. Nisso, seus bisnetos do século 22 poderiam usar o portal para te visitar aqui no século 21. Uma viagem ao passado. Só que voltar para uma data anterior à invenção dessa primeira máquina do tempo seguiria impossível.

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O ser humano vai ser extinto?

Sim – a menos que a gente dê um jeito de abandonar a Terra antes. Com o esgotamento dos recursos naturais, mudanças climáticas, desmatamento, superpopulação, guerras, fome, escassez de água e extermínio de espécies, “confinar-se no planeta seria viver como náufragos que não tentam escapar de sua ilha deserta”, argumenta. Usando os entreveros recentes entre Donald Trump e Kim Jong-un como exemplo, Hawking diz crer, porém, que uma guerra nuclear seja a maior ameaça hoje.

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(Estevan Silveira/Superinteressante)

A Inteligência artificial vai dominar o mundo?

Se a humanidade der brecha, vai. É preciso garantir que nossos objetivos estejam alinhados com os das máquinas quando a capacidade intelectual delas superar a do ser humano – Hawking acredita que isso acontecerá dentro de um século (veja a linha do tempo desta matéria).

Para o médio prazo, o físico é estranhamente otimista: o uso de robôs poderia automatizar empregos e trazer prosperidade e igualdade aos Homo sapiens – algo que, convenhamos, parece longe de acontecer. Menosprezar a capacidade e a astúcia de inteligências artificiais, no entanto, pode ser nosso pior erro. O verdadeiro risco nem é criar uma coisa má, que saia do controle e decida assumir um lado perverso. Mas, sim, algo competente demais.

O melhor exemplo para entender o risco seria pensar em nossa própria relação com as formigas. Não é como se os humanos as odiassem a ponto de querer riscá-las do mapa. Porém, caso uma colônia esteja em uma área que precisa ser alagada para a construção de uma hidrelétrica, por exemplo, não pensamos duas vezes antes de afogar milhares delas.

“A tecnologia poderia tapear os mercados financeiros, superar a inventividade dos cientistas, aprender a manipular mais que os líderes humanos e nos subjugar com armas que seremos incapazes de compreender”, diz Hawking. Teríamos de entregar a Terra de bandeja. Só restaria torcer para que ainda sobrassem robôs submissos para nos ajudar na tarefa de arrumar outro planeta.

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