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5 filmes clássicos sobre a Primeira Guerra Mundial

Elaboramos um ranking das produções mais marcantes que retratam o período.

Texto: Alexandre Carvalho | Design: Andy Faria | Imagens: Divulgação

O

mundo seria um lugar melhor se o autor de ficção científica H.G. Wells tivesse acertado na previsão. Após o início da 1a Guerra, o autor britânico publicou artigos afirmando que o combate daria um fim ao militarismo alemão – e o planeta atingiria uma paz duradoura. Seria a “guerra para acabar com todas as guerras”.

A ideia pegou, e a opinião pública acreditava que o conflito seria rápido e quase indolor. Mas não: a luta durou quatro anos e matou 20 milhões. Para o cinema, que dava seus primeiros passos na época, foi um período rico em experimentação dos artistas, que desenvolveram noções da estética do filme, da ética envolvida na guerra e de até que ponto o espectador pode ver corpos mutilados. Uma faculdade que serviria para todo o cinema de violência que veio depois.

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Sargento York

Howard Hawks – 1941

Sargento York

Honra ao mérito: revela a história verídica de um herói americano

Este filme conta uma história real, a jornada heroica de Alvin York, um caipira do Tennessee que foi para a 1ª Guerra contra a vontade e se tornou um dos soldados mais condecorados do conflito. York não queria ir porque era cristão devoto e acreditava que matar alguém ia contra os ensinamentos da Bíblia.

Chegou à França em 1918 como um objetor de consciência – alguém que, por motivo religioso ou moral, não aceita algumas funções do serviço militar, ou o rejeita completamente. Mas não demorou para que ele fosse convencido do contrário por seus superiores: ajudar os americanos a vencer seria da vontade de Deus. E o que veio a seguir foi a incrível transformação de um pacifista do interior em uma máquina mortífera.

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Num ataque a um ponto de metralhadoras dos alemães, York matou, no mínimo, 25 soldados inimigos, além de liderar a captura de outros 132. Virou herói instantâneo, foi promovido a sargento, recebeu medalhas e reconhecimento internacional.

Mas a experiência militar de Alvin York só foi lançada nas telas décadas mais tarde, num momento estratégico: 1941, o ano em que os EUA entravam na 2ª Guerra. O filme de Howard Hawks exalta a saga desse soldado (interpretado por Gary Cooper) de forma tão inspiradora que serviu como propaganda pró-alistamento – não foram poucos os americanos que disseram ter se alistado imediatamente após ver o filme.

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Nada de novo no front

Lewis Milestone – 1930

Nada de Novo no Front

Honra ao mérito: É inovador – Hollywood mostra o lado dos alemães, com empatia.

O russo Lewis Milestone tratou de se alistar no Exército dos EUA antes mesmo de conseguir sua naturalização. E talvez tenha sido essa condição de veterano da 1ª Guerra que lhe permitiu fazer um filme inacreditável para sua época.

O cinema mal começara a falar, e Nada de Novo no Front já nasceu como uma proeza técnica de som de bombas explodindo sem parar e cenas de uma brutalidade digna do Tarantino. Numa cena, um soldado agarrado a um arame farpado sofre o impacto de uma granada, e o que sobra é um par de mãos, sem o resto do corpo, agarradas à cerca.

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Mas não foi só a representação fiel de batalhas que deu à produção o Oscar de melhor filme. A começar pela perspectiva original do enredo: os protagonistas não são os americanos nem seus aliados, como se espera de um produto hollywoodiano. São os alemães. E eles não são vistos como psicopatas uniformizados. Pelo contrário: formam um grupo de jovens iludidos e assustados, que partem para a guerra esperando a glória de servir à pátria, mas encontram um inferno dantesco de morte, mutilações e falta de comida.

Contribui para a humanidade desses soldados que as sequências de combate sejam intercaladas com momentos de companheirismo e autoironia. Provas de que, pelo menos antes do nazismo, os alemães na guerra podiam ser gente como a gente.

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A Grande Ilusão

Jean Renoir – 1937

A Grande Ilusão

Honra ao mérito: É tão humanista que enfureceu os nazistas.

Se todos os oficiais de Exército fossem como os deste filme, os conflitos entre países não sairiam do tabuleiro de War. Nada de soldados cuspindo sangue. O que você vê são franceses e alemães se tratando como cavalheiros – obra de um roteiro marcado pela generosidade. Oficiais da França são feitos prisioneiros em um campo alemão. Lá, as diferenças de classe da vida real dão lugar à camaradagem – um aristocrata fica amigo de um mecânico. E os alemães são anfitriões bem-educados.

Numa cena em que um oficial francês não consegue cortar um bife – por causa de um braço engessado –, um alemão se prontifica a cortar por ele. O título do filme, no entanto, faz lembrar que esse campo é um pequeno oásis de respeito mútuo cercado de horror. Os franceses cavam um túnel para deixar essa prisão, mas parecem saber que, lá fora, a empatia entre inimigos não existe. E que a ideia de que o conflito nasceu para “acabar com todas as guerras” foi a ilusão que chocou o mundo com seus milhões de mortos.

Mas não aqui, no reduto fraterno deste filme. A mensagem de humanismo foi tão forte que, quando uma Alemanha sem nada desses bons modos ocupou a França na guerra seguinte, Goebbels – o ministro da Propaganda de Hitler – decidiu confiscar o filme. E chamou o diretor – filho do pintor Auguste Renoir – de “inimigo público cinematográfico número 1”.

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Lawrence da Arábia

David Lean – 1962

Lawrence da Arábia

Honra ao mérito: é o maior épico da história do cinema.

Não foram só as grandes nações europeias e os Estados Unidos que se mataram sem dó nos campos da 1ª Guerra. O conflito também envolveu o Império Turco-Otomano – aliado da Alemanha –, que ocupava parte do Oriente Médio.

O império entrou para a guerra interessado em aumentar seus territórios, e deixou a Inglaterra de cabelo em pé com a possibilidade de fechar o Canal de Suez, no Egito. A carta na manga dos ingleses foi uma figura tão excêntrica quanto heroica: T.E. Lawrence (interpretado por Peter O’Toole), um arqueólogo que também se descobriria um estrategista militar – mesmo no ambiente inóspito do deserto.

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Aproveitando a insatisfação de tribos árabes com o controle turco de suas terras, a Inglaterra enviou Lawrence para prestar apoio militar a esses grupos. Um tiro no alvo. Com seu magnetismo pessoal, o inglês se tornaria conselheiro do principal comandante árabe e líder de ataques de guerrilha contra os turcos.

À imensidão desse personagem, o diretor David Lean respondeu com o maior épico do cinema, grande até na duração: 3h36min. Uma das sequências finais envolveu 2 mil figurantes (muitos eram soldados marroquinos), montados em camelos e cavalos. E 300 beduínos foram encarregados de alisar as areias do deserto com folhas de palmeiras após cada ensaio. Arranjos impensáveis hoje, quando a computação gráfica produz multidões e apaga qualquer elemento indesejável.

Para se ter ideia do heroísmo que foi a realização do filme, numa das locações, próxima à Arábia Saudita, a temperatura era tão alta que os termômetros eram incapazes de registrá-la. Peter O’Toole teve queimaduras de terceiro grau – além de ter sido mordido por um camelo.

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Glória Feita de Sangue

Stanley Kubrick – 1957

Glória Feita de Sangue

Honra ao mérito: a guerra como um xadrez no qual os peões são descartáveis.

A melhor de todas as produções dedicadas à 1ª Guerra é obra de um especialista do gênero: Stanley Kubrick já havia filmado antes Medo e Desejo (1953), a respeito de um grupo de soldados que sobrevive à queda de seu avião em território inimigo. Depois, faria a grande comédia da Guerra Fria, Dr. Fantástico (1964), e o clássico antimilitarista Nascido para Matar (1987), seu penúltimo filme.

Mas foi com este Glória Feita de Sangue, de qualquer forma, que o diretor mudou de status, ascendendo ao panteão dos deuses do cinema – uma condição que se confirmaria com 2001, Laranja Mecânica e O Iluminado.

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O título original, Paths of Glory (caminhos da glória), é uma ironia com as decisões absurdas dos comandantes das Forças Armadas para se chegar à vitória – ou à morte em massa. Foi tirado de um poema do inglês Thomas Gray, um dos precursores do gênero gótico no século 18, Elegy Written in a County Churchyard (elegia escrita num cemitério de igreja do campo): “A ostentação da heráldica, a pompa do poder / E toda a beleza, e toda a riqueza que se deram / Aguardam a hora inevitável / Os caminhos da glória só levam à tumba”.

Mas quem é que vai à cova por essa luta? É disso que o roteiro trata. Um comandante do Exército francês, atraído por uma possibilidade de promoção, ordena um ataque suicida a uma colina dominada pelos alemães. Conquistar aquele espaço é impossível por uma série de circunstâncias, e o próprio comandante calcula, friamente, que 60% de seus soldados vão morrer na investida – isso na melhor das hipóteses. A ordem então é dada ao coronel Dax (Kirk Douglas), que logo de cara percebe a insensatez daquele comando. Como recusá-lo seria um ato de insubordinação, o corajoso Dax faz o que pode para elevar a moral de seus homens – e partir para a carnificina.

O ataque, claro, é um fracasso retumbante. Numa das cenas mais emblemáticas do absurdo daquela missão, Dax tenta convencer alguns soldados a sair da trincheira – e enfrentar a tempestade de tiros e bombas – quando seu discurso é interrompido: um cadáver de soldado abatido tomba em cima do próprio coronel, levando-o ao chão.

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A obviedade se impunha sobre a bravura. Era sair do buraco para tomar uma bala alemã na cabeça. Os que conseguiam avançar alguns metros na “terra de ninguém” (o termo que se deu na 1ª Guerra ao espaço entre trincheiras inimigas) saíam despedaçados por explosões. Nesse cenário infernal, quem pôde voltou à segurança do seu abrigo. Ou nem saiu de lá.

Se a primeira parte do filme são os conchavos políticos que levam ao combate suicida, e a segunda, a matança da batalha, a terceira é o julgamento de três soldados pela suposta covardia de não ter avançado conta o inimigo. Um verdadeiro teatro em que os generais franceses arrumam bodes expiatórios para sua própria derrota moral – e a acusação exige pena de morte, por fuzilamento. Indignado com a cara de pau de seus superiores, o coronel Dax assume ele mesmo a defesa dos militares julgados. Mas lutar contra o sistema pode ser tão difícil quanto ganhar a guerra.

Repare, nessa sequência da Corte Marcial, na inventividade dos cenários que Stanley Kubrick mostraria em outras fases. O piso do espaço é todo em padrão xadrez, simbolizando que os acusados são meros peões naquele jogo de interesses – as peças sacrificadas no tabuleiro para que outras, mais nobres, cheguem longe.

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Os generais maquiavélicos foram inspirados em dois militares de carne e osso da 1ª Guerra. Robert Nivelle, que ordenou um ataque malsucedido a posições alemãs, resultando em milhares de perdas de vidas, e Philippe Pétain (fruto colaboracionista do nazismo na França), que ordenou a execução dos soldados, quando alguns se amontaram ao descobrir que iriam para a mesma missão malfadada de Nivelle. As autoridades francesas ficaram tão ofendidas com esse retrato de seu Estado Maior que proibiram a exibição do filme de Kubrick no país por quase duas décadas.

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80 anos nas trincheiras

A 1ª Guerra eclodiu junto com o cinema – e, do filme mudo ao contemporâneo, continua ressoando. Confira 3 exemplos de épocas bem diferentes.

O Grande Desfile

King Vidor – 1925

O Grande Desfile

Contando a jornada de um playboy americano que perde a inocência na guerra, este se tornou o filme mudo de maior bilheteria de todos os tempos. E para isso contou com uma ajudinha do Exército, que cedeu 4 mil soldados e 100 aviões à produção. Tudo para tornar realista este que é um dos primeiros filmes importantes sobre a 1ª Guerra.

Pelo Rei e Pela Pátria

Joseph Losey – 1964

Pelo Rei e pela Pátria

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Após três anos nas trincheiras, vendo seus colegas serem mortos ou mutilados, um soldado britânico simplesmente se farta da guerra e resolve voltar a pé para casa… na Inglaterra. É preso, então, como desertor. Uma Corte Marcial vai decidir se essa atitude foi estresse pós-traumático ou se ele merece morrer como covarde.

Feliz Natal

Christian Carion – 2005

Feliz Natal

Franceses, escoceses e alemães entrincheirados combinam uma trégua na noite de Natal, de 1914, e celebram juntos. Alguns ficam de pileque com o inimigo, um casal de cantores líricos faz uma apresentação. E era tudo verdade: o filme reproduz uma situação que de fato aconteceu em diversos pontos do front ocidental – provando que a 1ª Guerra era mais civilizada.

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