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Como é o treinamento dos cães farejadores de drogas?

Trabalho árduo que busca tirar proveito das duas principais características dos cães que desempenham essa função: faro apurado e personalidade curiosa.

Texto: Yuri Vasconcelos | Design: Andy Faria | Ilustrações: Daniel Rosini

A

ntes de meter as fuças em malas, carros ou pessoas – em geral nos locais de grande fluxo de gente ou mercadorias, como alfândegas, aeroportos e terminais rodoviários –, eles passam por meses de ralação, quando aprendem a identificar os diversos tipos de drogas e a se comportar em público. A escolha dos cachorros para o emprego de caça-bagulhos se deu em função de seu olfato poderoso. Eles começaram a ser usados para farejar substâncias ilegais no fim dos anos 60, durante a Guerra do Vietnã (1959-1975), quando o consumo de heroína entre soldados americanos tornou-se um sério problema para o Exército dos EUA. Com o tempo, a nareba afiada deixou de ser o único pré-requisito para o posto.

“No início, a capacidade olfativa era um fator decisivo na seleção dos animais, mas hoje o que qualifica, de fato, um cão é o seu interesse por procurar e encontrar objetos”, diz Antônio José Miranda de Magalhães, chefe do canil da Polícia Federal, em Brasília. A unidade é o principal centro de treinamento de cães farejadores no Brasil e, desde sua criação, em 1988, já formou mais de cem “focinhos de ouro” para a função.

Bisbilhoteiros oficiais

Olfato extremamente apurado e temperamento curioso são os principais pré-requisitos dos “focinhos de ouro” da polícia

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1 • Labrador, golden retriever, pastor belga malinois e pastor alemão são as raças mais usadas no combate ao tráfico de drogas. Esses cães têm um faro apuradíssimo, graças aos seus mais de 200 milhões de células olfativas – para ter uma ideia, o fox-terrier tem 147 milhões e o homem “míseros” 5 milhões.

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2 • Depois de passar na peneira dos bons de fuça, são escolhidos os animais mais curiosos e perseverantes, que gostam de procurar e recuperar objetos e não desistem facilmente da busca. Com isso, os policiais têm a garantia de que seus futuros parceiros não farão corpo mole em serviço.

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3 • No canil da Polícia Federal, o adestramento começa quando o cão tem apenas 2 meses. Antes do treino específico para achar drogas, os animais passam por um “cursinho” de socialização e comandos básicos, como responder ao chamado do policial, sentar-se etc. Isso é feito, entre outras coisas, para que eles não ataquem as pessoas nas ruas.

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4 • O treinamento propriamente dito – que dura cerca de dois meses – só rola depois que o cão completa 1 ano de idade. A partir daí, ele entra em contato com o odor típico da droga, que é acondicionada dentro de tubos de PVC, mangueiras de borracha ou em pequenas bolsas, feitas de lona impermeável, que imitam seus próprios brinquedos.

Com 10 cm de comprimento e fechado nas extremidades, o tubo de PVC tem vários furinhos, de menos de 0,5 cm, para o cão sentir o cheiro do bagulho. Lá dentro, a droga é acondicionada em sacos plásticos.

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5 • Após o cão se acostumar com o cheiro dos diversos tipos de drogas, os “brinquedinhos” são escondidos para que ele os encontre. O grau de dificuldade do exercício aumenta com o tempo. Para disfarçar o odor do tóxico (recurso adotado pelos traficantes), os treinadores misturam a ele produtos diversos, como alho, pimenta e cebola.

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6 • Sempre que o animal encontra o bagulho, recebe elogios e agrados do treinador. Caso ele não seja bem-sucedido, não recebe punição, mas, se dá mostras de que não vai dar conta do recado, pode até ser afastado do treinamento. Em nenhum momento do curso, e em hipótese alguma, o cão entra em contato com a droga.

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7 • Depois que está craque em farejar os entorpecentes, é hora de o bicho mostrar que sabe se portar em público. Ele é levado para fazer o treino ambiental nos locais onde irá trabalhar (postos de fronteira, aeroportos, rodovias etc.), para se acostumar com o movimento desses lugares. A partir daí, ele está pronto para botar o focinho em ação.

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8 • Já no batente, o cão usa os dois tipos de alerta que aprendeu. No ativo, ele arranha e morde o local onde a droga está escondida, ou pode latir para o suspeito de levar tóxicos. No passivo, ele se posiciona ao lado desse local ou da pessoa. Os cães intercalam períodos iguais de até 50 minutos de trabalho e descanso. O tempo pode variar, mas em geral eles ficam na ativa até os 10 anos de idade.

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Solta os cachorros!

Além de farejar drogas, os cães podem desempenhar com perícia várias tarefas

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• Guia de cegos – Os cachorros têm sido usados na condução de cegos desde a década de 1920. As raças mais adequadas a essa função são labrador, pastor alemão, golden retriever, bóxer e collie. Para ser um bom cão-guia, é importante que o animal seja paciente, dócil e determinado.

• Farejador de minérios – Na década de 1960, na Finlândia, um instituto de prospecção geológica treinou com sucesso cachorros pastores alemães para encontrar jazidas de minérios, como cobre e níquel. Os animais conseguiram farejar minerais enterrados a até 12 metros de profundidade.

• Cães de resgate – São peritos em localizar desde sobreviventes – ou cadáveres – soterrados sob escombros até crianças perdidas. Golden retriever, labrador, pastor alemão e collie são as raças mais utilizadas. Quando treinados, detectam odores disfarçados debaixo de metros de entulho.

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